PREFÁCIO DO LIVRO /**O LADO OCULTO DA EMOÇÃO**/
No espelho reflete a imagem. O rosto nele
re-fletido é a verdade de quem a pro-jeta? Ou é apenas a re-pres-ent-ação da
identidade, de quem se é? Mas é o rosto, a face, que re-vela a verdade do ser?
Ou é o mergulho na alma, trazê-la à superfí-cie que a-nuncia o ser da verdade
da id-ent-idade?
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O lado oculto da emoção, antologia de poemas de
Joel Magalhães e Júlio di Paula, são duas imagens pro-jetadas no espelho do
uni-verso poético, da querência de re-velar os hori-zontes da sensibilidade que
habitam os inters-tícios da alma, id-ent-ificarem a eid-ética da personalidade
e caráter do verbo de ser, a poesia no seu cerne de busca da trans-cendência
espiritual. Duas faces bem diferentes,
características sensíveis e con-tingenciais
ad-versas, di-versas, trazendo em si o desejo e vontade de mergulho na alma do
espírito poé-tico, no espírito da alma poética. O lado oculto da emoção é
dividido em duas partes: primeira, traz ela os poemas de Joel Magalhães, na
segunda, os de Júlio de Paula. O interessante a ser sublinhado e ressalvado que
os dois poemas de início carregam nas algibeiras o supremo questionamento da
contingência da vida. “O FIM... OU O começo?”, Joel Magalhães. O fim é o início
do começo, término de um tempo, alvorecer de outro, o ad-vir. O começo é a
jornada para o fim, contingências de buscas, de encontros, de dores,
sofrimentos, irrealizações, frustrações, decepções, permeadas de sonhos,
esperanças, fé, o eidos para o ser-para o verbo de ser. No “mistério do
amanhã”, treva do ad-vir, o homem se aflige, “indigna-se e perde a sua força”,
mas precisa se pro-jetar, criar-se, re-criar-se, inventar-se para seguir a
jornada rumo ao verbo de ser, e isto só é possível através das três pedras
angulares da vida, sonho, esperança, fé, que são re-presentadas poiética e
poéticamente neste verso final do poema: “Mas precisa de humildade para ser
salvo”: a “humildade” é metáfora do estar aberto, con-sentindo os novos
horizontes e uni-versos se a-nunciarem, re-velarem, mesmo com outras
contingências, contradições e dialéticas. No poema “TRABALHADOR”...
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O ser se revela no tempo. Se o Ser se faz
continuamente, a continuidade é também o Ser. Nas contingências, contradições e
dialéticas, vai-se construindo o Ser. Então, Joel Magalhães neste verso “O
tempo vale ouro” identifica o fim e o começo, dimensões do tempo, com a busca
do ser, caminho de trabalho, de labutas árduas, o suor das contingências
escorrendo na face, quase nunca se relaxa e pessimamente se dorme. O ser-para o
verbo se faz no trabalho, de sendo em sendo nos caminhos do campo vai se
elaborando, construindo-se. No poema “VIDA ABERTA”...
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Mister permitir-se, consentir-se, aceitar-se a
abertura para o silvestre das flores, a caminhada de dores, sofrimentos,
buscas, querências, desejâncias. “Os rios desembocam-se nos mares; As rosas
desvirginam-se na primavera...” O cerne existencial desemboca-se no verbo, o
verbo existenciário desemboca no ser. A obra poética de Joel Magalhães é
reflexão dos caminhos da existência, suas contradições, dialéticas, permeados
das experiências e vivências. Transcende-se, quando o poeta em “APOIO MORAL”
poetisa “Viver em todos os sentidos”. É vivendo em todos os sentidos que a
espiritualidade se a-nuncia, revela-se, a poesia em-si mesma espiritualidade, é
realidade do trans-cendente. Em “MEDITE”, primeiro poema de Júlio de Paula, a
identificação das duas faces poéticas que se projetam no espelho, na desejância
do encontro da imagem poética da vida. Joel Magalhães, no primeiro poema,
questiona o “Fim” ou o “Começo”, nas contradi-ções e dialéticas da vida,
reflete a contingência. Júlio di Paula neste primeiro poema reflete as
contingências da alma, tristeza, angústia, vazio, nada, solidão...
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Enquanto Joel Magalhães a-presenta o
questionamento, Júlio di Paula transcende a a-presentação, apesar de na mesma
perspectiva do ad-vir, mas na dimensão já da espiritualidade, mas tecendo o
verbo do Ser: “Viva a vida... pois amanhã virá”, verso significativo deste
poema de início. Joel Magalhães reflete em viver a vida em todos os sentidos,
enquanto Júlio de Paula reflete viver a vida, isto é, para o primeiro na vida
habita sentidos, para o segundo a vida não tem sentidos
pré-determinados, simplesmente é vida pura, é no
tempo que os sentidos vão sendo a-nunciados e re-velados. A trans-cendência à
espiritualidade se revela poéticamente e não vivenciária apenas,
vivenciariamente as dores e sofrimentos para esta suprassunção se apresentam
contundentes.
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A poiética do verbo de ser, com a vida sem sentidos
pré-determinados, mas simplesmente vida, se real-iza livremente. Mas qual(is)
caminho(s) do campo a ser trilhado para o con-sentimento de não haver sentidos
pré-determinados na vida, simplesmente vida. As reflexões de Júlio de Paula
traz em si a dimensão da espiritualidade, ou seja, os homens nascemos com ela
nos habitando. Este verbo nos habita desde a eternidade à eternidade, e no
tempo vamos elaborando, burilando de sendo em sendo, através dele vamos nos
criando, re-criando, inventando. “Sinto em meu coração/A beleza do
existir/Sinto que o amor/É como um sentimento/Que nasce e renasce/A cada
momento”, estrofe do segundo poema, “AMO”, de Júlio. Podemos aqui estabelecer a
comparação. Para Joel Magalhães o verbo de ser da contingência se faz
continuamente, nos sentidos que a vida traz em si: “Se o Ser se faz
continuamente, a continuidade é também Ser”, enquanto que para Júlio di Paula o
ser da espiritualdade se faz continuamente, através da vida que é vida pura,
através do Amor: “Se o Amor se faz continuamente, a continuidade é também o
Amor”.
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O Amor nasce e renasce a todo momento, faz-se,
refaz-se, cria-se, re-cria-se, inventa-se, re-inventa-se, o Amor é o caminho de
suprassunção das contingências, pois que ele é puramente espiritualidade. O
supremo questionamento não poderia deixar de figurar nesta algibeira do Amor.
Saber, reconhecer, ter a consciência de que o Amor é a pedra angular nos
caminhos do campo para a suprassunção da contingência não é o suficiente. O
amor habita o homem desde a eternidade à eternidade. Mas quem é o homem?
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Sendo assim, a reflexão de Júlio di Paula: quem é
ele: “Quem sou”, terceiro poema da obra: “Pois sei que sou vida,/vivo e não me
intimido/Diante da vida, que incógnita, vivo...vivo”. Ele é vida, o homem e
vida. A vida é incógnita, mesmo assim, diante dela, ele vive..., vive, o homem
vive... vive... Se o Amor habita o homem, se o Amor é dimensão da
espiritualidade, a vida é vida pura e simplesmente, e na pureza e simpleza da
vida as sendas e veredas do silvestre da floresta do verbo-para o Ser, do verbo-para
a Espiritualidade se revelam, torna-se a carne do Espírito, torna-se a carne da
Divin-idade. A poiética da vida se faz no Amor que transcende a poética das
contingências.
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Nesta dimensão de nossas considerações no tangente
a esta obra poética, REFLEXÕES, de Joel Magalhães e Júlio di Paula, dividida em
duas partes, isto é, Contingência e Espiritualidade, se projetam no espelho
Uno-Verso, comungam-se, sintetizam-se, a face é uníssona, o verbo do ser, o
verbo da poesia e da poiética do ser.
Manoel Ferreira.
Ensaísta, Crítico Literário, poeta e escritor.
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