#EU, VAZIO?... ESTOU É CHEIO# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: POEMA PROSAICO
"Pretendente,
vós, da Verdade?"
"Não!
Apenas artífice da palavra."
A verdade
tem fissura pela mentira
A verdade
precisa mentir descaradamente,
Mente, sabe
que mente, quer a mentira...
Não. Só
louco! Só desvairado! Só varrido de pedra!
Proferindo
discursos indecentes, imorais,
Declamando
falácias pernósticas, viperinas,
Recitando
verborréias anti-metafísicas, anti-linguísticas,
Dando gritos
escalafobéticos, psicodélicos,
Por
inter-médio de minha máscara de louco, alienado,
Bruto,
ignorante, sem educação, agressivo, cavalo selvagem,
Galgando
falsas travessias de palavras
Palmilhando
enganoso chão de metáforas poeiréticas,
Vagueando,
devaneando, pairando sem destino
Entre uma
falsa terra de gênios e doutos
E um falso
céu de nuvens azuis e negras -
Só louco! Só
artífice da palavra!
A mentira é
a muleta da verdade!...
Oh, não!
Como a
verdade andaria pelo mundo a fora
Se não se
apoiasse na muleta da mentira?
A tais
efígies, emblemas, ícones
Da verdade
hostil,
Mais
familiar com bosques de vegetação íngreme
Que com
templos de climas espirituais e divinos,
E de toda
janela de guilhotina saltando às pressas,
Com felina
irreverência, insolência,
Para todos
os ocasos, acasos, crepúsculos,
Para todas
as brumas, escuridões,
Farejando
por todos os terrenos,
Correndo nas
matas virgens, selvas defloradas, estupradas,
Por entre as
serpentes e feras de pelos eriçados,
Rastejando,
roubando, trafulhando, mentindo
Divinamente....
Tu que olhas
o homem
Como Deus e
como cordeiro,
És poeta ou
alienista?
Esquartejar
o Deus no homem
Como o
cordeirinho no homem
E gargalhar
a bandeiras soltas,
Ao
esquartejá-los.
É isto que
te faz alegre, feliz, contente
Felicidade
de águia e de onça,
Alegria de
coruja e de corvo,
Contentamento
de lobo e de cobra,
Felicidade
de poeta e de varrido de vassoura,
E aquele
sentimento de rejeição próprio a Gregor Samsa...
Assim, caí,
eu próprio, outrora,
A memória
inda não havia se revelado,
Da loucura
da verdade,
Das minhas
aspirações diurnas,
Entendiado
do dia, enfastiado das horas,
Doente dos
raios de luz,
Caí no rumo
da noite, da madrugada sem neblina,
Sem
estrelas, sem lua,
Da sombra
escura...
Que eu seja
banido, expulso, exilado
De toda
verdade...
A minha
bengala pelo mundo a fora
Seja apenas
o vazio de utopias do nada...
Não querias
a verdade?
Ei-la nua e
crua....
#RIODEJANEIRO#,
30 DE ABRIL DE 2019#
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