**RELÓGIOS DE TEMPOS**
Quiçá
torne-se ineludível aos tempos quais forem, quais não, desde esta linha, a
Apresentação da efemeridade dos instantes, fugacidade das seguranças, certezas,
verdades, plenificando o som de sinos,
que entoa não ponteiros, mas a lírica, ritmo, arranjo, a música, enfim!...
Instante em que o Verbo se torna Carne no Novo
Ano, sendo 24 de novembro de 2003, desde então até...; a continuidade assim
esboçada, português claudicante. Isto efetivando, contemplo desejos!... Com
filosofia, não há encetadura, muito menos introdução, com literatura não há
tecitura de re-versidades do inaudito, com poesia, não há tessitura de enredos.
O
porquê inverter não entendo; consciente estou. Por que ora principiar,
concluindo dia 1º de janeiro? Comum é tomar da pena, imaginar o início de Ano
Novo, sonhando ser hoje, criando. Estranho imaginar, sonhar hoje? Talvez
resposta haja não; só indagação. A recíproca é obscena: ser hoje 1º de janeiro
de 2004, escrever em 24 de novembro de 2003, imaginando ser início de outro
ano.
Contemplação
maior a rimar apelos de sussurros, oscilando entre o sonho e espírito, em
manhãs de janeiro, silêncios de vontades neste comenos de invernos. Através da
magia, efetuar sonhos que ora são quimeras, entregar-me, de corpo e alma, às
esperanças iluminadas, à visão eterna da Divindade.
Quem
sabe as utopias revelem-se espontâneas, sentidas sejam em uníssono, sejam em
sin-cronias, sejam em sin-tonias!... Oportunidade para ofertar divina lição, o
fundamento só podendo ser o projeto, e o deste, a esperança – agora a língua
embai-me, não sei se a clássica ou erudita professa “cujo fundamento é a
esperança” ou este que escrevo, até me orgulhando de saber as estratégias da
língua: por haver o verbo “ser”, “... só podendo ser o projeto...”.
Para
respeitar estilo e poética, omito o verbo “e o deste, a esperança”; sem esta,
para quem, porventura, se lembra do Reino de Deus; sem o projeto, para quem,
acaso, abrigue Deus no espírito, contemplando a PAZ, a VERDADE...
Quem
a outrem, que en-vela e re-vela, não poderá, Senhor, libertar-me das
correntes-algemas as mãos rápidas de gestos?
“Realizar em mim a síntese da humanidade, quem
sabe - desde as mais profundas utopias
do indivíduo até às dos homens por inteiro, de todos os relógios de tempos, num
só segundo múltiplo, ambíguo, profuso, completo e distante - seja sonho de
criação que me deixa a sentir tudo de todos os modos possíveis, conquistar
aquela parte do desejo de amor que confino com a melancolia, a nostalgia, a
saudade...”.
Talvez
não fosse necessária a ênfase dada com o artigo, colocando apenas “melancolia”
após, seguida de “nostalgia”, “saudade”, sem o “a”... Talvez ela preenchesse o
vazio que insiste em existir, o nada que persiste ser o guia nos pampas à luz das distâncias ao horizonte.
Recolhendo-a, acolho-a. Não sei dizer o que motiva. Importa?
Quem
sabe por com filosofia não ser possível entendimento de sonhos adentro desejos
de iluminação e consagração. Importa o sentimento a preceder o relevo, neste
segundo ambíguo, destituído de medos. Importa o espírito a habitar-me ora.
Acontecendo
de dizer a alguém do amor que me habita, com-(templ)-orando a vontade do
frescor a emanar-se do solo a cada passo que realizo no campo, em relação com a
natureza, nuvens passam dedos por cima da luz e corre sibilo de vento nas
tardes, às vezes, calmas, às vezes, tranqüilas. Miragem que é oásis de alegria,
que enche os olhos de fé, esperança, e faz-me forte, mirando o tempo com
desvanecimento.
Abri
ao léu (...) – isto de não dizer o título da obra, colocando parênteses e
reticências, procedimento científico, de cujo silêncio retirei esta ópera, com
alguma alteração no original, significa mistério – e, numa página qualquer,
encontro sublinhada, com colchetes, à direita e esquerda, o que está escrito,
entre aspas, em itálico... Fora realizado nalgum dia de setembro a dezembro de
1999. O estrangeiro sonha o AMOR na terra dos diamantes. Quanta mudança
efetivada!...
Considerando
projetar-me num futuro próximo, e escrevo - Dia da Confraternização Universal,
– há-de se considerar os verbos a roçagarem-me, de leve, corpo e alma; em
verdade, restam trinta e sete dias para este ano concluir-se, inda recorro a
algo escrito faz anos; sugere então tudo ser passado, a idéia de mergulho no
futuro, realizar o húmus que, penso, preencherá algo de vazio dentro, cai por
terra, e tudo não passará de busca?
“Homem
Sublime”, entendo a existência ser Caminho de Luz nas Trevas, Caminhos do Campo, aproximação,
distanciamento, toda dor seja no tempo, pertença-lhe, do modo mesmo das
angústias, tristezas, com que os homens nos afligimos, ajoelhamo-nos e rogamos
a Deus compaixão e solidariedade!...
Com-preendo os tempos des-ocultem valores
profundos. Aí, pensei projetar-me, escrevendo de um só fôlego, modificando aqui
e ali, conservando a estrutura, findando em 1º de janeiro de 2004, ano que
suprassumirá os já passados desta década, século e milênio, não sei dizer o
porquê e como se realizará esta suprassunção... Ah, este desejo de a Vida
coincidir com a Irmanação!
Talvez,
“Homem Sublime”, todas e quaisquer felicidades, prazeres, exultações, tudo
quanto haja de risível, sejam, por mim, apreendidos, transformando silêncios,
vozes, totalidade dos sonhos e objetivos, dores, sofrimentos, prazeres e
delícias... Todo o Bem e todo o Mal que me habitam... Tudo isto - a fonte do
rio dos fados, ouvindo-lhe o anseio, desejo, sonho, coro de muitas e serenas
vozes, cessando de unir a alma a determinado som que inda desconheço, sibilo
que, entre serras, manuscreve o pórtico partido para o Impossível.
Palavra
a mais e começo a sentir tudo ser criação; a síntese das experiências
transformou-se em poesia, construiu a essência da comunicação com Deus, com a
Humanidade - aquela esperança de, subitâneo, perder-me em todos os sonhos aí,
sedentos de realização.
A
poesia revela-me êxtase; arrasta-me, palavra após outra, profunda, inteligível;
contudo, o universo é imenso, transcende montanhas. Tal a origem da
espiritualidade, sensibilidade; a das esperanças que, em mim, dentro trago.
Porventura, em 4002, alguém leia, tentando des-ocultar o que há de ineludível a
todos os tempos, quais forem, quais não, o mistério da mensagem suscita dúvidas
e incertezas...
O
sentido está em, do íntimo, abrir-me ao outro. Quero viver, não sei fazê-lo;
assim, encantado, escrevo para me pertencer, o que soube o perdi, o que pensei
já o foi. Tudo é ser quem não sou.
“Falta
algum tempo para o sol nascer”. Madrugada. 1º de janeiro de 2004. São 2 e
trinta e oito.
Quiçá,
pleno de méritos, habite este tempo, esta terra!...
Manoel
Ferreira Neto.
(27
de janeiro de 2016)
Comentários
Postar um comentário