E O DEUS ÉRESIS REVOA À TOA# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA
Em deus me erijo, insciente, deus faminto, deus
sedento, saudoso das faces iluminadas, saudoso da existência, saudoso da
tradição da auditividade e não oralidade, metáforas das modalidades
discursivas. Por que o pensamento revoa à toa, na luz? Por que nunca se escoa o
tempo? Vou seguindo em demanda de meus rastros, é um tremor radioso, um temor
resplandecente, tremor e temor, uma opulência de quase impossíveis, de
impossíveis, casulos do possível. Há tanto tempo que o tempo não lembra, mas os
segundos no ponteiro do relógio se recordam da poeira que os gestos espalhavam
no chão. A mente exausta coloca em risco a produção artística, mas se serve de
si mesma para constituir a soberania.
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Seria que houvesse de explicar, elucidar, gastar
toda a lábia para dizer que se "deus" aqui está escrito com letra
minúscula se refere à mitologia grega? Pode haver quem elucubre, vagueia,
devaneia ser heresia escrever deus com letra minúscula. Zeus é o pai de todos
os deuses. Zeus é escrito com letra maiúscula, e todos os outros são com letra
minúscula, por exemplo, o deus Apolo, o deus Júpiter. Eresis, verbo, estética,
sensibilidade, ainda que às re-versas.
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A sabedoria das esperanças habita a entrega, doação
ao pensar que pensa o pensamento do sentir que sente o sentimento, do refletir
que reflete a reflexão, do meditar que medita a meditação, con-templando dos
interstícios da alma carente, do íntimo solitário, do coração estrangeiro, do
inaudito ao silêncio, luzes e contra-luzes que reluzem a cintilância no reluzir
das paisagens, imagens na tela do alvorecer da terra à soleira do mundo,
imagens lúdicas do uni-verso seduzido pelas constelações idílicas, simbolismo
do vir-a-ser, e o nada passeia na lua cheia, signo do eterno, forclusions,
manque-d´êtres solsticiados de neblinas, ensimesmando, ofuscando a visão do
infinito, mas o vento cândido passando levemente sarapalha os flocos de
neblina, inda que embaciados para as sensações primevas, primárias do eterno,
eterno que ama ocultar-se e re-velar-se, infinito que in-fin-itiva o tempo e o
ser...
#riodejaneiro#, 26 de outubro de 2019#
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