CRÍTICA LITERÁRIA POETISA E ESCRITORA, Ana Júlia Machado, ANALISA A PSICANÁLISE DA AUSÊNCIA #SOU A VOZ DA VIDA#
No texto do escritor Manoel Ferreira Neto, SOU A
VOZ DA VIDA#, inclui a psicanálise, não podendo deixar de enunciar o incrementa
uma espontânea leitura lacaniana da noção de Verneinung vista no artigo de
Freud “A Negação”. Recuperando toda a verídica controvérsia teorista e
terapêutica em volta do assunto, evidencia – se o cunho estrutural dessa
estrutura, já apontado por Freud, como oriundo para a realização da ideia e, no
costume lacaniano, para a formação do sujeito, diferenciando dos distintos
alvitrados por Freud, tais como a Verdrängung, a Verleugnung e a Verwerfung.
Alarga esse trajeto relacionando enunciações freudianas e lacanianas, sem
desconceituar as disparidades dos seus feitos, mas botando mão de uma autonomia
teorética em sua erudição, essencial para sua alegação. Intenta, assim,
ostentar as conclusões terapêuticas desse polémico, tal como outras…. aspectos
proeminentes para a compreensão da coerência estrutural da conexão entre o
involuntário e o plano da língua.
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Em seu texto sobre a Verneinung, Freud recupera de
forma assaz inédita uma série de teses de seriação estrutural no que toca ao
sistema essencial da mente. O que primitivamente alvitra abarcar somente
algumas reflexões explicativas sobre a mecânica da recusa, tal como se anuncia
na terapêutica, logo confere uma dedução estrutural para que se possa dele
arremessar suas conclusões. É assim que, numa reviravolta profunda, Freud
sugere que os tempos da Verneinung encontram-se comprometidos na formação da
mente, e não meramente no ludo denegatório que o crítico exibe. Nas reflexões
Lacanianas sobre a Verneinung de Freud evasiva – se do teor de suas colectividades
pelo subterfúgio do não.
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E como refere o autor Manoel Ferreira Neto no auge
da nostalgia exultação não existe, deleite não existe, dita não existe, não
existe tão-pouco números infinitos de ignóbeis exultações. Não existe delitos,
nem mandados.
Sem pretender contestar, denegou: verleugnung.
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No auge da nostalgia remota, num local que não
existe, sem extensão se propagando, se oculta a causa da nostalgia em lugares
não sabidos, conhecidos.
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Sem pretender negar verbaliza ou quer crer que ao
raiar do futuro inteligíveis pétalas desabrocharão elites selváticas nas sendas
e vereda por onde socar...
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È um texto complicado, visto que a psicanálise, não
é fácil e nem todos a aceitam…a negação existe a qualquer momento, mas pensamos
que é a nossa voz interior a interferir sem querermos muito aceitar a negação.
Ana Júlia Machado
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SOU A VOZ DA VIDA#
GRAÇA FONTIS: PINTURA
Manoel Ferreira Neto: PSICANÁLISE DA AUSÊNCIA
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EPÍGRAFE:
"... a noção de existência pressupõe a
ausência e, portanto, articula-se à noção de sujeito, como implicada na
formulação lacaniana sobre o traço unário."
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Rouxinóis em colóquios a intervalos, e ouço como
voam sobressaltados de um lugar a outro. Um rouxinol tentou instalar-se numa
folha de mangabeira num terreno baldio frente à minha residência, e, quando saí
à porta, ouvi que se mudara para além, numa antena de televisão, onde trinara
uma vez e calara-se, igualmente em expectativa. De que estava ele à espera?
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Era em vão que procurava acalmar-me: esperava e
desejava algo, e não sabia, de antemão e revezes, se seria realizado, até cria
que havia possibilidade de não o ser, por outras razões muito diferentes da que
estava a imaginar; e isto me exasperava sobremaneira, uma tristeza muito
profunda perpassava-me as entranhas, necessitando de algo que me despertasse a
atenção para a vida, para as coisas, para o mundo, enfim, para toda a
eternidade.
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Ao mármore, pastas, sob o mármore, pasto serás,
sobre o mármore, quanto tempo, não mais sendo... quanto tempo, sob o sol,
ficarás?
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Entre mármore, és, foste, serás: Com ele, por ele,
nele, Os Extremos dos matizes Esgotaste e esgotarás, Mesmo que in-vertas,
Per-vertas, con-vertas... A ordem natural das coisas...
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Decorando-te a noite o dia e enfeitando-se o dia a
noite.
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VERNEINUNG. - “Ferirei o Pastor e as ovelhas se
dispersarão”. - Ainda que todos se escandalizem de ti, eu nunca me
escandalizarei... - “Em verdade, eu te digo que, nesta mesma noite, antes que o
galo cante, três vezes, me negarás”. - Ainda que me seja necessário morrer
contigo, de modo algum te negarei... “E, da mesma forma, diziam todos, também!”
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Querendo negar, não negou: Verneinung.
No clímax da saudade alegria não há, prazer não há,
felicidade não há, não há sequer miríades de ínfimas alegrias. Não há pecados,
nem recados.
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Sem querer negar, negou: verleugnung.
No clímax da saudade longínqua, num lugar que não
há, sem distância se estendendo, se esconde a razão da saudade em espaços não
conhecidos, sabidos.
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No entretanto, na ausência de vento, a nuvem desce
cada vez mais; tudo se torna mais quieto, mais cheiroso, um cheiro de mato, de
serras, de terra, e de repente cai uma gota e como salta sobre a vidraça da
sala de estar, onde fumo um cigarro.
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O que é isto? Será, de verdade, a voz da vida que
me questiona. Talvez não. E a voz interior responde-me: “... sim, é verdade,
sou a voz da vida...” Seja sim a voz da vida, gostaria que me respondesse a uma
única questão que me venho fazendo desde que me entendo por um indivíduo.
Responde-me: para que o sofrimento? Olhando-me de soslaio, um sorriso nos
lábios, as faces límpidas, dir-me-ia “...à toa, sem finalidade...”. Só poderia
ser ironia, sarcasmo, cinismo da parte da vida, com certeza estava a fazer
menos de minha inteligência, um destes pitis de homens que estão prontos e
acabados para qualquer eventualidade, para as grandes coisas, mas em se
tratando das pequenas são uns fracos e covardes, sabendo de antemão que a
resposta não poderia ser outra, a vida é à toa...
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Dolmens, menires, cavernas abrigavam o homem
primevo. O civilizado erigiu seu teto, de variada forma, palácios,
arranha-céus...
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Valia-se o primevo da água do mar, do lago, da
lagoa, do rio, do arroio, da catarata, da cascata, da bica. O civilizado trouxe
a água para a sua casa... Aquele que come do fruto do conhecimento, aquele que
seja saciar a sua sede do saber é sempre expulso de algum paraíso.
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Lá fora, de dia, arde o sol. De noite, a lua e as
estrelas, Com sua vacilante luz. O civilizado trouxe a luz para a sua casa...
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Ao amanhecer do devir distintas pétalas brotarão
flores selváticas nas sêmitas e trilhos por onde contundir...
#riodejaneiro#, 18 de outubro de 2019#
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