#CORTEJOS SONOROS DE SEDA# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA METAFÍSICA
Epígrafes:
"Nas adjacências em que Só o olhar explica-se
há-de se adjetivar o subjetivo na explícita verbalização." (Graça Fontis)
"O verbo dos ócios se tornou osso impotente de
ser cinza ao longo das regências que figuram as imagens estilísticas."
(Manoel Ferreira Neto)
Ressumbram-se a brisa noctívaga, o chuvilho
vespertino, o que houvesse de místico nos pensamentos e idéias, nas utopias da
efêmera verdade, o que houvesse nas volúpias plenas da metafísica, aquele
instante-limite de delírio, desatino, devaneio em que nonadas e travessias
sintetizadas tecem, crocheteiam, performam o além, adornam re-trospectivas,
con-templação do panorama e paisagem das "cositas" uni-versais, que
carecem de princípios a fundamentarem a liberdade de palmilharem os séculos
vindouros e lhes iluminarem com êxtases, clímaces?
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Por que a intenção de silenciar o silêncio, se não
se lhe ausculta o som metafísico do tempo e dos ventos, metafórico do não-ser e
das garoas, se não se lhe sabe ritmar os sentimentos que concebe da solidão,
melodiar a lírica que regencia as utopias e sonhos da verdade, musicalizar os
parágrafos que gerenciam as estruturas e formas verbais da imanência? O que se
des-atou num só instante não cabe no infinito. O melhor seria vis-à-vis-lumbrar
os inter-stícios vazios da alma, onde o nada devaneia e pervaga, re-colhendo-o,
a-colhendo-o, tornando-lhe auto-vácuo eivado de frivolidades, no vácuo da alma,
mesmo sem ins-piração, sem dons e talentos, quiçá sejam diligências a glória e
o esplendor, carruagens o poder e as sombras.
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Tome-se meia dúzia de despeito. Acrescente-se uma
dose de margarina do ciúme. Adicionem-se sete gramas de polvilho da inveja. Coloquem-se
três ovos de codorna, uma pintada sutil de malagueta. Agite-se com a mão da
incapacidade. E dê de três em três horas marcadas no relógio de um ponteiro só,
cujo pendulum desliza lentamente de um lado para outro sem emitir qualquer som,
as horas voam. Excelsa receita para criar a alma de que o corpo está carecendo.
Rola a falácia de que só no instante do nascimento a alma entra no corpo, no
momento da morte esvaece-se. Miríades ondulantes resvalam os instintos na linha
da iniquidade, ruminam a voz esganiçada da falsidade, da farsa, do preconceito,
da hipocrisia...
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O silêncio é o que é: sente-se-lhe, ouve-se-lhe,
vive-se-lhe, põe-se-lhe em questão, a liberdade anuncia-se plena e o destino se
faz, constrói-se, institui-se, enveredando-se pelo justo valor de existir, pela
ingratidão do inevitável que em completo desvario ronda nas cavernas de que os
instintos possuem a esquiva rota. Imagens trêmulas de expressão passam em
cortejos sonoros de sedas, sons que vibram solenes e agudos e não ec-sistem cordas
a movimentar-lhes.
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Divas esperanças das sorrelfas perenes de
plen-itudes e sublim-itudes, horizontes e uni-versos mergulhados nas trevas
mais-que-perfeitas do nunca que é um tempo longínquo demais, se se realiza, é
que o subjuntivo do vir-a-ser enovelou-se com o particípio do passado entre a
náusea da contingência e as ipseidades do livre-arbítrio, nas brumas gerundiais
enoveladas de particípios do imortal que é um tempo sem limites e fronteiras,
se se ressuma, é que as declinações não se prestam a estabelecer a alma da
morte, os genitivos não re-leem a sem-palavra dos causos que o entendimento não
alcança, o espírito de morrer entre o gosto da reverência ao destino
pre-determinado da promessa da ressurreição e glórias de prazeres e felicidade
indizíveis, inenarráveis, indescritíveis, por tudo que se encontra por todo o
horizonte, entre a crença de que só o que pode ser visto e sentido está claro e
explicado, o que não pode sê-lo é motivo de escárnio e negligência.
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Ao léu do efêmero, o orvalho da madrugada para
respingar-lhe com ternura e carinho de moléculas indicativas do jamais
perfeito, mesmo na consumação dos verbos, no alto da montanha o catavento
inerte, lobos uivando à mercê da neblina gelada, é no lobo que ec-siste o que
sou, o que sobro, a coruja muda toda encolhida na galha da mangueira, o inverno
está de lascar os ossos, sensação de quarenta graus abaixo de zero, carece-se
de lenha norueguesa para esquentar a carne, do in-finito a roda-viva das
etern-itudes à espera do incognoscível e in-audito para esplenderem o absurdo.
Ando perquirindo a rocha imperativa, e a tudo me lanço, nesse quando alvorece
frescor de coisa viva.
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Uma semente engravida a manhã, é o dia se
anunciando. Origens e gênesis do ad-verso pers-versando as linhas fronteiriças
das ausências e carências do nada vazio de pectivas, do vazio nadado de prismas
e ângulos, da nonada náusea, das angústias sarapalhadas nos lotes vagos de
liberdade e vontade de artificiar a consciência e o ser.
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Estilizo o não-dito à moda da sempre-viva chama,
não perceptiva, tão mais devastadora, lavrando traços cômicos, de uma a uma,
disjecta membra, deixando inda palpitantes e condenadas, no solo ardente,
porções de minh´alma. Nada lhe peço, manhã invernal de julho, senão que
continue, no tempo e fora dele, irreversível.
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O verbo dos ócios se tornou osso impotente de ser
cinza ao longo das regências que figuram as imagens estilísticas.
#riodejaneiro#, 20 de julho de 2019#
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