**O INTER-DITO NÃO INTER-DITADO POR Maria Fernandes** - TÍTULO: Graça Fontis/MINI-ENSAIO FILOSÓFICO: Manoel Ferreira Neto
Post-Scriptum;
Maria Fernandes, eis o meu "ESPERANÇA" de Novo Ano, na sua Vida e
na sua Literatura, Poesia, este Mini-Ensaio do Poema SONHO INTER-DITO, de sua Autoria
Inter-ditam-se sonhos? Sonhos são inter-ditados? O questionamento
estende-se, esplende-se ao tempo: Inter-dita-se o tempo? O tempo é
inter-ditado? Tangente a este, não se lhe inter-dita, re-vela-se, manifesta-se,
pres-ent-ifica-se a todo o instante, mesmo que se possa acreditar não exista o
tempo. Mas se não existe, o sonho precede-lhe, ante-cede-lhe, só ele mesmo para
dar a luz ao tempo, fundamentando-me naquele dizer, quiçá adágio, quicá
expressão popular, quiçá até mesmo ditado, mas tudo acontece e se realiza no
instante em que as experiências e vivências se realizaram não apenas
intelectualmente, mas sensívelmente. Desde aquele momento em que se
manifestaram desejos, vontades, quimeras, fantasias, até a consciência do
sonho, ao longo do quotidiano, diante do efêmero, dialética, contradições,
nonsenses, buscas, querenças, desejâncias, diante do inconsciente, problemas
psíquicos, atitudes e ações de não, fugas, sublimações, a luz é dada, eis o
sonho. A este movimento "de... a", "de... à"
pres-ent-ifica-se o tempo.
Contudo, se olhamos com os linces doS olhos à questão de "sonho
dentro de outros sonhos, dentro de outros sonhos", percebemos o sonho é
inter-ditado, é preciso mergulhar profundamente para in-vestigar o que lhe
habita as entranhas, os sonhos que lhe habitam, residem-lhe, con-templá-los,
matar a sede de conhecimento dele para a busca da plen-itude da vida, caminhos,
sendas e veredas a serem per-corridas, seguidas, elencando os seus vestígios
desde a sua origem, e o tempo foi tornando realidade, o real, por in-termédio
das con-tingências, efêmero, eterno, nada.
Mas com-preendamos e ent-endamos o que é isto - Inter-dito? É o núcleo,
a essência, o eidos, a eidética do Dito. E o prefixo "inter"
significa "dentro, no interior de".
A poetisa portuguesa de origem e residência, Maria Isabel Cunha, na sua
mais recente antologia poética, editada e publicada pela Editora Versbrava,
inclui nesta antologia poética o poema SONHO INTERDITO, cujo primeiro verso é
"Por que tudo interdito...", que nos pro-jecta a inúmeras dimensões,
desde a inter-dição do "paraíso celestial", a inter-dição dos sonhos,
a interdição das esperanças, da felicidade, da fé, do eterno à inter-dição da
vida - aí enfatiza-se o termo "tudo". Tudo é inter-dito e o
inter-dito é tudo. O sonho também o é: "Tudo é sonho e o sonho é
tudo".
O poema segue os seus versos, e pós este vem o outro: "Sonho, sonho
apenas...". Atitude em sintonia, sin-cronicidade, harmonia, sin-cronia com
a realidade, contingência com a vida: diante de tudo, só posso dizer que apenas
sonho, tudo está inter-dito, nada posso fazer para superar, suprassumir isto.
Na vida. E na Arte Poética, Literária, tudo é também sonho, a sede do
conhecimento, da espiritualidade... Mas não é apenas uma afirmação categórica,
verdade insofismável e incólume, mas um questionamento em demasia vivenciário,
vivencial... A poetiza não deseja, utopiza "transcrever apenas sonhos",
ela quer "epigrafar" o sonho da Arte como a pedra de
"des-inter-ditar" o sonho da Vida que só a Poesia, a Literatura, as
Artes tem o dom e o talento de realizar. Do amor nasce a liberdade, diante da
re-flexão do genesis da Vida, entre-laçada ao amor e à liberdade, ela quer, e
para isto cria, re-cria, concebe dimensões, perspectivas, à luz da
"id-ent-idade" da Arte, da Vida, o verso-uno de si e da Arte. "
A este verso segue o outro: "Algo a que me ancore...", que em
princípio lança-nos à questão de quando o navio está afundando agarra-se à sua
âncora na tentativa do salvamento, no instante da contingência do conhecimento
"Tudo é inter-dito...", senão a fuga nada há que seja mov-ente da
vida. A poetiza, o poema não se entregam, não solidificam o "beco sem saida",
mas visualiza, vislumbra a esperança, a verdade, o que sossegam, amenizam,
tranquilizam, serenizam a solidão.
E aqui nos lembra o filósofo alemão Nietzsche quem diz o artista, o
filósofo carecem da solidão para os seus questionamentos, indagações, criações.
É na solidão que o poeta, o escritor, tanto quanto a Poesia, a Literatura que
os sonhos são des-inter-ditados, da investigação da vida ao longo dos sonhos
dentro de outros sonho do sonho. É a Arte Poética, Arte Literária que desperta,
des-abrocha, acorda para as buscas, a verdade que habita e reside o sonho da
id-entidade, do Eu, a Plen-itude da Vida.
O sonho, a vida atravessam "oceanos infindos/Voa espaços
escuros/Arrisca o cume, a própria vida/Dando ao sonho a guarida/De viver o Amor
Verdadeiro/O único que me preenche por inteiro."
O poema ainda lembra o eterno e imortal FERNANDO PESSOA, a segunda
expressão maior da Poesia em Portugal, depois de Camões, quem, através de seus
Heterônimos, id-ent-ifica-se e pres-ent-ifica-se isto do sonho dentro de outros
sonhos, a poeta finge, mas o fingimento é o eidos da busca do Ser, através de
suas inúmeras dimensões do Tempo. Assim, na poesia de Fernando Pessoa,
ilumina-se o des-inter-ditar-se do sonho, sempre um mergulho no Eu-Poético, no
Eu-Histórico, no "Eu Inconsciente".
A poetisa e escritora Maria Isabel Cunha neste poema traz-nos toda esta
re-flexão, mas de antemão às revezes espiritualizada quanto é no sonho que se
des-inter-dita a vida e é na vida que se des-inter-dita o Ser. A Heteronimia de
Fernando Pessoa se fundamenta nisto: des-inter-ditar o Ser.
Maria Isabel da Cunha neste poema convida-nos a "Des-inter-ditar os
sonhos", sermos nos heterônimos de nosso "Eu" a Verdade de nós
mesmos, já que a "Arte finge", "Os poetas fingem..."
(**RIO DE JANEIRO**, 21 DE DEZEMBRO DE 2016)
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