#COMENTÁRIO HISTÓRICO# João Carlos de Oliveira: CRÍTICA FILOSÓFICA
Post-Scriptum:
Na mesma
época em que colocara esta tese em mão de Rodrigo Dias, filo com João Carlos de
Oliveira. Seis meses após, convidara-me ele para ser seu ORIENTADOR na
Monografia Sobre Sartre, para receber o Canudo do Curso de Filosofia, iniciar
seu Curso de Teologia, tirando 10 e menção honrosa pela Banca Examinadora.
Assim tecera
a sua crítica filosófica a respeito de minha tese.
Manoel
Ferreira Neto
Chamou-me a
atenção neste trabalho – “SARTRE À LUZ DA EXPERIÊNCIA MÍSTICA” – é que o autor,
Manoel Ferreira Neto, tenta fazer uma ligação do ente ao místico. Mística que
está imbuída mesmo no pensamento filosófico, na qual nós fazemos uma repulsa à
mítica neste tipo de pensamento, pensando nós, não haver tal situação no
contexto filosófico. O autor tenta demonstrar o contrário, percebendo haver nas
entrelinhas das palavras do filósofo francês Jean-Paul Sartre uma “experiência
mística”. É perceptível um retorno à mística; aqui, de forma especial partindo
da filosofia.
A mística
hoje é notável, está démodé – deixada de lado mesmo. O homem não é apenas uma
vivência material, mas também busca na categoria extramundana um sentido
daquilo que se vive.
Passos em
revista o contexto em que vivemos para acenar a ruptura que ocorreu na
história, qual o homem está ligado apenas no aspecto intramundano desvencilhado
de uma “experiência mística”.
A
caracterização do estádio em que vivemos e do legado que trazemos do período
moderno, sobretudo dos séculos XVII e XVIII, são marcados pela razão e
liberdade. O que estava – e está – em voga é o experimental e racional. Coloca
no indivíduo o critério da verdade, rejeitando aquilo que o transcende; todo
acento recai sobre o indivíduo. A fundamentação deste pensamento moderno está
em franquear ao indivíduo e/ou este se achar na plena auto-suficiência e
confiando nas próprias capacidades. A tentativa de desvencilhar de um passado
para dar espaço a uma nova era, com uma tendência de uma constante busca da
verdade, não de uma verdade imóvel como no passado que o homem sujeitava. O
propósito agora é colocar o primado do “vir-a-ser” sobre o “ser”; da “potência”
sobre o “ato”.
Na autonomia
do homem moderno, não é raro pensar que não há necessidade de uma salvação que
vem “do auto”, pensar que é capaz de conquistar sua felicidade, descobrir a
verdade e perseguir no bem, em que triunfará a razão e implantar-se-á o que for
de exato.
O homem está
como que colocado no mundo e a mercê de sua própria sorte, pois é refutada toda
intervenção sobrenatural no mundo e qualquer forma que sirva como mediação
entre o homem e Deus, e o homem é guiado eticamente pela exigência da razão e
de sua vontade. Chega a ponto de afirmar que tudo acontece sem a intervenção de
Deus; este que com um impulso colocou o universo em movimento depois se retirou
na inatividade, a fim de que suas criaturas possam, com plena liberdade,
desenvolver sua obra com melhor entendem. Tudo o que está fora do contexto
intramundano é visto, muitas vezes, como obstáculo à evolução do homem e da
sociedade. Daí o espírito anti-místico que prevalece neste estado de coisa que
o homem criou é como que um frio cálculo da razão crítica.
Portanto, o
predomínio da razão na vida individual e coletiva dos homens por sua autonomia
livre de categorias místicas e toda uma sociedade – as cabeças pensantes –
participa das discursões sobre os assuntos em questão. Há uma refutação dos
sistemas estabelecidos que pregam uma mística e simultaneamente uma
corroboração das análises críticas.
Se é
relegada toda uma ortodoxia e é colocado em xeque os mistérios – a mística,
onde Deus só participa da criação e está agora bem distante do quotidiano dos
homens, não há lugar neste mundo para qualquer experiência mística. A idéia de
divindade é mantida e defendida apenas para garantir a moralidade na vida
social – e nada mais. A vida do homem que era antes cadenciada segundo a
vontade de Deus, agora está no compasso da autonomia, da razão da liberdade e
vontade.
É dilatada a
confraria – na era hodierna – secularista e de seus membros que são verdadeiros
arautos da autonomia humana, enquanto que as manifestações místicas são
suplantadas e contestadas, estando sujeitas à críticas racionais. Mística esta
que não impressiona mais, entrando no rol da supressão. O que fala mais alto é
a secularização em “ato” na sociedade de hoje, que foi outrora potência, ou
seja, uma nova apreciação das realidades terrestres junto com uma confiança
quase ilimitada nas capacidades naturais do homem.
As massas
ficam, em primeira instância, alheias a este tipo de pensamento, mas no
decorrer de sua vida se vêem bombardeadas por este pensamento externo e acabam
tomando para si, paulatinamente, tal espírito de um homem novo em vias de
secularização e sua “razão” tornar-se-á em sua própria vontade – a consciência.
Esta se dá como uma lei própria de justiça e verdade, à base da qual se julgam
suas ações e as dos outros como sendo boas ou más, não obstante, seus
princípios pessoais. Aos poucos a refutação à mística vai tomando campo na
mente das massas.
Com este
ofuscamento da mística chegou a tal estágio que se apresenta como um tempo de
“crise”, onde muitos homens e mulheres estão desorientados, incertos,
acompanhados por uma espécie de agnosticismo prático e um indiferentismo
daquilo que não é material, fazendo com que muitos dêem a impressão de viverem
sem um substrato místico.
Deve ser
levado também em conta que hoje, certamente, não falte uma “presença mística”,
mas com a afirmação lenta e progressiva do secularismo, correndo o risco de
reduzir-se a meros vestígios de materialismo, dando-se a impressão de que o
normal é não crer.
Destarte, o
que ocorre com isso, o vazio interior que oprime muitas pessoas, e a perda do
significado da vida, porque de uma forma ou de outra, tudo na vida deve ter uma
projeção para o não físico.
Entre outros
sintomas deste estado de “crise mística”, a situação atual registra o fenômeno
das crises familiares e do esmorecimento do próprio conceito de família, a
persistência dos conflitos éticos, o reaparecimento de alguns comportamentos
racistas, o egocentrismo que fecha indivíduos e grupos em si mesmo, o
crescimento de uma indiferença ética geral cultuando uma ética individual e de
uma preocupação obsessiva pelos próprios interesses e privilégios.
Na raiz da
“crise mística”, está a tentativa de fazer prevalecer uma antropologia sem
Deus. Esta forma de pensar levou a considerar o homem como “o centro absoluto
de toda a realidade”. A cultura atual dá a impressão de uma apostasia
silenciosa por parte do homem que vive como se Deus não existisse.
No campo
eclesiástico, a pregação do cristianismo não deve ser apenas social, mas buscar
e pregar a mística neste contexto de crise. Ele não é apenas uma realidade
social, mas, também mística. Para tal, aparecem grupos que são verdadeiros
protagonistas para o problema social, ao passo que o místico fica em segundo
plano. Sua pregação tem como princípio o social e a partir deste, quem sabe,
possa ter um lugar para a mística.
A questão é
que: “o homem não pode viver sem um princípio místico”, ao contrário, a sua
vida perderia o sentido, tornando-se insuportável. O homem pensa que é possível
satisfazer as exigências de sua vida com realidades efêmeras e frágeis, assim
sua vida fica confinada a um âmbito intramundano, fechado à transcendência,
caracterizado pelo paraíso prometido pela ciência e a técnica. A técnica
oferece uma felicidade de natureza hedonista através do consumismo, com prazer
imaginário e artificial. Mas tudo isso se revela como ilusório e incapaz de
satisfazer aquela sede de felicidade que o coração do homem continua a sentir
em si mesmo.
O propósito
de Manoel Ferreira Neto nesta obra é fazer uma volta à mística, mas uma mística
verdadeira, não alienatória, não uma mística que seja usada como um narcótico
para os problemas quotidiano. A verdadeira volta à mística dar-se-ia com uma
ligação ao transcendente não como projeção.
João Carlos
de Oliveira
(Seminarista
– 5º período de Teologia -
SEMINÁRIO
ARQUIDIOCESANO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS - DIAMANTINA)
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