IMAGENS DE FUNDO EQUIDISTANTES Manoel Ferreira Neto: CRÍTICA
Post-Scriptum:
Esta crítica
jornalística fora publicada nas páginas de RAZÃO IN-VERSA - SUPLEMENTO-CADERNO
LITERÁRIO-FILOSÓFICO e não nas páginas do tablóide E Agora? A minha última
publicação nele fora em Agosto/2008.
Refiro-me ao
membro da Academia Curvelana de Letras, Édson Gandra, já falecido, quem dissera
com todas as letras estar bajulando sobre quem escrevia nas páginas dos
tablóides. Isto porque havia ele publicado a sua primeira Antologia de Poemas e
nada, nem uma linha sequer escrevi nos tablóides, não comentei nem mesmo
verbalmente com amigos sobre ela. Não captei nenhum valor poético que
justificasse uma crítica. Aliás, não me referindo a isto, dissera ao Geraldo
Magela no Restaurante e Churrascaria Espaço Livre: "Isto de tecer críticas
literárias e jornalísticas sobre alguém é sério. Pode ser que para os leitores
a obra não merecia crítica. Para mim, mereceu. Se não teço críticas, é que a
obra não teve valores, para outros pode ter, e grandes valores até."
Teci
críticas sobre algumas obras e autores no tablóide Centro Norte de Minas, mas
larguei mão de fazê-lo. A última que escrevi nele foi sobre o amigo e escrito
memorialista Antônio Nilzo Duarte. Curvelo não merecia este empreendimento,
como não merece, jamais escreverei sobre quem quer que seja de lá.
Manoel
Ferreira Neto
#RIODEJANEIRO#,
15 DE ABRIL DE 2019#
Caríssimo
amigo Raimundo de Oliveira,
Nos meus
projetos desse ano que se iniciaram não estavam incluídos comentários de obras
de nossos artistas, escritores, colunistas e colaboradores. Fi-lo com avidez e
sinceridade sobre alguns – fosse hoje não faria sobre dois deles, embora três
anos depois ainda assuma o que comentei -, mas aprendi com pujança que os
comentários feitos de pessoas a quem fiquei conhecendo, recebendo de presente
suas obras, o caso de Antônio Nilzo Duarte, e só tive o prazer do conhecimento
após a publicação, o caso de Marcos Antônio Alvarenga, proporcionaram-me
resultados que não esperava – ademais, há quem, o membro da Academia Curvelana
de Letras, Édson Gandra, devido a estes comentários, acredite piamente que
estava a bajular-lhes, inclusive sem os ler, como dissera “está na cara” (está
na cara que sou bajulador), mais fácil assim pensar do que assumir não ter
sensibilidade e conhecimentos para entender o que estava dizendo, mais fácil
assim dizer do que se conscientizar de que sobre ele jamais escreverei uma
linha sequer; li algumas “cositas” dele e realmente não me chamaram qualquer
atenção.
Sendo você
amigo desde longos tempos, qualquer comentário sobre as suas crônicas da
“polícia militar” suscitaria esses ignaríssimos pensamentos e idéias, nem seria
mais “bajulação”, mas “puxação de saco” mesmo. Contudo, trago em mim dentro um
princípio e lema que aprendi: dar atenção somente às críticas que amadurecem e
engrandecem, às outras envio-lhes as “bananas” de Sartre.
A sua
crônica #O morto que gemeu#, publicada no número 38 de E agora? fez-me
re-considerar a decisão de modificar a linha editorial de minhas publicações.
Cá para nós, Raimundo, conhecendo-o, homem sensível, em demasia emotivo, não
imaginava que numa situação como a do “morto que gemeu”, você não fosse cair
duro e fedendo de medo, embora nas (entre)-linhas do texto você se mostre
assustado.
Claro, a
posição de policial não lhe dava oportunidade e chance dessas reações mais que
humanas, instintivas, tinha de manter a frieza, o cálculo. Já pensou na sua
imagem na Polícia Militar se “borrasse nas calças” devido ao fato de o morto
gemer, tinha problemas de catalepsia? Seria tido e havido como um medroso,
objeto de comentários jocosos de todo o batalhão, de todo o contingente, a
comunidade curvelana então cairia na sua alma de tanta gozação.
Pela manhã
desse dia em que recebi a edição de E agora?, contendo esta sua crônica,
tivemos a oportunidade de conversar pelo telefone, queria eu saber se já havia
lido o meu artigo dedicado ao inesquecível amigo Marcos Antônio Alvarenga,
dizendo-lhe eu que havia acabado de ler outra crônica sua, e salientava na
oportunidade que você tinha “estilo”. Respondeu-me que era estilo pobre, não de
um intelectual como eu, o que senti na obrigação de lhe conscientizar de que o
“estilo” é de cada um, linguagem é que intelectual, filosófica, teológica,
jornalística, etc., etc. A sua linguagem nas crônicas é jornalística, imbuída
de objetividade e direticidade, isto é, mostra os acontecimentos, os fatos
jocosos, as excentricidades das personalidades figuradas.
Fez-me
lembrar de certa vez haver acontecido algo similar comigo e Marquinho “tatu”,
da Loja do Curtume. Encontramo-nos numa tarde próximo ao restaurante Hábeas
Copus, quando ele me convidou para tomarmos um caldo e tomar uma cerveja,
acompanhada de uma pinga, no barzinho enfrente ao Cemitério das Palmeiras.
Podia ser umas sete horas da noite. Subimos, conversando coisas de não, na
linguagem popular “jogando-conversa-fora”, enquanto ele empurrava a sua
bicicleta. Na calçada de frente à porta do cemitério, olhei em direção à
sepultura de meu tio Heli Ferreira, hoje também de minha saudosa irmã Maura
Ferreira da Silva, e vi um vulto, vestindo uma espécie de camisola branca,
gesticulando. Disse a Marquinho “tatu”: “Marquinho, estou vendo um vulto além
do portão do cemitério”. Disse, atravessando a rua, encaminhando-me à porta do
cemitério, tocando a minha imagem de Nossa Senhora das Graças, que sempre tenho
no peito, dependurada numa correntinha de prata. Quando me aproximei bem, o
vulto sumiu. Quando procurei Marquinho “tatu” não o encontrei. Escafedeu-se tão
logo lhe comuniquei sobre o vulto. Fui encontrá-lo sentado no barzinho, uma
cerveja e uma pinga sobre a mesa. Estava um tanto pálido.
Se você ou o
leitor perguntar ao Marquinho sobre este acontecimento, óbvio que dirá ser
invenção minha, devido às suas manifestações de “machista” de primeira
instância. Nunca irá assumir que teve medo do vulto que eu lhe a-nunciei à porta
do cemitério.
(Re)-tornando
à sua crônica, é realmente fascinante a dimensão poética que você mostra,
re-velando o momento de sua inspiração, quando você toma da pena para escrever
suas crônicas da Policia Militar. Nela, você id-(ent)-ifica com primor os
valores humanos e humanísticos que a nossa modernidade em demasia materialista
está fazendo o favor de negligenciar, anular. Na “solidão da madrugada”,
ouvindo o “galo” cantar ao longe – “galo” aqui é “re”-presentação da memória
que está sendo despertada para a valor-ização do passado longínquo, das imagens
de fundo eqüidistantes – que você tomou da pena para escrever mais esta
crônica. Aliás, meu prezado amigo, já lhe disse em nosso último encontro,
quando almoçamos juntos em companhia de seus familiares, esposa, filha, e o
editor Geraldo Magela de Abreu, seu secretário Guilherme, que as suas crônicas
são muito importantes, leva-nos a conhecer a vida de um policial, a
contingência policial de uma comunidade, isto é História. O curvelano tem o
estranho e esquisito hábito de querer sempre negligenciar a memória, e sem ela
nada é.
Bem, meu
caríssimo amigo, o seu estilo não me evoca apenas a imagem de um lugar do
passado que teceu “o pano de fundo da minha vida de soldado da Polícia
Militar”; o seu estilo evoca-me sensivelmente o valor da memória, a sua
importância na feitura de nossa vida, de nossa contingência. Desejo-lhe,
caríssimo Raimundo Oliveira, muitas crônicas sobre a Polícia Militar, e que
elas sempre despertem os leitores para as real-idades do espírito.
#RIODEJANEIRO#,
15 DE JANEIRO DE 2019#
Comentários
Postar um comentário