#FONTE LUMINOSA DO TEMPO DE FESMONE IX PARTE# ==== PENSADOR E POETA QUE PENSAM A ESSÊNCIA DA POESIA# GRAÇA FONTIS: PINTURA - TÍTULO DA OBRA: O ITINERANTE Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
EPÍGRAFE:
"A poesia se faz entre palavras e silêncios. É
belo de doer" (Chang-Dong Lee)
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Mas como é que se caminha pela essência do caminho?
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Silva é uma palavra antiga para floresta. Na
floresta há caminhos que, cerrados de vegetação, quase sempre se perdem de
chofre no intransitado.
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São os caminhos silvestres. Caminhos silvestres são
aqueles que, nos passos ordinários de cada dia, nos abrem silenciosamente
passagens extraordinárias para a selva selvagem do pensamento, por onde o
mistério de ser sempre nos faz passar, quer com passos de filosofia quer com
passos de teologia quer com passos de ciência.
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Com as dicotomias das seguranças e certezas, a
funcionalidade havia reduzido tudo às correlações de sujeito e objeto. Todos
julgávamos já saber tudo de tudo: a floresta, o atalho, o chão, o ponto de
partida e o ponto de chegada, o porto, o caminho, a caminhada, o caminhar, o
caminhante, tudo não passava de meio para um fim a serviço da atividade de um
sujeito visando alcançar um objetivo.
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O esquema funcional, de atividade, meio e fim,
escondia-nos a essência do caminho, que vem do mistério e vai para o mistério
da realidade. Agora tudo mudou. E não só se fez novo, tudo se apresenta cada
vez com a novidade da primeira vez. Todo passo é uma aventura de originalidade;
passeando pela essência do real, nossos passos caminham pela originariedade de
caminho, caminhar e caminhada. A incerteza já não é somente ameaça. É também
surpresa. E é esta ambiguidade que nos faz nascer, com tudo que um verdadeiro nascimento
traz consigo de insegurança, medo, obscuridade, ousadia, surpresa e aventura.
Aparece, então, todo um mundo de coisas que antes nem podíamos ver.
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O caminho essencial será mesmo o caminho
verdadeiro? É que a trilha conhecida se perdeu no cerrado da vegetação. Estamos
num caminho silvestre. O esquema de segurança da funcionalidade desapareceu no
intransitado da selva selvagem do pensamento.
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Ao tatear em busca de esteio para os pés e arrimo
para as mãos, fazemos uma experiência pretensamente excluída nos esquemas da
funcionalidade, a experiência do nada e do não saber. O desconhecido é um poço
sem fundo. Quanto mais andamos, quanto mais tentamos, tanto mais nos perdemos
na perdição do intransitado.
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O mistério silencioso da floresta nos envolve numa
paisagem inesperada, a paisagem do verdor. É a essência da floresta que nos
visita com a paixão da natividade.
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Mas quem nos dirá a dimensão temporal da Floresta?
Seria preciso saber como a Floresta vive sua idade avançada, porque não há, no
reino da imaginação, florestas jovens. No vasto mundo do não-eu, o não-eu dos
campos não é o mesmo que o não-eu das florestas. A floresta é um antes-de-mim,
um antes-de-nós.. Meus sonhos e minhas lembranças acompanham os campos e as
pradarias durante todo o tempo da lavoura e das colheitas. Quando se abranda a
dialética do eu e do não-eu, sinto as pradarias e os campos comigo, no comigo,
o conosco.
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No dizer de Chang-Dong Lee "A poesia se faz
entre as palavras e o silêncio..."... Se no abrandamento da dialética do
eu e do não eu, sinto as pradarias e os campos comigo, no comigo, o conosco, a
sin-cronia, sin-tonia, harmonia entre as palavras e o silêncio faz-me
re-colher, a-colher a paisagem na viagem da tragédia do nada ao in-finito, A si
mesmo encontra-se o homem tanto no soar da palavra e na compreensão, que, com a
rapidez do vento, tudo abarca, quanto no silêncio que é a morada da palavra, as
palavras têm o objetivo de revelar o mistério do silêncio do qual elas se
originam. A palavra que não está enraizada no silêncio é palavra fraca e
impotente como "um metal que ressoa, um címbalo retumbante" (1Cor
13,I). Tudo isso só é verdade quando o silêncio que dá origem à palavra não é o
silêncio humano do embaraço, da vergonha ou da culpa, mas o silêncio divino no
qual o amor repousa em segurança. De seu eterno silêncio, Deus expressou sua
Palavra e por meio dela criou e recriou o mundo. A palavra não rompe o
silêncio, e sim revela a a imensurável riqueza do silêncio divino. Neste
sentido, entre a palavra e o silêncio flora a poesia na sua própria floração.
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Na linguagem e pela linguagem podem encontrar-se o
poeta e o pensador, melhor ainda podem encontrar-se o pensador e o poeta que
pensam a essência da poesia. Esta, porém, leva ao encontra do silêncio: não só
o silêncio do poeta, mas do poeta que encontra no próprio vazio e no silêncio a
essência negativa da poesia, a essência que não pode ser dita nem feita.
#riodejaneiro#, 20 de outubro de 2019#
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