**À HUMANIDADE... DESOLAÇÃO E CONSTATAÇÃO JEGUIANAS** - TÍTULO E PINTURA: Graça Fontis/ AFORISMO: Manoel Ferreira Neto
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Todos
os homens são medíocres e todas as mediocridades são humanas" (Incitatus
da Fazenda dos Bois)
Não
sei o que pensar, imaginar, sonhar... Ah, quem dera na juventude houvesse
sonhado com o verbo de meu descanso, quando longe dos afazeres e
responsabilidades, entregasse-me ao cansaço físico, aos sonhos de amanhã tudo
ser diferente, sabendo eu que as coisas são iguais desde sempre, o in-verso do
inverno, são as inspirações que sinto e imagino na solidão, abandono; são as
lenhas que nunca tenho para me esquentar, sentir-me acolhido e amparado no
mundo, o símbolo de minhas atitudes e sonhos de realização.
Quem
sabe fosse melhor ater-me à única realidade de que disponho, sendo a raiz do
asno que sou, represento nesta comunidade, que presencia todos os dias
Incitatus da Fazenda dos Bois subir ou descer ladeiras, ater-me exclusivamente
ao fato de que a minha função é justamente esta, não haver qualquer condição ou
possibilidade de superá-la, reunindo valores, tornando-os reais, quem sabe até
tendo a certeza absoluta, a espiritualidade que “todo real é racional, todo
racional é real”.
Mas
isto faria com que absolutizasse a minha condição, a saber, seria para sempre
asno. Não sabendo que, em princípio, desembestado pelas ruas, achava ser
possível os pensamentos e idéias ficarem para trás; depois da consciência de
ser impossível, tranqüilo e lento, refletindo como tornar estas palavras húmus
de esperança para os homens.
Confesso
haver acreditado que, desembestado pelas ruas, me fosse possível deixar os
pensamentos e idéias para trás, a cenoura ser o símbolo de que, com trabalho e
maestria, o dom de puxar a carroça, de modo que ela realize a realidade, se
assim posso dizer, por não encontrar o termo adequado no momento... A cenoura é
símbolo de uma realidade, a gosto e paladar de quem deseja interpretar, os
sonhos serem impossíveis, os desejos serem feitos e criados para não se
realizarem, ao menos nesta vida, e sempre, desde “burrico recém-nascido”,
ouvira dizer e mudado os dizeres, respeitando o que os homens dizem que traz
desde toda a eternidade no inconsciente, a saber, “a esperança ser a última que
morre...” Não diria assim. Diria: “A esperança ser a última que vive...”.
Morro, ela fica aqui no mundo.
E não
é verdade? Dizendo a esperança ser a última que morre, nalgum recanto do tempo
dirá adeus à vida. A esperança também é mortal. Agora, dizendo a esperança ser
a última que vive, mesmo com a extinção do ser humano na terra, ela ainda
viverá, esperando que outros homens nasçam, acreditem nela, prolonguem a vida.
Numa a continuidade tem limites, na outra é ilimitada. O que os homens desejam
desejar é que ela nunca morra. Então, deveria dizer: “A esperança é a última
que vive”.
Quem
sabe a esperança seja de algum dia os homens acreditarem que asno fora capaz de
tudo isto pensar, crendo piamente que as palavras são a verdade indiscutível,
ninguém outrora pensara tanto que a orelha menor se tornou a maior,
vice-versa...
Acreditei
que andar desembestado faria com que os pensamentos ficassem para trás, à
frente o sonho de encontrar o sensível, aquilo que realmente sinto... Se
escolhi as palavras?
(**RIO
DE JANEIRO**, 12 DE DEZEMBRO DE 2016)
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