COMENTÁRIO DA TESE: “SARTRE À LUZ COMENTÁRIO DA EXPERIÊNCIA MÍSTICA” MANOEL FERREIRA
Post-Scriptum:
Setembro de
2002, aluno de Filosofia no Seminário Arquidiocesano Sagrado Coração de Jesus,
Dimantina(Minas Gerais), Rodrigo Dias, convidou-me para ser seu ORIENTADOR na
Monografia sobre Nietzsche, monografia que lhe concederia o Canudo do Curso de
Filosofia, porta para o seu Curso de Teologia. Orientei-o com grande prazer e
satisfação, tirara dez e com menção honrosa pela Banca de Avaliação. Em 2005,
como agradecimento de sua convite, reconhecendo-lhe os dons e talentos
intelectuais, coloquei em mãos dele a minha tese em Sartre. Assim tecera a sua
crítica.
Manoel
Ferreira Neto
***
“Não se é um
ser humano enquanto não se encontra alguma coisa pela qual se está disposto a
morrer”.
Palavras não
são junções de letras ou o balbucio ininterrupto de uma criancinha prestes a
dizer para o mundo a sua primeira criação gramatical, mamãe, papai. É mais que
isto, Palavra é feitiço, mexer e remexer o caldeirão, no eterno cuidado de
colocar os ingredientes certos, e a fórmula da vida só é finalizada com o
abracadabra do feiticeiro. Abracadabra e tudo foi criado. Aqui ocorre a tênue
dialética que existe entre o começo e o fim, dialética esta que nos leva rumo a
nossa existência, rumo ao comprometimento com o todo.
No dia 1 de
abril do ano 2005 iniciei uma viagem que de certo modo me encantou, fui
impelido a tomar posse de palavras que não eram minhas, mas que no fundo faziam
parte da minha existência onto-teológica; uma existência que na sua inquietude
juvenil se encanta facilmente.
E deixei-me
encantar pelo caldeirão do feiticeiro das palavras sábias, e me comprometi com
as palavras sagradas de sua tese (Sartre à luz da experiência mística).
Descobri que o sagrado está realmente sacramentado na loucura do cotidiano a
ponto de poder parafrasear o próprio Sartre quando disse: “Não se é um ser
humano enquanto não se encontra alguma coisa pela qual se está disposto a
morrer”.
Caríssimo
amigo Manoel Ferreira a sua tese é oração, é vida, é caminho. Mais do que eu,
você sabe que estamos hoje vivendo em uma encruzilhada histórica, em um momento
de crise de paradigmas, de perplexidade, pois se quebrou uma nossa visão do
mundo e ainda não acaba de nascer a seguinte, apesar das vozes que indicam que
outro mundo é possível.
Para uns o
melhor é agarrar-se à categoria de milagre como espera inerte. E para outros se
tenta à sorte do Kairos, ou seja: o momento atual pode ser um momento de graça,
um verdadeiro Kairos, que nos ajude a recuperar o melhor do antigo e do moderno
e a abrir-nos ao pós-moderno. Como o pai de família da parábola, que tira o
novo e o antigo de seu baú (Mt 13,52). Como o caminhante que como Abraão avança
pela fé, sem conhecer exatamente o futuro: e partiu sem saber aonde ia (Hb
11,8).
No processo
alquímico da fé, estimado pedagogo, tem duas formulas que se combinam com o ser
no mundo: a primeira; chama em causa o discernimento perante a nossa própria
existência, “renuncia por parte do homem à sua própria segurança e a
disponibilidade de encontrá-la unicamente no mais invisível, em Deus. Isso
significa que a fé é uma segurança ali mesmo onde nenhuma segurança se pode
ver; é como disse Lutero: a disponibilidade de entrar confiantemente nas trevas
do futuro”. A segunda: abstração dos sinais que hoje, possui o seu dinamismo
próprio, profundo e que aponta com certeza para algo maior que ele mesmo,
exemplo disso temos na pessoa de Jesus! Especial em tudo se fez incomum no meio
dos comuns, perceptível na imprecisão dos precisos, totalmente integrado na
vida e na história do seu povo, pedia fé, mas em que e para que? Pedia fé não
para si, pois fé é discernimento; e novamente caímos na dialética sutil entre
fé e razão! Nas sutis entrelinhas de sua tese, Manoel Ferreira, você consegue a
partir do capitulo 7 ao 10 riscar Deus com um diamante raríssimo,
diferentemente do dito que abre o capitulo 9 “...Não conhecemos o diamante que
pode riscar o eterno...”.
Sem perceber
as suas pinceladas de palavras eternas, petrifica-se; e a alquimia dos
ingredientes fez aparecer um precioso diamante e com ele, caro intelectual,
você consegue riscar a pauta mágica do cosmos a ponto de atingir Deus nas
grandes atitudes que temos que recuperar se quisermos assumir os valores dos
novos tempos! Recuperar a festa sem perder o compromisso. Reconciliar-se com o corpo,
sem perder o espírito, ou seja, deixar o dualismo neoplatônico e entrar em um
pensamento holístico e encarnatório; ensinar a sentir junto com pensar, na
linha da inteligência que sente; aceitar o rendimento sem perder a gratuidade;
promover o diálogo, superando tanto a intolerância quanto o relativismo;
ensinar a viver o permanente em meio ao efêmero de cada dia; revalorizar a
experiência religiosa sem cair no antiintelectualismo: e o mais penoso;
redescobrir a teologia negativa (apofática) dos padres orientais sobre o
mistério de Deus, cuja dissimilitude é maior que a semelhança, como dizem os
Concílios; “Se o entendo, não é Deus; E por fim, abrir-se a inculturação e ao
diálogo religioso com as grandes religiões da humanidade, sem perder a opção pela
justiça e pelos pobres, renovando-a e aprofundando-a ainda mais”.
Rodrigo Dias
Seminarista
– 6º período de Teologia - Seminário Arquidiocesano Sagrado Coração de Jesus)
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