**PONDERAÇÃO QUANTO À DUBIEDADE DOS SENTIDOS** - TÍTULO E PINTURA: Graça Fontis/PROSA METAFÍSICA: Manoel Ferreira Neto
Post-Scriptum: Há pres-ent-ificado algum tempo que Graça Fontis não
apenas ornamenta as minhas "coisinhas" com suas pinturas, mas também
está intitulando-as.
Estou amando de paixão os títulos dela, inteligentes, sensíveis,
inspirados, pois que neles ela põe o seu olhar no que há atrás da poesia, que
são a Literatura e a Filosofia, intitulando nas dimensões da prosa
filosófica-literária, da filosofia prosaica-filosófica. Só tenho a passar a mão
no toco de Brejaúba por Graça Fontis re-colher e a-colher no título a prosa. Os
títulos meus estavam centrados na poética metafísica, e a prosa filosófica
inter-dita. Assim, ela re-vela lucidamente a estética da prosa filosófica que é
diferente da poética. Com efeito, Graça Fontis mergulha nesta síntese da prosa
filósofica e da poesia estética que, nos seus títulos, ainda a grande presença
da contingência.
Não é por ser ela minha esposa que teço esta consideração, teço-a por
ser companheira das Artes, amo as pinturas, as poesias, os títulos, amo-a, mas
a minha obra prescindia da re-velação da prosa filósofica, a sua imensa,
inestimável contribuição.
Beijos, amada esposa e companheira das Artes.
Temos raiz e temos abertura. Somos como uma árvore, fundados no chão que
nos dá força para enfrentar as tempestades. Mas também temos a copa, que
interage com o único, com as energias cósmicas, com os ventos, com as chuvas,
com o sol e as estrelas. Sintetizamos tudo isso, transformamos em mais vida a
nossa abertura. E se não mantemos a abertura - a copa -, o mundo estiola, as
raízes secam e a seiva já não flui. Morremos. A dialética consiste em manter
juntos o enraizamento e a abertura. Imanentes, mas abertos à transcendência.
...A não ser que re-torne para plantar na terra a semente que gerei...
Meus sonhos são tão poucos os meus sonhos. Minha alegria é tão pouca a minha
alegria. Não sou mais que uma combinação incerta de dúvidas e certezas, de
acasos e encontros, de amor e de ódio. Em busca de um momento, em busca de uma
flor, hei-de fazer-me verbo como se fosse palavra, dar sentido, ser esperança
de encontro, colher a mensagem que a primavera deixou. Ombros frágeis são os
meus para adormecer no tempo a graça da Criação de Deus. Eis o homem!... Eis
Deus!...
... A não ser que busque a semente que pensei plantar e a guardei,
dizendo que não era inda o tempo de os frutos nascerem, era preciso esperar o
tempo, era preciso esperar nos momentos. Quem sabe?!... Uma vez dissolvida as tensões
e livre a alma de suas angústias, depressões, fracassos, remorsos e culpas,
pode-se usar tudo o que existe na literatura para mantê-la livre, e talvez até
uma forma abreviada de psicanálise. Cada alma desesperada possui um útero de
esperança que está pronto a lutar pela realização dos desejos e sonhos, pela
sobrevivência e imortalidade...
“A sina de ser”, o destino de cont-ingenciar o quotidiano,
O elo de todas as coisas, flores são espetáculos da natureza,
Liberdades são cenas eivadas de ternura e carinho,
“instante de sedução”,
Querer brincar com estrelas, correr campos, velejar,
Beber a sede das ruas, queimar a luz do luar,
Lavrar o corpo no grito.
Signo de metáforas nascidas de vigília e palavras
A pincelarem imagens do imortal e divino
A preencherem os vazios da falta de ser,
“manque-d´être”,
Da ausência de alegria e prazeres,
Pedras sagradas, diamantes profanos
Que rimam palavras sutis, que ritmam dores
São sentimentos de luz inspirados
No brilho das estrelas e da lua mineiras.
“FLOR DO VALE” ouço, a água me confia uma boa nova, entreolhamo-nos
ambos, nossos corações se unem, nossas almas comungam prosas e versos, nossos
espíritos se aderem nos dedos que deslizam desde a proximidade do violão ao seu
fim, e criam a sensação de plen-itude e eternidade, com pensamentos idênticos,
contentes de termos recebido e cumprimentado com reverência a mesma resposta à
mesma pergunta, que traduzo em termos de minha sensibilidade como a noite que
vem, como a travessia que devemos tornar real e cristalina, que devemos sentir
no interstício da alma que diz “quem sabe e não diz não é feliz”, que a-nuncia
a transparência e claridade de todas as labutas em in-off, transcendidas em
últimos raios numinosos que cobrem o mundo e a terra da divinidade dos amores,
os solos da infern-idade e inspirado neles os mineiros criamos e in-vent-amos
outras luzes e sombras de nosso desejo maior e divino, que é o de liberdade,
ainda que tardia, e nem sabemos em palavras dizer, mas criamos no espírito os
sons de luzes. Nada há em mim de conhecido, de sabido, tudo fulgura em
re-velação, re-novação, em sons de luzes, em luz de sons que cantem a pessoa
inteira, O SER A SER SENTIDO E CON-TEMPLADO NA CONTIN-UIDADE DOS AMORES E
DESCONSOLOS DOS SENTIMENTOS, das emoções o paladar da alegria misturada aos
sarcasmos e ironias da palavra, aos cinismos e galhofas dos sentidos e
significados, que re-flui da presença do meu corpo para a evidência que o
ilumina, eu, eu, quê solipsismo é este, que vaidade é essa, que cogito
cartesiano intensiono re-criar à luz da simples verdade do andar pelas ruas da
cidade, a pessoa inteira que me agrupa em unidade o desamparo das mãos, a
indiferença entendida da fertilidade, da feminilidade que as enchem de “beleza
do interior”. Seguro as luzes, os sons, os ritmos, arranjos, melodia com as
mãos em concha, sinto que uma vida estranha, estrangeira, não re-criada ainda,
original como um início, sei que isto nasce para os sons sem silêncio, onde sou
apenas emoções que, através da reminiscência, possuem uma vaga idéia da esfera
do inteligível, em que algumas vezes habito.
(**RIO DE JANEIRO**, 27 DE DEZEMBRO DE 2016)
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