**BRUMAS DE POR BAIXO DAS PINGUELAS** GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA
----
POST-SCRIPTUM:
Este texto foi inspirado na Peça de Pintura, especificamente no "OLHAR DE
ESGUELHA" da adolescente da pintura, que o ornamenta, da Pintora e Poetisa
Graça Fontis: "... olhos distantes e sobremodo indiferentes, alheio a
quase tudo, carregando-me para um horizonte sem distâncias e proximidades,
talvez também a puxar-me para baixo."
----
Ideais...
----
Assim
caminhará a humanidade ao longo do tempo, pretéritos e presentes são
melancólicos outroras, a nostalgia do futuro são as pérolas da eternidade,
representadas pelo sublime do desejo, humildade da razão, simplicidade da
esperança.
----
Morte...
----
Quem
sabe se os olhos desaprenderam de aprender a poesia, iluminando-lhes a retina
na visão do leito de antiqüíssimas sentinelas, e tudo o que necessitam
contemplar é a poesia que torna o íntimo acessível aos desejos de mergulho nas
palavras! Quem sabe!
----
Devaneios...
----
As
ondas, que lambem as margens, do rio de águas límpidas a que me referi faz
algum poucochinho de tempo, e de vossa atenção, sejam ondas estreitas ou
longas, levando-me alhures, deixando-me com os olhos distantes e sobremodo
indiferentes, alheio a quase tudo, carregando-me para um horizonte sem
distâncias e proximidades, talvez também a puxar-me para baixo.
----
Ideais...
----
Se
algum dia mergulhar plenamente, em toda a essência do ininteligível, pleno,
destituído do nada, des-provido dos vazios do efêmero, omnipresenciarei o
alvorecer, amanhecer do vulcão das verdades todas em síntese, concebendo e
a-nunciando o som, a música, o ritmo, o acorde da dialética do símbolo e signo
do sublime, do homem sublime que con-templa a templ-itude do tempo à luz
fosforescente da verdade aberta às travessias do tempo e do ser.
----
Solen-itudes,
Serenidades
Templ-itude.
Con-templ-itude
Solenes
-----
Cinzas
do tempo eterno sarapalhadas no solo, nas pre-fundezas do inconsciente, pós de
letras e giz no quadro-negro. Re-nascimento. Outrora de pretéritos perenes
con-solidando de semântica dos ideais de perfeição, essência da plen-itude,
circunscrevendo de utopias idéias e pensamentos, cujas linguísticas
con-ting-entes eram do silêncio a indiferença com as náuseas, a negligência com
as ipseidades, facticidades, a solidão do solipsismo, endossando de
significantes apocalípticos dos sonhos de imortalidade, eidética da
sublim-itude, pers-crevendo de epígrafes versáteis e versejantes, epístolas e
epitáfios verdejantes, cujas metáforas do além e confins eram da solidão a
katharsis do efêmero em cujo berço das volúpias voláteis dormia o sono da
inconsciência desejando o manifesto dos mistérios nos cofres dos séculos
guardados, acumulados, nas pandoras do in-audito aguardando o instante de
libertação. A sabedora não é acúmulo de conhecimentos. A vida circunvagando,
pervagando no tempo, nas trevas e crepúsculo do nada que renunciava, rejeitava
prepotente e orgulhoso ser o mov-ente para a jornada ilimitada à busca da verdade
do verbo "ec-sistir", sistere do vazio no ínterim do amor e ódio, ao
verbo e carne do substantivo e ossos, das figuras de linguagem e estilo e o pó
remanescente da matéria corpórea do estar-no-mundo, equilibrando-se no trapézio
das glórias e fracassos, da plena saúde corpórea e a doença da alma culpada de
seus pecados fundamentais e capitais, arrependida e ressentida com os
mefistofélicos in-auditos.
----
Não
adianta qualquer sonho ou esperança de o além velar os subterrâneos, cavernas,
grutas, abismos, até mesmo a bruma de por baixo das pinguelas, se os olhos do
olhar não trans-cenderem o in-finito do horizonte paraclitizado de liberdade e
desejo do perpétuo, se as retinas e pupilas da visão não meta-incindirem suas
imagens infinitivas no universo evangelizado da consciência e responsabilidade
com o que há-de humanizar os sentimentos e emoções do amor-cáritas, a
serenidade de espírito.
----
Alegria.
Contentamento.
Felicidade.
Restros-pectivas
De
tempos inesquecíveis,
Inomináveis,
inauditos.
Sublim-itudes,
sublim-idades
Sublimes
----
Alvorecer
de espectros perspectivados de luzes diáfanas, iluminando de pensamentos da
liberdade as idéias, do tempo as utopias do ser da verdade que perpassa
horizontes e uni-versos, finitos e in-finitos, confins e aléns, arribas e
aquéns solsticiando as re-vezes das dialéticas, os viésis dos nonsenses, os
re-versos das contradições, nada e vazio vagueiam nos liames da alma e
espírito, assim caminha o ser subjuntivo do verbo literário da gnose
----
Peren-itudes,
peren-idades
Perenes
Tu, ar
que me dás o alento e o desalento para falar – há quando percebo as palavras
que pronuncio, os gestos, assustando-me por não dizerem o mínimo do que está a
perpassar-me o íntimo, âmago; clamo pelos gestos e palavras que, juntos,
mostram o que me vai dentro.
----
Vós,
objetos que, do disperso, tirais os meus desígnios e lhes dais forma ou
des-forma – e vejais desde já que antes não estava a vos dirigir a palavra, são
objetos, e quem lhes dirige a palavra muito bom da cabeça e dos pés não deve
estar, isto se já não está muito dispersa e confusa, pés sem rumos e becos,
confundindo alhos com bugalhos; dirigia-me aos humanos.
----
Tu, luz
que me envolves inteiro em seus raios, inda mais quando incidida em cristal de
águas, e a todas as coisas com as tuas delicadas e igualitárias ondas.
Caminho
por corredores estranhos e mofados. Algumas lembranças vazam pelos cantos,
dando um travo, apertando até ficar mais sensível a alma. Afasto estas
lembranças para poder seguir, importa isso, importa seguir, mas para onde?
----
Um
olhar dentro que sempre me faz arrepender de não haver dito as derradeiras
palavras nesta ou naquela situação, o gosto desenxabido de letras e acentos,
regras e exceções, regências e concordâncias. Principalmente do que não
gostava. Arrependo-me do que não gosto, não trago dentro qualquer admiração e
reconhecimento.
----
Perpetu-itudes,
perpetu-idades
Perpétuo
Crepúsculo
de contingências da solidão incondicional entre o sentimento da a-nunciação do
desejo e a emoção frígida da nonada habitando profundo a sorrelfa do paraíso
perdido, o sol também acorda, levanta, brilha, após dormir de conchinha com a
lua, soninho gostoso, leve como a pluma da leveza, como a insustentável leveza
do ser, de conchinha e pés entrelaçados, hein, leve, muito leve o sono da
noite.
----
Re-vers-itudes,
re-vers-idades
Re-versos
Angústia...
O resto é silêncio...
----
Silêncio
re-fletido atrás do espelho da solidão, a imagem límpida de perspectivas
re-velada nos auspícios da luz, ribalta do absoluto, tablado do vazio, camarim
de travessias, cores e arte fazem a face simples da nobre imortalidade.
----
Volúpias.
Êxtases. Sou o que não sou e não sou o que sou. Efemerizo o ser de mim.
Absolutizo o não-ser para verbalizar a esperança e sonho da vida que se olha e
sente o olhar do além sob a querência do vento sibilando desde o eidético
crepúsculo do abismo aos auspícios poiéticos do celeste em cujo espaço
perambulam e vagam soltos e livres...
----
São
sílabas, alimentando palavras, com a sutileza dos raios que iluminam a terra
inteira, havendo algumas sombras, o que é inteligível de todo, não fossem as
brumas como seria possível a sombra minha refletida nas ruas de pedras, abaixo
delas correntes e algemas, tantos esquecidos em seus grilhões, não sendo de mim
que as línguas são imperfeitas para que a beleza, a estética, sustentadas por
algo de divino que em mim poeticamente reside, e para que, a miúdo de respostas
e imagens e amiúdes, quem sabe desafiando a alma irascível, isenta de si.
----
Abrindo
o portão de minha residência, passando, dou rédeas às saudades para o
esquecimento, prostrado às mãos ausentes, embriago a perda de memória e arranjo
no baú logo uma lembrança, e, então, suspiro, espero, olho de esguelha as
coisas do mundo.
----
A
própria feição, desejo que não sejam das palavras, do estilo, e sim da luz e
das águas, o reflexo e o resplendor que deixa à superfície do rio é a de um ser
acima do ser que dá o ser a todas as coisas, a Liberdade de Olhar.
#riodejaneiro#,
31 de julho de 2019#
Comentários
Postar um comentário