**QUIÇÁ NO LIMIAR DO HORIZONTE AS SOMBRAS SE ENCONTREM!** - TÍTULO E PINTURA: Graça Fontis/PROSA FILOSÓFICA: Manoel Ferreira Neto
Sou uma dispers-idade nos sentimentos de viver um ímpeto da carne e dos
desejos, uma uni-vocidade nos inters-tícios dos sentimentos volúteis de uma
vida de sangue profusivo e disparatado do imaginário. Até o instante presente,
perambulando pelas alamedas do sensível, buscando a elucidação e entendimento,
estive a en-velar uma profusão enorme de tesão e desejo pelo clímax, estou a
des-velar exultações de in-diferença e utopia pelo gozo. Afigura-se-me este
sentimento, úmido em seu interior, suave em suas bordas, ser uma ambigüidade
amena e triste de um desejo não realizado e o viver girando assiduamente sem
qualquer ponto de segurança.
Quem de mim sou, ora silêncio esplendido a todas querências, a todos com
quem estive entabulando algum mínimo assunto, vivenciando manifestações ínfimas
sensíveis?
Il silenzio. Quem sou de mim, olhando as coisas, olhando-me dentro,
apenas no íntimo o tempo que rola...? Silent Night... Nostalgias do há-de vir!
Melancolias do vir-a-ser! O peito "ensonece" com o pulsar lento,
comedido. A alma dorme o sono de suas ausências, presenças, sonha a fonte
jorrando sons, ritmos, melodias no rio originário do tempo.
Se, interiorizado e hermético nas associações à busca do entendimento
dos enigmas da carne, segredos do sangue, mistérios do corpo, sinto estar
esgarçando e ampliando as emoções, há um engano incorruptível e irreversível
presente na sombra de uma manifestação. Se, imerso em ondas de calor e volúpia,
sou trazido em nível deste desejo da carne e do corpo, as associações livres
empreendem sentimentos espontâneos e suaves. Im-erso... Rev-erso... Inv-erso...
Églogas versais sonorizando sensações longínquas, criando ex-pectativas do
solene e sublime, alguma coisa encoberta de mim, que nem os olhos traem nem as
mãos apalpam, enternecimento.
Um vento ameno e suave surge nas antípodas de minh´alma, percorrendo os
labirintos das vísceras e veias. Se faz aparecer uma sensação de prazer e
júbilo pelo inusitado desejo?... Se faz surgir monossílabo de alegria, pintando
um sorriso leve na face, con-templando o som do rio que se espalha por todos os
horizontes?...
Levo um grito sufocado encravado num sentir emudecido. Impossível
“re”-tê-lo, “re”-presá-lo por mais tempo: domá-lo. Estilhaço-me. A palavra, se
em represa, é um murmúrio de arribas, sussurro de confins; se correnteza,
brado, estampido.
Ando para a luz levando o fardo de desejos, esperanças de ver-me “ser”
nas linhas do espírito e eterno, esforço-me para não ruir, seco e falido.
Fracas possibilidades de letras reais nos sentimentos verdadeiros, de vozes
imaginárias nas emoções re-criadas, in-ventadas, esboçam-se e des-aparecem –
quase verto lágrimas pujantes! -, roendo entranhas, re-vezando mordaça, e a
escuridão em que tateio o trajeto arrasta correntes, mas sigo na busca
des-esperada de me ver sendo. Cada dia debulho uma letra de minha fala, língua
cujos lácios enovelam lembranças, recordações, uso ser-lhes indiferente,
perco-a nos sonhos, e dou um passo para a distância. Breve me perderei no
horizonte. Breve sumirei nas curvas noctívagas do tempo.
Veredas... Fogo de bala, travessia, curiangos, aves pretas, flor de pau,
cascalho solto, faísca de ferradura. A noite é só tocaia, um descuido é
perdição, cachorro late-mordendo, cobra dá bote e esconde, burro coiceia e
refuga: “Viver é muito perigoso”. Grito, perdido na morte, doce riso, amargo
fim, viver é pré-liminar à cova. Passo curto, passo certo: Travessia.
Luz breve, que ec-sistas, onde? fugidio indício que me a-nuncie o meu
lugar na vida... As nuvens brancas espelham-se em miríades de re-flexos,
multíplice alegria, trêmula, sinais nulos, irrita e nula, os meus olhos tremem.
À janela do meu vazio eu.
Chove, chove, chove
Chuvinha fina, alentando
Os devaneios das con-tingências límpidas
De ausências nos terrenos baldios
Proféticas sabedorias.
Nítido nulo horizonte linear. Imperceptível une-se ao azul do céu,
in-fin-itude ab-soluta in-eks-sistente, na linha in-eks-sistente da separação
que os une. A vida toda está aí. Os meus olhos passam por tudo, mortos que
falais ainda, vozes nítidas e absurdas no ar, imóveis instantes de outrora... À
varanda de minhas fantasias, quimeras, sentado num banco de mármore, as rosas
no jardim des-abrochando viçosas e ternas, manhã de novo dia, estendendo-me
além das metafísicas da esperança e da fé, tentando encontrar um lugar no
auspício de uma montanha, olhando o panorama do mundo, os olhos perdiam-se na
frincha
das folhas de um flamboyant do outro lado da rua, o in-finito se
mostrando inteiro, nítido nulo o horizonte e já frio, um deus crescia dentro de
mim.
Chove, chove, chove
Chuvinha fina
Acalentando os verbos campesinos do vale
De profusos conhecimentos de viver as volúpias
Do sensível
Estava só, tão cheio de meu nada. No ponto nulo que separava a vigília
que se esgotara e a que re-nascia... Mas agora, à distância destes anos, ou à
distância nula da morte, agora tudo se amassa em encantamento ou em indiferença
ou em absurdo - agora a rua está deserta. Só eu e a luz do dia, só eu e os
raios incandescentes do sol. Uma alegria nula. Indício fala no limiar das
origens. Fulcro, certeza fora de mim, por mim escolhida, mas ec-sistindo na
realidade, conferido com ela, ordenando-a, fixa e apesar de tudo mutável,
limite máximo da minha direção, do meu impulso cego e absurdo.
Chove, chove, chove
Chuvinha fina
Longe e distante,
Metáforas fornecendo alento,
No telhado das luas di-versas,
Raios de luz esplendendo
Verbos da consciência,
Conjugações pretéritas e presentes
No Infinito do silêncio.
(**RIO DE JANEIRO**, 28 DE DEZEMBRO DE 2016)
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