**AO ESPÍRITO A BUSCA E COMPREENSÃO** - TÍTULO E IMAGEM: Graça Fontis/AFORISMO: Manoel Ferreira Neto
Munido de um orgulho, orgulho que chega a fazer da angústia uma tiara,
da tristeza o bezerro de ouro, da desesperança o a-núncio do prazer e da
santidade, pois que ela nos é de nosso dom e talento, da redenção; o orgulho
não me ad-vem nem vem, em verdade, de impotência, fraqueza, inferioridade, é
uma força, não arauto do invisível, é um poder, não um vício – é o grão de
areia na vertigem.
“E houve a busca
E há a busca
E haverá a busca...
E houve quem buscasse,
E há quem busque
E haverá quem buscará...
E não houve o buscado
E nem há...
E haverá?
Filhos do mesmo Pai,
Sem zênite, sem nadir,
Aprendizes da orfandade...”
A tranqüilidade fere-me o amor-próprio, o homem que não o sustentar em
vida não está amadurecido o suficiente para a compreensão de seus desejos,
fazendo-me sentir que a busca é nenhuma, e isto revelando, de alguma forma, um
tédio insofismável se apresenta ao espírito, e este se colhe e recolhe em
atitude de cuidado. A calma machuca-me a generosidade, obrigando-me a perceber
o desejo de interação com o outro é nenhum, e isto manifestando, em todo caso,
a solidão é indescritível. A negligência magoa-me a gentileza, forçando-me a
intuir a vontade de crescer, superar valores, atingir o absoluto que não
existe, mas com as atitudes sinceras e sérias, puderam existir, mesmo que só
para mim.
Soltas com o movimento, impulso, ação, borboletas esvoaçam sobre a
terra, e vão pousar nalgum galho de árvore no ápice da montanha, onde nenhuma
frustração, angústia, tristeza as condena a um amor sem esperança, carinho sem
fé, ternura sem confiança, respeito sem compreensão.
Nada mais complexo que delinear os passos do homem decidido a
reconstruir-se, atingir o sentido da vida. A vida não se esgota jamais. Há
sempre novos significados, outros símbolos, também outros obstáculos e
conquistas. Não quero dizer que o homem que tenha já conseguido a plenitude, e
estes estão sempre equivocados quanto a isto, tenha se realizado de modo
verdadeiro, contundente, é realmente intenso e imenso.
A irredutibilidade, sutil embaraço que se realiza amarrado à vida como
uma grilheta de condenado, repete de orelha certas definições alheias e guarda
silêncio ao descobrir o mistério havido na alma. Alguma coisa é mais que
pretexto, para sempre o inefável. Palavras, a sinalização diferente da estrita
pronúncia, indicam, implantadas na certeza e na evidência, o espírito para além
das imediatas sombras.
Grunhindo a destreza fechada e quase às escuras, seria fácil embastilhar
lá dentro a pirueta vencida aos pés do louco, queimaria a carne nas brasas do
sangue.
Acabo de retirar do fogo a mísera e formosa heroína de amores
desgraçados.
(*RIO DE JANEIRO*, 12 de dezembro de 2016)
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