#DOSTOIÉVSKI E A DIALÉCTICA DA VAIDADE# IMAGEM ESCOLHIDA NO GOOGLE Manoel Ferreira Neto: TESE EM DOSTOIÉVSKI: "ESPÍRITO DO SUBTERRÂNEO
POST-SCRIPTUM:
A tese de minha autoria ESPÍRITO DO SUBTERRÂNEO, análise da obra completa de
Dostoiévski, fora escrita em 08(oito) anos, somando 867 páginas. Aqui está um
pequena de-monstração.
O capítulo
II da segunda parte de Memórias do subterrâneo(O Homem do Subsolo) coloca em
relevo, finalmente, o verdadeiro alvo da sátira de Dostoiévski. Afinal
descobrimos – é claro que na forma de uma caricatura cuidadosamente distorcida
– o que o homem do subterrâneo esteve lendo nos livros que julga tão importantes.
Aqui ele assume os traços do “sonhador” romântico que Dostoiévski retratara em
suas primeiras obras e cujas fantasias literárias haviam sido comparadas com as
exigências morais e sociais da “vida real” da qual tentara refugiar-se.
Observamos o
que acontece, quando, esgotado pelos vaivéns da dialética da vaidade, o homem
do subterrâneo recorre “a um meio de fugir que conciliou tudo”, ou seja, quando
descobre “um refúgio ´no sublime e no belo, em devaneios.
A dialética
da vaidade se compara à dialética do determinismo na primeira parte e tem o
mesmo efeito de emparedar o ego num mundo alienado de todo contato humano.
Assim como o determinsimo dissolve a possibilidade de reação humana na primeira
parte, do mesmo modo, na segunda, a vida bloqueia toda fraternidade social.
Vez por
outra, Dostoiévski enfatiza as conexões entre a dialética da vaidade na qual o
homem do subterrâneo está preso e sua cultura intelectual.
Um homem
culto e decente não pode ser vaidoso sem estabelecer um padrão excessivamente alto
para si mesmo e sem se desprezar, em determinados instantes, a ponto de
odiar-se .
Impregnado
como estava da cultura européia popular na Rússia nos anos 1840, fica claro que
o homem do subterrâneo perdeu qualquer capacidade de mostrar um sentimento humano
simples e direto para com os outros. Ao invés disso, sua vaidade e senso de
importância ficaram inchados a tal ponto que perderam a proporção com sua
verdadeira situação social; e “os conflitos gerados por essa discrepância
fornecem um equivalente cômico da guerra fratricida de todos contra todos"
(aspas nossas”), que, na sociedade da Europa ocidental, tem origem na
predominância do princípio do individualismo egoísta.
O “Homem do
Subsolo”(Memórias do Subterrâneo) não só absorve todos os possíveis traços
estáveis da sua imagem, tornando-os objeto de reflexão (a interveniência
reflexiva tem também o sentido de sustentar a arquitetônica da narração,
mantendo a unidade da diversidade e indicando que a significação de cada parte
e de cada evento depende da totalidade descrita de forma temporal); nele esses
traços desaparecem, não há definições sólidas, dele nada se tem a dizer, ele
não figura como homem inserido na vida, mas como sujeito da consciência e do
sonho.
Para o
próprio autor, ele não é agente de qualidades e propriedades que podem ser
neutras em relação à autoconsciência e coroá-la; a visão do autor está voltada
precisamente para a autoconsciência e para a irremediável inconclusibilidade, a
precária infinitude dessa autoconsciência. Por isto, a definição
caracterológica-vital do “homem do subsolo” e o dominante artístico do seu
modelo fundem-se num todo único.
(**RIO DE
JANEIRO**, 11 DE ABRIL DE 2018)
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