AD-VINDO DO "ESCÁRNIO", O AFORISMO-DE VIRTUDES# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Às críticas de minha obra, Graça Fontis, Ana Júlia
Machado, Sonia Gonçalves, sinceros e cordiais gratidões pelo reconhecimento e
amizade.(Manoel Ferreira Neto)
Epígrafe:
"O outro prende(colhe, apanha) da desconfiança
mútua, do receio, da humilhação, a secreta perfídia." (Manoel Ferreira
Neto)
"Densidades e tensidades, aquando esmagam-se
conceitos e preconceitos estapafúrdios e inespecíficos às condições
humanas." (Graça Fontis)
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No meio dos homens, não posso conversar, dialogar,
calar-me, dar gemidos, uivar... seja única e exclusivamente por não ser de
índole tacanha de quem encena ser de prosopopéias, onomatopéias – a vida tenha
me ludibriado e, de súbito, me visse no meio de grande círculo e milhares de
braços estendidos a toda roda apontassem sobre mim dedos ossudos de escárnio.
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Escárnio... O que há-de sê-lo, sê-lo-á, não há como
tripudiar, engabelar, trambicar, trafulhar, trafulhir, ad-vindo do
"escárnio" o aforismo-de virtudes, inda mais dotado de humores,
implícitos ou explícitos, o que há de importância neste pormenor?, "mãos
ossudas de humores satíricos e sarcásticos", com elas, ad-versus, colherei
frutos inestimáveis. Despertou-me som colorido.
Acordaram-me cores metafóricas, metafísicas,
Se lá no etéreo dos portos onde se a-nuncia
A luz, onde se manifestam as sombras dos
tempos,
O nado branco das gaivotas fascina-me,
Estou quase estourando-me de tanto rir,
Vivo inundado de escárnios
Esses que ao vento vem
Lindas luzes natalícias.
Sinto do vento a ternura.
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Escárnio-de volúpias fúteis do ser e não ser, a
efígie da verdade.
Escárnio-de intuições soberbas da beleza das
virtudes e honras, versos melados de paixão,
Escárnio-de inspirações pernósticas da in-verdade e
verdade, prosa de razões práticas, ad-verso in totum às lições da queda fazer
com que se perca tudo o que poderia possuir no céu e agora quer adquirir outro
bem na terra.
Escárnio-de vontades da liberdade, libertinagens
sensuais do sem-limite, prazeres obtusos.
Escárnio-de desejos psicodélicos da consciência, o
que jamais nunca morre.
Escárnio-de pensamentos e juízos escalafobéticos,
morre o nunca, e não é que o jamais fique para semente, mas o jamais nunca
morre naquilo de "jamais isto", "jamais aquilo",
"jamais aquiloutro...", o elenco do "jamais" é imenso e a
história nas telinhas do mundo é muito pequena.
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O uivo será para a noite. Quando? Sentado ao
parapeito da janela, vendo o tempo armar chuva. Pingos escoam refolhados de
agouros. Vão direto para o bueiro, carregando papéis, tocos de cigarro, canetas
sem tinta, casca de fruta qualquer. Permitisse a minha condição ser carregado,
levado para dentro de mim, colocando o “mim” para fora? Não. O “si”, fora. A
luta é unir o “mim” e o “si”. Atiro patadas furibundas ao uivo. Cerro os dentes
com ódio. Calúnia. Chamo-me imbecil. A noite passada, a esposa dissera que não
devo me chamar de imbecil, as pessoas vão acreditar nisso. O ímpeto travado na
boca, reflui, enfim, vencido, julgando eu por isso que vou sossegar.
Antigamente era uma valeta e nas chuvas um córrego, fora colocado manilhas,
cobertas de terras, as margens não ficaram mais, nunca mais, atulhadas de
detritos de todos os níveis.
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Para que estou no mundo? Para os críticos terem
sempre o que destilar com o ácido condizente e percuciente, suas línguas nunca
ficarão inertes dentro da boca. São eles os culpados, responsáveis por minha
consciência, ser consciente custa muito, mas como posso tripudiar, trafulhar,
sinto um sentimento bem delicioso por essa gente indiscreta, entram na vida de
uma pessoa e não lhe dá tempo nem para fumar um cachimbo. Amo esta gente...
Todos nós ninguém, não é, minha gente?
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A morte recusa-me características. Biselou-se. Crio
estilo, a fim de destrinçar sua compreensão. Crio estética, a fim de descarnar
o nada. Crio símbolos, a fim de inserir-me na morte para não me extinguir. Crio
cenário, cujo intuito pleno de re-presentar as mímeses do riso é uma idéia sem
quaisquer sinais de delicadeza e compreensão. Se penso, sou sincero e sério,
crio até moral, embora com o conhecimento de que é fuga, medo, sentimento de
culpa. Trabalho vão. Não sou nascido crente absoluto na Moral de ovelhas. No
papel, estou isento de dores, mágoas. Indo... Adeus, nada. Adeus, biselados!...
Apodrecerei. Serei cheiro fétido.
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Se é verdade que o presente para mim é passado e, a
todo instante, reúno o passado enquanto situações e experiências vividas,
buscando con-templar o presente, e este é passado, de acordo com o que penso,
então cria-se uma tensão enorme, em consequência de querer algo realizado,
talvez com este mergulho no nada, esteja eu buscando explicar como é que desta
verdade em mim, há momentos em que sobremodo duvido disto, nasceram o cinismo,
ironia, sarcasmo em minha visão de mundo.
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Ouvira dizer, desde tempos imemoriais, os deuses
uivavam de solidão, necessitavam do amor e da solidariedade dos homens, Zeus
inda mais por se ajuizar ser o egrégio deus do Olimpo referir-se ao fato de que
ele olhava para os homens com negligência e escárnio. Ouvira alguém dizer num
sonho, estava andando no bosque no entardecer, a voz, olhara ao redor nada
vira. Morrer o que nunca passa, se o escárnio é pedra angular para esclarecer
os verbos defectivos da liberdade e consciência? Jamais... nunca passa!
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Tinha de ser tomada uma providência, antes de
levar-me ao circo, aquando era criança. Se não tomasse essa providência
específica, corria-se o risco de ter de levar-me carregado com a cabeça no
ombro da pessoa, dormindo. A cena do palhaço era sempre a última. E eu era
levado ao circo para ver os palhaços. Era necessário levar um lenço embebido
nágua para passar-me no rosto todas as vezes que cochilava. Talvez acreditasse
eu que o sono iria fazer com que o tempo passasse rápido e eu pudesse
acordar-me no momento da apresentação mais querida e estimada. Quiça cresse, o
riso é o verbo do palhaço, senhor em criar o riso, a gargalhada. O escárnio é o
verbo de mim, crio risadas, cochichos, fofocas, palavras mansas ao pé do
ouvido, crio escárnios, olhares de esguelha, polêmicas. Graças à alma - haveria
quem o contestasse?, acredito que não; pode, contudo, mostrar outro prisma de
visão -, os seres são capazes de uma atividade especificamente humana.
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Aquando esmagam-se conceitos e preconceitos
estapafúrdios e inespecíficos às condições humanas, à luz da soberba cegueira
do que é isto "... esmagar conceitos e preconceitos
estapafúrdios...", balançando o leque com todos os gestos e performances
dos bons princípios e etiquetas, o outro prende(colhe, apanha) da humilhação, a
secreta perfídia, um pouco de mim algures, uma nesga de mim alhures, nos vidros
de loção o frescor da memória.
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O absurdo maior não é morrer. Sedes esgalgam ventos
a trancafiarem loucuras ensandecidas. À miséria e corrupção, de últimas
palavras, cálices trancam cinzas processadas de carne humana. Tragédias e
farsas de identidades enjaulam sons res-valados até ao derradeiro delírio.
Tragicomédias e hipocrisias de conceitos e definições absolutos imiscuem-se no
"vago" dos lotes, no baldio dos terrenos. A língua ininteligível
encarcera amores, mesquinhas infâmias. O outro prende da desconfiança mútua, do
receio, da humilhação, a secreta perfídia.
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Creio que inda estou conseguindo seguir o que
significa o entrelaçamento de nossas epígrafes, o que desfruto delas no
concernente à condição, sempre mostragem e demonstração de ser o homem um
animal ridículo e que claudica as mediocridades. Não me julgais negativo,
minhas idéias são bastante melancólicas e nostálgicas, é o que sinto cada vez
mais forte no crepúsculo sentado na praia observando o horizonte, o mar.
Imagine nós nesta barca atrás de nós, atravessando o mar, trocando idéias sobre
a condição humana.
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Embora toda a angústia, preciso continuar os passos
de lagartixa à busca de um bichinho que mate a fome. Até chegar a hora de
encerrar-me no buraco redondo da parede.
(#RIODEJANEIRO#, 28 DE JULHO DE 2019)
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