FONTE LUMINOSA DO TEMPLO DE FESMONE XVII# ==== #Por que? – DESTE MATO NÃO SAI COELHO# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA
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Se alguém se dispuser consciente e lúcido a
responder rigorosamente e sem falácia, verborréia, desfaçatez, hipocrisia à
pergunta à mercê dos ristes da língua, sobremodo sem preconceito, vai perceber,
intuir outro problema que exige maior reflexão que esta, trata-se de acreditar
as palavras as de um filisteu, um oráculo onde se encontra a resposta para os
mais dilacerantes mistérios.
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Por que? Eis a solene perquirição. E são tantos os
“por que?” não respondidos, mal respondidos. Acumulam-se. Perdição, confusão.
Olhares dispersos, instantes-limites, porventura esperança, porventura sonho? A
mente divagando entre o pretérito e o presente as coisas nascidas e mortas,
anunciadas e efemerizadas, aqui-e-agora de nada, vazio. Ser, estar, ficar,
permanecer alheio, distante com apenas uma ideiazinha medíocre que alenta e
afaga o peito, os olhos não vertem lágrimas, a alma re-colhe-se à alcova,
dormita o sono dos ventos per-cursando, de-cursando os sítios da terra e do
mundo? Seria que a partir desta ideiazinha medíocre... alguma luz nasceria
nela/dela? Na pintura, permissível colocar uma cor em cima da outra, a
superposição de cores; nas letras, impossível colocar uma palavra em cima da
outra, para atingir outro efeito, nelas não existe isto de superposição para
atingir efeitos; e na mente seria possível colocar um pensamento em cima da
ideia e conceber efeito de luz para superar e suprassumir as dores da ausência
de res-postas? Idílio, devaneio, desvario. Por que? Risível: o “que” em cima do
“por” para atingir o efeito de qualquer resposta ser ilusão, fantasia. O
segredo inestimável da vida, o mais importante dela é não haver res-posta. Se
não há, por que perquirir, indagar, questionar, perguntar? As coisas presentes
não res-pondem às pretéritas, as futuras não responderão às presentes, tempos
que esvoaçam nas asas dos ventos.
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Ouvir sons que precedem os pensamentos, pensar os
ritmos, melodias, arranjos, acordes que estão em cima dos sons ou nos
interstícios deles, saber-lhes decifrar, desvendar? Pensar o que vem depois
destes sons: sentimentos, emoções, sensações, desejos, vontades? Nesta trilha
do que precede e do que vem depois, como educar a língua para expressar o que
perpassa a alma, e ser a resposta por exemplo do que precede é a luz do que vem
depois, o que vem depois é a treva do que precedeu? Perguntas, perguntas, perguntas...
Fumaça do cigarro esvaindo-se no ar, dor pujante no peito, a alma encolhida.
Ficar recostado à cadeira giratória, pernas cruzadas, os olhos fixos na parede
frente, permanecer no tempo que segue a trajetória para o sítio de lugar algum,
afago sensível, alfim o vazio é o que encobre, sudariza os sofrimentos de
seguir os caminhos sem documentos no bolso, as ideiazinhas medíocres serem
remédios para os males das con-ting-ências, antes da vida era o nada, após a
vida trechos de ideiazinhas medíocres...
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Se ajo de modo menos correto, seguindo o pensamento
dos espíritos grosseiros, apenas faço cometer o pecado que se torna inseparável
dos tempos juvenis; para acabar com este pecado, necessário se faz terminar
primeiro com a própria mocidade. Quisessem os velhos lembrar-se de que já foram
jovens. Por que a velhice não precede a juventude?
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Ser
-
Tempo
o ser sobre o tempo, apenas uma sorrelfa, deste
mato não sai coelho, mas a inércia, ser, estar, ficar, permanecer no mesmo
lugar, cria estas cositas para tripudiar as tristezas e desconsolos de não
haver resposta para coisa alguma, mesmo que colocando o tempo sobre o ser, os
poetas, escritores cismarem de escrever poesias e as colocarem em cima da fome,
da miséria, a poesia não salva ninguém da miséria e da fome, saciam a fome e a
sede das fugas, das condutas de má-fé deles mesmos, e vem outra solemodo
solipsista, ninguém se presta às palavras senão para endossar a hipocrisia
deslavada do mundo, senão para cristalizar as ideologias hodiernas, façam o que
quiserem, sacia a fome e a sede do orgulho, a digníssima superposição das cores
para os efeitos da imagem e do belo, uma coisa é uma coisa, outra coisa, outra
coisa, que magnífica, esplendorosa escapadela para a ausência de continuidade
do pensamento – seria “pensamento” mesmo ou outra cosita que o valha? -, deste
instante de consciência de a vida ser arrebitar o rabo e sair na carreira, sem
olhar para trás, esquecendo de quê? Da resposta colocada em cima da pergunta.
Vice-versa. Brancas nuvens, pura e simples. Ainda se houvesse condições de
deitar nelas e ficar observando os homens, rindo desenfreado das quimeras que
inventam!
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Perquirição
-
Resposta
outra superposição sem quaisquer sentido ou
significado, por não saber o que precede o que, se a perquirição precede a
resposta, se a resposta precede a perquirição. Nada precede, nada vem depois.
Ventos, neve, neblina, garoas, chuvas, tempestades, terremotos, sol, trevas,
brumas, noites, madrugadas...
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Sonho menos zero. Esperança menos zero. Perquirição
menos zero. Resposta menos zero. O que restaria nesta prova dos zeros para
identificar não haver respostas para as perguntas ao longo do nada ao nada? E o
que se faria mister para de-monstrar que "noves-forar" a mediocridade
das criações científicas, artísticas, religiosas? Não vou sair na carreira pós
arrebitar o rabo por ser “Fesmone", trago nas mãos a chamazinha do fogo da
ideiazinha medíocre, quem sabe algum dia possa malhar o ferro do “Por que?”,
sabendo que o farei apenas para tripudiar com o tempo.
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Noves fora zero. Zero fora nada.
E seria de minha conveniência, interesse, intenção,
qualquer a que citar está de bom tamanho, que "chamazinha de fogo da
ideiazinha medíocre", com ela malhar o ferro? Furtava-me essa ousadia,
pachorra de malhar o ferro antes que não estivesse sendo malhada. Eis a
questão: malho o encanto da quimera, da ilusão, a ponto de querer
transformar-lhe num encanto superior, esta era a textiúncula, mudar o mundo
novesfora o quê?, é um ferro de uso exclusivíssimo, não faria o mesmo em mãos
algumas, sentimo-nos como um músico de ópera, não encontra melodia para fortes
emoções, afeto murmúrio e grito com o ferro malhando o encanto da quimera,
ilusão... A insensatez selvagem da poesia: ser ela o que insufla a alma a
re-n-ovar para os homens a inspiração da moralidade e da arte, re-n-ovar tudo o
que é antigo, ideologias, interesses, tramóias dos tempos...
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O anti-braço sobre o braço da cadeira, mãos
pendendo, o cigarro no canto da boca, a fumaça esvaindo-se no ar, o olhar fixo
na parede.
Eis que a manhã surge.
#riodejaneiro#, 21 de outubro de 2019#
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