**O RELINCHAR IRÔNICO DO ASNO FILÓSOFO!** - TÍTULO E PINTURA: Graça Fontis/AFORISMO: Manoel Ferreira Neto
De início, lastimou o homem não ser quadrúpede. Poderia plagiar
Aristóteles, ao dizer: “O homem é um bípede implume”. Não saberia informar com
certeza se o filósofo é este, crê ser pré-socrático. Não sabe se lhe atribuída
por ser modo de ridicularizar a filosofia. Quanto à frase, não sabe afirmar se
ipsis litteris foram as palavras. Ouvira-as com clareza, soube do verdadeiro
acontecido, mas de quando em vez a sua memória falha um pouco.
Diria: “O homem é um quadrúpede...”. Não. O homem é bípede, hoje,
amanhã, seja em qual século ou milênio. Com o que completaria a idéia,
conservando a ironia? Saiu pela manhã para comprar cigarros, pensando o que
deveria ser. Deveria ter anotado o que imaginara, as imagens que se lhe revelavam
para aprofundamento maior a partir de imbecilidades que surgiram na mente, a
ironia, cinismo. Não o fez. Nada encontrou de importante, algo que esclarecesse
os mistérios desta simples frase, deste pensamento ridículo, o homem jamais foi
ou será quadrúpede. Tratou de imaginar outras situações para empreender o
desejo de algo escrever. Surgiu-lhe o interessante, conservando a ironia
atribuída ao filósofo, seria substituir “homem” por “asno”: “O asno é um
quadrúpede pensante”. Quadrúpede, desde a eternidade, é-o; pensante, até à
eternidade, não o é. Dizendo respeito ao homem, a história é diferente.
Posso relinchar que desde algum tempo não muito distante, não muito
próximo, comecei de aprender a não criar expectativas, de deixar as coisas
acontecerem sem que estivesse eu a esperá-las; comecei de aprender que devo
agir de modo simples; acontecem as coisas, ajo de modo até o mais esquisito
possível, permaneço na postura de estar contemplando o acontecimento como algo
que há de vir, algo que há de nascer não sei eu quando.
Não saberia dizer como não perdi o hábito de olhar de esguelha para
determinadas situações e pessoas, como se elas fossem a razão de a morte
refletir a sua sombra na sepultura...
(*RIO DE JANEIRO*, 13 DE DEZEMBRO DE 2016)
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