**SONHO DE PALAVRAS** - PINTURA: Graça Fontis/PROSA: Manoel Ferreira Neto
Escrever nada, nada escrever, as linhas vazias de quaisquer símbolos,
página nívea - o que são as coisas advindas dos hábitos, os olhos mergulhados
no papel, vendo atrás palavras às reversas, registradas da direita para a
esquerda, sentidos ambiguos, significações dúbias, puras sorrelfas dos ventos a
perpassarem o tempo, colinas, picos, montanhas, sarapalhados pelos
horizontes... Palavras? Isto é verdade? Não seriam frutos da fertilidade da
imaginação, da criatividade? Nada escrito na página como pode ser visto atrás
dela?
Escrever nada, nada escrever, deixar as palavras desfrutarem livremente
as linguísticas e semânticas, brincarem serenas e tranquilas com os signos e
símbolos, sob a sombra das metáforas, metáforas do lúdico ingenuamente
seduzindo o belo, metáforas do in-audito conubiado de silêncios e solidão,
paquerando o in-finito que simplesmente sin-estesia-se leve com a cintilância
das estrelas e brilhos da lua, degustando a fresca da escuridão que lhe
acaricia os abismos do ser, metáfora do nada bailando ao som da cítara do
eterno as performances do sublime e ipseidades das utopias do divino, nas asas
dos desejos e volos as travessias, de travessias em travessias novas miríades
de luzes, luzes, arco-íris-de-luzes, serenidade, tranquilidade, viagem, somos
estradas a serem per-corridas, a serem criadas, a serem "re-fazidas"
- isto sim, esta é a palavra - ao longo e à mercê das neblinas e das tempestade
de ventos tecendo de sonhos o além, o vir-a-ser, o há-de ser inevitavelmente, o
porvir, por vir, e trilhando, trilhando a vida, trilhando a vida, caminhantes à
cata do eterno sublime e o sublime do eterno,
viagem-ilusões-fantasias-quimeras-verdades-in-verdades, e as dúvidas,
inseguranças, medos, e por sermos esta viagem aquilo de "olha aqui, seu
moço, a vida me espera, tenho prosseguir... Inté..." Paisagens e mais
paisagens, lindas imagens, a-nunciações, re-velações do futuro, do ali, do
acolá, por vezes aquela dança de saltinhos, de saltinhos em saltinhos a
per-cor-rência, ritmos, melodias, musicalidade, o baile de di-versões e
curtições, mas a vida está mais adiante, bem adiante, caminhantes do eterno, a
vida de palavras que verbalizam nossos sonhos e esperanças, jamais serão os
mesmos e nem similares, e nas asas da aguía-das-etern-itudes a viagem prossegue,
segue as suas sendas e veredas, sonhos de palavras, nada escrever, escrever
nada, simplesmente olhar a página vazia, e tudo isto atrás do caderno,
sarapalhado pelos uni-versos e horizontes de toda a eternidade, uni-versais,
mundiais, a cada aceno de mãos aquele banquete dos deuses, saboreado de uma
vaca-atolada, regado uisque brasileiro, o baile, mas é chegada de hora de
partir, voltarei algum dia, a esperança, a vontade, o desejo do re-encontro,
eis que um dia eventualmente acontece, mas sempre seguindo, "uai, sô, a
vida está ali adiante, ela me esperança de braços abertos, tenho de seguir,
mineiro sabe como são estas viagens pelas terras, nada de palavras, palavras de
nada, nada escrever, escrever nada, veredas e veredas a serem trilhadas,
caminhantes do eterno, saudades, nostalgias, melancolias, dores e sofrimentos,
tudo tão natural, tudo tão pers das pectivas...
(**RIO DE JANEIRO**, 19 DE MARÇO DE 2017)
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