**COMENTÁRIO DA AMIGA IRACEMA ALVARENGA AO TEXTO //**VERSÍCULO DE SILÊNCIOS, CÂNTICO DE LUZES**//**
Toda obra de arte deve ser, também, socrática, isto
é conter questionamentos, vivências, encantamento,celebrar a vida, "versículos
de silêncio e luzes", sonhos, força para prosseguir nessa jornada do
existir.Suas palavras são intensas ao expressar "...vontade de fazer,
realizar: a vida ser a semente do in-finito, o amor ser o companheiro desta
viagem."Bravo! Manoel ferreira Neto.
Iracema Alvarenga.
Se me con-sinto deixar a vida ser em mim, ser ela a
guia da minha existência, ela é semente do infinito, ela é dádiva da
plen-itude. Deixei a vida ser em mim, ela são as letras, os sonhos e as
esperanças, utopias. Sonhei o amor, dediquei-lhe momentos de reflexão, pensei
com carinho nele, mas como unicamente companheiro da vida, não a vida, a vida
sempre me fora plena, a existência me fora completa. Hoje, a vida me sussura:
"Consentiu-me ser sua guia. Faz-me sua companheira. Isso é o que lhe falta
para abraçar o In-finito. Amor da con-tingência, muitas vezes, preenche só
vazios".
VERSÍCULO DE SILÊNCIOS, CÂNTICO DE LUZES
Meu Deus, o que se anuncia ao espírito, quando crio
estas imagens, que me alegram e felicitam em demasia, que me extasiam, sou
saltitâncias e prazeres, como se por momentos deixasse este lugar em que estou,
fosse residir aquém e além de todas as aspirações, desejos, sonhos, são estes o
que me definem, outorgam-me o caráter de homem, indivíduo, cidadão, são estes que
revelam a minha existência neste mundo!...
Nunca entendi a razão de não con-sentir a vida
oriente, guie, mostre, envie ao vir-a-ser, mande no ser. Não entendi, quis
fazer isto por conta própria, quis mandar em mim. Nada consegui. A vida manda
em mim. Estou-me entregue plenamente a ela. Todos os segundos e minutos são
dela - posso até encontrar um tempo para alguém, entregando-me plenamente, mas
o resto do tempo é da vida. O amor necessita a des-aprender a desejar o nós
unilateral, deixar a vida voar, não lhe ceifar as asas. Deixe a vida voar por
terras distantes.
Pudesse por inteiro compreender e entender o futuro
que construo para mim, o que tenho vontade de realizar, possa olhar a terra, os
sonhos e utopias que irão saciar as fomes e sedes que em mim perpassam os
séculos e milênios, e que sigo em frente sem pressa, ao som de silêncios que
executam a ópera. Não posso faze-lo, pouco é o conhecido por mim, e por isso
mesmo é que sigo buscando traduzir, ao viés de ilusões e fantasias, ao in-verso
de quimeras e sonhos, se assim posso dizer, mas que no inverno sou quem olha as
montanhas e intui de por trás da neblina.
Por que de imediato se apresentou ao espírito que
não me era possível continuar a registrar as palavras, nunca o fiz, e isso
significa que as dificuldades são imensas e árduas, e resta nos lábios o desejo
de outras palavras que ao menos possa justificar as ingenuidades e inocências
de antes? Seria ridículo e risível se inscrevesse “talvez por estar retornando
às origens, buscando me redimir de algo que nunca fui capaz de realizar, e só
me resta daqui para frente buscar elucidar e transparecer à luz de esperanças e
sonhos”, “quem sabe por a inspiração haver se anunciado de modo e estilo que
não posso me afastar dela, mas articular o que mais tenho vontade de realizar”.
Deixo de lado estes estilos de me anunciar, e com
todo o esforço e consideração, busco representar com sinceridade e fidelidade
ao que se me manifesta bem profundo, para dizer que a intenção é de prosseguir,
prolongar-me, criando, recriando as imagens, as cenas, as perspectivas, sei lá
de que, não me interessa “escarafunchar”, como se diz na gíria, na linguagem
popular, depende muito do olhar que se dirige ao horizonte no crepúsculo ou na
alvorada.
Afastei-me da escrita, levantando e indo até ao
mostruário de fotografias tiradas em épocas diferentes, fases diferentes,
diante dessas e daquelas situações. O que significaria esta atitude se estou
criando, buscando elucidar os silêncios e luzes que poeticamente me habitam,
anunciar a orquestra de serras e águas que desfilam no íntimo?
Retorno-me à cadeira de balanço, pondo-me a ouvir
música, uma linda balada que me balança na rede do tempo e das esperanças,
estas que construí com as linhas de versículos e salmos de luzes, sei lá vindos
de que lugar, acredito até que sejam estrelas que vão me seguindo ao longo de
cada letra e palavra que escrevo e deixo irem transformando os sentimentos,
elevando-me, con-templando a jornada a que me entreguei, sabendo de antemão e
revezes que os caminhos serão infinitos, sem fim, mas que me alegram a cada
passo dado.
Diria até que hoje me encontro em demasia
extasiado, iluminado, inspirado, para estar a dizer tantas coisas, sinto como
houvesse a torneira do tempo e dos sonhos, deixando a água fluir lenta e serenamente...
Se lesse agora, não saberia se entenderia e
compreenderia, o que me impediria de terminar, de seguir livremente, de dar
asas às quimeras e ilusões, estas que me dizem a todo momento que os indivíduos
e homens podem com entrega descobrir que o desejo de amor só vive de entregas,
embora isto tenha não sei quantas vezes dito, em outras palavras.
Não o faço. Prossigo ao som da música que ouço
tocando, enquanto escrevo movimento o corpo em sentido de estar dançando,
deixando as imagens se anunciarem profundamente, e tudo o que desejo é
mergulhar nelas sem nada exigir, sem nada esperar, realizem-se através das
palavras, estas possam realizar as imagens, em harmonia e sintonia.
Interrompi-me. Tempo para respirar e continuar. Não
fora longo, não fora pouco. Buscava ainda mais inspirações e intuições para
anunciar o versículo que insisto tanto que se faça verbo e se revele água que
sacia as esperanças e utopias.
Verbo tornado água – poesia. Não tenho dúvidas, mas
se revisito as imagens que me surgem ao espírito dos caminhos de Deus na
humanidade só consigo pensar e sentir que Ele, se revelou a água, o Verbo que é
se tornou o húmus de nossos silêncios.
Jovem, ouvindo estas músicas que ora ouço,
satisfazia-me entre quadro paredes, inúmeros sonhos a visitarem-me, deixando-me
suas sensações e intuições, hoje, ouvindo, são as intuições e sensações que me
habitam e que busco tornar sonhos... Pudesse eu agora sair dançando e cantando
pelas ruas da cidade, em passos de dança e de alegria, entoando os versículos
de silêncios e luzes, fá-lo-ia em outro estilo que o da juventude.
Posso, entretanto, a partir das vivências e
experiências ao longo destes anos todos após a juventude, sonhar com as fontes
de águas a me saciarem a sede, a darem-me forças para prosseguir, e de olhos
bem atentos vou armazenando no espírito e recriando em harmonia e sintonia com
o que mais tenho vontade de fazer, de realizar: a vida ser a semente do in-finito,
o amor ser o companheiro desta viagem.
Manoel Ferreira Neto.
(30 de janeiro de 2016)
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