O DITO POÉTICO QUE PERMANECE NÃO DITO# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: FILOSOFIA DA ESTÉTICA DO NADA E O SILÊNCIO#
Dedicatória:
Dedico este FILOSOFIA DA ESTÉTICA DO NADA E O
SILÊNCIO à amada e mui querida esposa e companheira das Artes, Graça, com quem
venho tecendo esta rede da Artes, Literatura, Poesia, Pintura, à busca da
Estética do Nada e o Silêncio, e ires-e-vires, nestes ziguezagues de sonhos e
realidade, tecendo os fios de nossas mãos dadas e reunidas, por inneres,
estilos e linguagens, construindo o destino. Alguém me dissera ser dádiva, sou
um sortudo por tê-la encontrado, o que endosso, rompendo todos os limites dos
sentimentos da liberdade de sermos juntos quem somos. Então, só nestes anos de
mãos dadas nas artes e na vida poderia ter pensado e sentido isto, e por fim
escrevo este destino da estética do nada e o silêncio, a ética do vazio e o
olhar as coisas da existência e a liberdade.
Beijos meus, minha amada e querida Esposa e
Companheira, no coração.
Manoel Ferreira Neto.
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"O NADA é um instante do SER; O TUDO é o
fascínio que a Eternidade exerce sobre ELE" mergulhemos noutra pectiva
dessa pers, no sentido do Silêncio: "O SILÊNCIO é uma pers do Poiético; O
DITO é a paisagem da viagem do poeta à busca do espírito poético."
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O silêncio do poema hermético, metaforizado na
alvura do cisne, da neve, da neblina que cobre a montanha no alvorecer ou da
página - a neve que recobre os mortos, cujas lápides aparecem em letras, a neve
que é o mundo da morte, da morte ec-sistente na vida que não é vida - este
silêncio não é simplesmente o "não-dito", "inter-dito".
Este "não dito" é dito no próprio "dito do poema, nas suas linhas,
na sua forma"; ocorre, contudo, que toda a metodologia positivista de
abordagem do poema, procurando explicar o poético através da descrição da
função da linguagem, só alcança o dito que não inclui o não-dito, quase se
restringindo, a seu nível de significante.
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O não-dito está dito. Sua explicitação enquanto
branco do cisne, da página, da neve, da neblina, ou enquanto nudez, é apenas
uma re-velação, talvez até demasiado óbvia, de algo intrínseco e inerente à
natureza da obra de arte literária.
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O poema é um texto, o texto literário é uma
textura, uma tecitura. Esta tecitura é um tecido e, como todo tecido, quando
posto sob um microscópio, tal tecido mostra-se como uma rede. Toda rede é
constituída por uma série de fios - o equivalente ao "dito", ao
explicável por métodos positivistas de análise - e por uma série de vazios, o
equivalente ao não-dito, ao indeterminável do poema. Uma rede não é constituída
apenas pelos fios com que ela é tecida. Essencial à rede são os vazios que
existem entre um fio e outros, os vazios constituídos e organizados pelos fios.
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Nestes vazios é que estarão os peixes - a
finalidade da rede.
Diz Trakl: "A obra do poeta é apenas um ouvir.
O afastamento capta primeiro o ouvir em sua música, de modo que esta música
possa soar no poema em que vai ressoar." As palavras ditas no poema
protegem o dito poético como algo que, por sua natureza essencial, permanece
não dito.
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Esse silêncio é sine qua non à poesia. De certo
modo já está presente no próprio caráter hermético da verdadeira poesia,
hermetismo contrário à comunicação fácil, pois esta não comunica nada,
retomando apenas o lugar-comum. Voltando à antiga figura da rede, que deixamos
em suspenso - suspender é sempre deixar que a res-posta a um questionamento se
re-vele e mostre livremente -, é o vazio que enquadra o além da rede, o além do
texto, o que trans-cende a sua pres-ent-ificação, mas que é sua finalidade e
realização. A palavra é a marca do Acontecimento interior à linguagem. A
escrita é a marca do Acontecimento interior à linguagem. A escrita é o depósito
da Tradição do Ser. É, também, ao interrogar o Ser que a linguagem arranca,
constantemente, a palavra ao peso do significado e a escrita aos limites do
signo, para regressar à noite da Presença de onde se manifestou. A linguagem
reside, pois, na diferença interior à Palavra do Ser, que se inscreve entre o
Acontecimento que, ao mesmo tempo, des-vela e oculta e a letra ou a palavra que
morre no limiar da coisa. A linguagem é o lugar onde habita o pensamento.
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O falar como um ouvir à própria linguagem diz-se
novamente o próprio dizer da linguagem: deixa sua voz atonal vir até o homem,
fazendo-se ouvir, fazendo o homem ouvir ao ser. Pode-se dizer: "É o
ouvir-se-sendo a linguagem." Quem melhor ouve este dizer da linguagem é o
poeta; quem mais presta atenção a este dizer é o poeta que torna poema a
própria essência da poesia, é o "eu poético" que torna Verbo do Ser a
Esperança do In-finito, o Sonho do Espiritual Divin-izado.
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E se me ouvir con-versando no vento, precisa
compreender temos de apreender-lhe as sabedorias adquiridas no tempo, na sua
jornada do espaço, na viagem do nada, que é um estado da alma que transita no
ir e vir, até ao In-finito, onde todas as pers da Eternidade são pectivas da
Verdade. São sábias experiências para o entendimento dos horizontes longínquos
onde habita o que trans-cende sonhos e fantasias, o que trans-eleva a
con-ting-ência da palavra ao verbo do além. E se me ouvir sendo o silêncio, é o
nada tecendo o vir-a-ser do perpétuo re-vestido de silêncios e solidão, síntese
que re-vela o sublime do ser-no-mundo, sublime que eiva e seiva a luz da
verdade à mercê da sede de conhecimento, fome de saber, carência de idéias e
pensamentos, manque-d´être do espírito e sonho de divin-ização, falta de visão
do além da vida à vida que consuma os tempos, o tempo sempre letras e
imperfeições para o Opúsculo do Soneto de Viver.
#riodejaneiro#, 17 de outubro de 2019#
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