**IPSIS LITTERIS SOLTO** - Manoel Ferreira
A minha ausência não será insofismavelmente uma ausência, Versos a
suprirão ao longo da eternidade. Escrevo porque escrevo - Não há razão em
escrever - não apenas para tecer palavras - arrematar no inter-dito os
sentimentos inconscientes - que nada dizem, nada expressam, mas para quebrar
esse laço, des-atar esse nó górdio e ter o livre arbítrio, o ipsis litteris
solto, ou a oportunidade em aberto.
Escrevo porque escrevo - a razão não me id-ent-fica palavras ou termos,
porque motivos não há para id-ent-ificar - e convicto, persuadido, convencido e certo de que em algum lugar qualquer, Cochinchina, Europa, Brasil, há
de alguém estar dando um empurrãozinho e rolando nosso mundo incerto, errado
morro abaixo, levando a rocha de nossa história inconsequente serra acima.
Escrevo não para "encher lingüiça" - por que o faria, se ela
perdeu o trema? -, não por mero passatempo - o tempo passa porque o tempo
passa; não são palavras que vão interferir nos seus movimentos - que ficou em
aberto, que ficou por ser preenchido, mas por sentir na carne, no sangue que
corre nas veias, nos ossos, no ego indeciso do eu, no superego exacerbado do
outro de mim, in-decifrável, in-inteligível, corrupto, marginal, nesse
murmúrio, sussurro, grito presos, engasgados, atravessados, entalados na
garganta ainda em aberto.
Escrevo porque é o único modo de manifestar-me, re-velar-me,
id-ent-ficar-me, car corpo, carne, ossos e verbo, e forma a um pensamento
abstrato, a um sentimento trans-cendente, a um desejo que perpassa no além de
mim e em aberto.
Escrevo para quem escrevo e não para me ilimitar, reduzir, espoliar-me,
e não para cortar, des-atar esse cordão umbilical insofismável, incólume,
indubitavelmente preso, enraizado, algemado a essa chama acesa e em aberto.
Manoel Ferreira Neto.
(30 de janeiro de 2016)
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