**MANOEL FERREIRA NETO - CRÍTICO PEQUENÁRIO DO NADA** GRAÇA FONTIS: IMAGEM Manoel Ferreira Neto: PROSA
..... Fez-me tão pequeno que a grandeza disto se
faz presente a todo instante, pequeno para sempre, mas de cabeça erguida,
orgulho resplandecendo sob todas as luzes do que mais pequeno que a vida, o
sorriso aberto, ser pequeno é grandeza, sinto-me na vida, percebo o que se
revela acima, nem precisa subir degraus de escada. Sem juízo, o orgulho, ser
pequeno abre-me as cancelas das estradas sempre de poeiras por que trilho.
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Ademais, não será necessário trabalho árduo para
cavar a sepultura, os coveiros não vão verter suor contundente, não vai gastar
muito espaço, o caixão também será pequeno, as cinzas misturadas na terra serão
poucas, não enchem um copo francês. Na verdade, aventura de um ser tão pequeno
não cria paixão, não in-venta idílios, não deixa traços, marcas, nem sente a
ventania das alegrias, felicidades que tocam a carne, seduzindo os sentimentos,
seguir a jornada passageira, fugaz, efêmera. No além, o espírito menor ainda
não vai preencher muito espaço. Inverno de pensamentos, ideais, primavera de
idéias, utopias. Não há saudade, melancolia, nostalgia do tempo que fui grande,
tive de abaixar a cabeça passar nas portas.
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Esperanças e sonhos de na continuidade do tempo
permaneça pequeno, assim é a minha vida, fora-me dada para honrá-la, dignificá-la,
reconhecendo com ideoneidade o nada ser dez centímetros maior que eu. Na tarde
pálida de inverno, sequer possível tocar as folhinhas do pé de pitanga. Ser
pequeno não sente calor, não sente amor, ainda bem porque não é necessário
padecer pelas coisas que a vida oferece.
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Aliás, não sou poeta, não faço de versos e prosas
grandezas, alturas, as palavras seriam pequenas, bem menores que o ser pequeno
que sou.
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Cometi todos os erros, enganos, equívocos, mas este
de poetizar, versificar, versejar para fugir à minha pequenez, isto não fiz,
mesmo porque encontrar palavras para conversar com as pessoas não é fácil,
minha alma é menor que eu. Amar, viver um grande amor, tocar a felicidade,
alegrias, como quem toca, acaricia um objeto íntimo, aquele por que traz
sentimento ininteligível.
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Não amei, não tive amores efêmeros, voláteis,
volúteis, para justificar o tamanho mínimo de minha vida. Em todos os níveis
sempre pequeno. Acredito que a vida mesma, em si mesma, pena, sina, saga,
sente-se frustrada, decepcionada, fracassada por ser eu vida, por ser tão
pequeno. De joelhos aos pés do paráclito numa Basílica, Santuário,
Santuário-basílica, jura jamais dará a luz até a consumação dos tempos, não
dará a luz a outra vida como a minha, rasga os verbos na cara herética de Deus.
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Pode a vida sentir-se decepcionada comigo, mas vou
seguindo a estrada, não trago em mim sonhos, esperanças, fé, utopias, o pequeno
é o meu sorriso, o meu riso, as minhas lágrimas sinceras e furtivas, seguindo o
padre sábio de um aldeia ou arraial o paraíso e para os humildes e pobres, não
para um homem tão pequeno como eu, é até para os milionários, poderosos,
doutores e mestres em universidades e faculdades, menos para um Mané da
pequenez.
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Já ouvi dizer que Deus é cinico, sarcástico,
irônico, pois dá a luz aos canalhas e idôneos, pulhas e dignos, perfeitos,
lindos, maravilhosos, inteligentes, no que transcende a mim, dizendo-me
respeito e tangência, Deus mostrou a sua verdadeira face, indo além de tudo,
mostrou a perfeição do pequeno.
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Amanhã, no mais tardar mais-que-longínquo, estará a
minha vida de pequeno de por baixo da terra. Deus tomará vergonha na cara e não
dará a luz a um homem tão pequeno como eu.
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Vou fumar uma bituca de cigarro, o pulmão precisa
só de pouca nicotina nele, antes que a minha voz se cale.
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Pequeno. Pequeno. Pé Grande. Minha mãe jaz numa
sepultura, nesta em cujo mármore de sepultura estou sentado, tendo sofrido o
diabo que o pão amassou, mas seu maior sofrimento foi gerar um homem tão pequeno,
tão nada, tão vazio, e hoje somos sete, éramos oito, todos felizes e
realizados.
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- Mãe, no meu casebre nem me caibo direito, menor
que eu, a miséria é o pretérito, presente e futuro de meu nada."
Sou pequeno, não tenho palavras, mas neste pergaminho
do verbo do nada de mim, este que agora derrama lágrimas alegres por ser ser,
rebeldia e revolta, arrasto-me nas sarjetas de todos o tempos... pequeno para
sempre...
#riodejaneiro#, 22 de julho de 2019#
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