**OBSERVÂNCIA AMPLA/IRRESTRITA - UM OLHAR VAZIO DO NADA** - TÍTULO E PINTURA: Graça Fontis/POÉTICA DA PROSA: Manoel Ferreira Neto
Silêncio do nada. Silêncio do eterno. Ouço o
silêncio do mundo.
Se etern-idade houvesse, simplesmente simples a
simplicidade do silêncio habitar o nada, quê delícia deliciosa ouvir as vozes
do nada declamando o soneto do deserto, em cujas semânticas e linguísticas o
epitáfio da vida estaria plen-ificado de epígrafes da morte, espírito e alma,
enchafurdado no inferno das metafísicas, nas psicanálises do inferno.
Ventos de leste. Sibilos de norte. Horizontes.
Uni-versos.
Nos horizontes, começam o caos do in-fin-itivo
verbo-de ser, terminam o cosmos das in-trans-itivas con-ting-ências do nada
perfeitamente encalacrado nas travessias de nonadas, pontes partidas para os
éritos do genesis, éresis do anti-princípio da terra, e dizem que a
des-esperança do ser-verbo da plen-idade será vencida pelos terrenos baldios do
mundo - simples a incólume sorrelfa do in-audito, sem a terra como podem os
corpos humanos estarem em trânsito, sem o mundo como podem as con-ting-ências
do absurdo se elevarem e buscarem a espiritualidade do ser na pedra de toque
angular dos trans-itivos diretos e indiretos? - simplesmente um vazio obtuso
circun-dando a etern-idade, vazio de sibilos do vento, vazio das raízes da
castanheira, vazio das náuseas do absoluto, vazio pleno do mundo.
Circun-vagando ventos de leste eivados de dimensões
futurais do longínquo, por onde passarem, inda que sibilando serenos, o
longínquo é a meta, linguagem não do destino, desde a etern-idade até à
eternidade pre-determinado, mas onde re-festelar-se, sibilando-se de silêncios,
até o instante de prosseguir, o longínquo é apenas porto para o In-finito, o
uni-verso é o olimpo, encontro de todos os sibilos, sin-fonia de eter-idades
aos ritmos e melodias do ser verbal nas regências da plen-itude, cujas seivas
do espírito divino trans-elevam esperanças e sonhos às égides do pétuo-per dos
prazeres e desejos.
Ventos de leste. Sibilos de sul. Porque seria
pergunta mais que percuciente no trans-curso, percurso dos ventos a esperança é
sempre a música idílica da perfeição que ad-mira as imperfeições por ser ela o
verbo "in", por ser ela o sorumbático das melancolias, nostalgias e
saudades das meiguices insolentes do inferno.
Se a etern-idade nadificasse angústias, náuseas, se
nadificação houvesse na etern-idade , habitasse-lhe as pre-fundas, simplesmente
simples a simplicidade de conjugar os verbos defectivamente para o ser preceder
o não-ser, para a morte preceder a vida.
Praça da República. Oito e meia da manhã.
Esquizofrenia, psicopatia, alienação mental. Menino
louro, olhos azuis, rosto magro, quatro anos de idade. Olhos de sobrenatural demência.
Aspecto de quem observa as coisas e não as vê. Lugar vazio. Mostram ali terem
estado várias coisas. Tiradas e nunca devolvidas. Acusando-se por sinais
visíveis, feitos à custa do tempo. Perdeu o contato direto com o mundo, este
empreende viagem, além das retinas. Assistem a mulheres, encostadas à porta das
lojas, esperando a vez de se entregarem. Defendem a sobrevivência – cama nua e
crua. Fingem gozo. Não sentem o momento de tudo Ter qualquer revelação e voltar
ao normal. Se o tempo houvesse sido outro e não o que foi. Instantes sucedem-se
e, sucedendo-se, param segundos.
É verdade sim que os homens desejamos viver alguns
momentos que vivemos, mas com a visão-de-mundo que possuímos hoje, com certeza,
descobriríamos verdades inestimáveis, e foram as que não sentimos.
Sensibilidade não tem tempo, nem idade. Há experiências mais lúcidas. Sei-o
Quanto o sei neste segundo em que não há palavras para definir o que quer que
seja, e tão só penso e sinto, ou busco sentir. Os sentimentos... Tudo vem à tona,
à superfície, após um reencontro com alguém a quem amamos e desejamos tudo, o
mundo.
É muito fácil explicar os paradoxos, as
contradições. Falo de duas coisas diferentes: por um lado, daquilo que a
verdade estabelece, e por outro, daquilo que eu chego a saber por experiência
pessoal. Certamente que não li em nenhum compêndio, embora naturalmente deve
estar estabelecido aqui que o inocente deve ser absolvido, portanto, não se
estabelece nela que se possa influir sobre os homens por meio de relações pessoais.
O menino não grita. Não chora. Chama por alguém.
Ali, parado, olhando as coisas sem nada enxergar. Limita-se à posição estática,
chupando o dedo. Não tem consciência de tudo estar emergindo e dando espaço a
outras coisas que vão imergir até que nada haja. Ali, sozinho. Nada surge. Os
acontecimentos estão diante dele a exigirem participação. Mostrando-lhe tudo.
Atitude instantânea. Embora não o seja tanto. A demência não lhe permite.
Levanta-se. Dirige-se à beira da lagoa. Próximo ao banco em que estava sentado.
Tira a calcinha. Segura o sexo. Jorra água aos poucos. Tudo, parado. Observa a
ação. A mãe olha. Pasmo e terror. Somos os únicos que presenciam. Nada diz.
Saio. Caminho. Nada para fazer. Rua da Consolação.
(*RIO DE JANEIRO*, 17 DE DEZEMBRO DE 2016)
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