**COMPL-ETUDE DOS SENTIDOS LITERALIZADA NO TEMPO** - TÍTULO E PINTURA: Graça Fontis/POEMA: Manoel Ferreira Neto
Estou
aqui onde me crio, re-crio,
Onde
me invento, faço-me,
Onde
me multi-facelo, multi-plico-me
Onde
me completo, verso-uno-me
De
tinta são os meus traços, caracteresa.
A
folha é de papel, linhas, margens,
Frontis-pício,
pé-de-página,
As
letras são cursivas, in-cursivas, des-cursivas.
Esboço
um sentimento que retiro de mim dentro,
Garatujo
uma emoção que me perpassa o íntimo
Delineio
uma idéia que se me a-nuncia,
Burilo
um pensamento que se me re-vela:
Ainda
não são os originais, não é a verdade minha.
Re-crio-lhes
as bordas e ad-jacências,
Re-componho-lhes
a imagem, re-faço a face.
Evoco
o abstrato, invoco o trans-cendente,
Faço das
pers-pectivas a minha raiz,
Faço
dos ângulos o meu ser,
Das
linhas a alma, das entre-linhas, o espírito.
Farto
de mim, distancio-me, fico à espreita,
Constato:
na vida ou na arte,
Em
carne, osso, caneta ou lápis
Onde
estou-sendo não é quem sou,
Onde sou
não é quem estou sendo,
Onde
estou não é sempre, não é eterno,
Onde
sou não é ab-soluto, não é para sempre
O que
sou é por um lince do olhar.
Águas
re-fletindo imagens
Sob
raios numinosos do sol
Lírios
brancos à mercê de vento suave,
Belga
pousado no arame farpado
Da
cerca, trinando seu canto,
Beija-flor
sulcando o néctar da flor, no jardim
Nuvens
brancas deslizando no azul celeste
Pétala
perdida de rosa vermelha sendo
Levada
a esmo pelo rio sem pressa de sua jornada.
Sentimentos
leves perpassando o íntimo,
Carinho,
Ternura,
Afeição
Ouço o
pulsar do coração, extasiado de emoção,
No que
em mim trago dentro, as volúpias da alma
Trans-cendem
as elegias do instante de sonho,
Em mim
sentindo íntimo, a alegria con-juga versos
A
felicidade recita de rimas as fantasias
do
amor cor-res-pondido,
do
amor sentido profundo,
do
amor saboreado,
do
amor entre-laçado de corpos
em
busca do clímax absoluto e pleno
No que
em mim deseja de Verdades
As
regências verbais tecem de erudição
A
estética do estilo sensível, espiritual
As
metáforas con-jugam de imagens
A
linguística do eterno,
As
reg-ências nominais desenham
No
horizonte as perspectivas
Da
linguagem do Ser e Tempo,
Regam
nos confins das inter-dicções as dimensões
Do
Vento e do Há-de ser,
E nos
interstícios da alma de verbos alucinados,
Esperanças
delineiam de pers-pectivas
Cânticos
solenes em uni-versos líricos
Plen-itude
de êxtases com-põem de estesias
Alhures
de sentimentos à busca
De
sub-jetivas verdades
Algures
de desejos de felicidade à busca
do
espírito de con-templar o ab-soluto
sentido
efêmero,
sentido
volátil,
sentido
nítido nulo,
sentido
estrela cadente,
sentido
cometa,
sentido
planeta,
sentido
vazio
Sonhos
do belo, beleza de re-fazendas con-jugam
imagens
e intuições,
pers-pectivas
e ins-pirações,
criatividade
e per-cepções,
re-criando
da memória o mov-imento,
das
lembranças o mov-ent-izado sentimento do sublime,
literal-izando
da re-cord-ação os instantes,
no
poema do espírito a presença viva
do
eterno feito amor,
do
efemêro feito desejo
do
há-de ser feito querência
do
simples feito grandeza
do
nada feito travessia para o além...
(**RIO
DE JANEIRO**, 21 DE DEZEMBRO DE 2016)
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