NADA NO VÁCUO (?) - PINTURA: Graça Fontis/CRÔNICA: Manoel Ferreira Neto
Bons dias!
Sinto dizer que me não é dado saber com que
espírito levantei nesta manhã de sexta-feira, muito sol, ventinho marítimo
agradável, se de absoluta troça ou apenas de brincadeira com as palavras, uma
oportunidade de amenizar as tensões, preocupações, responsabilidades
quotidianas, é brincar, então, com elas, são as minhas amiguinhas de
estripulias. Estava sim necessitando de brincar, nunca o fiz em criança.
A pergunta, em qualquer ângulo que a faça,
revirando os olhos para a esguelha necessária, esguelha de prospectivas,
esguelha de re-vezes, quase lhes quebrando os nervos óticos, in-vertendo as
retinas, mesmo que no da genialidade, quando o mais imbecil se torna o mais
sábio, a humanidade se sente agradecida, muitas coisas mudarão pelos séculos e
milênios, é a mais estapafúrdia que se possa imaginar, não se tem notícia,
desde os primórdios da humanidade de alguém tê-la feito, espremido os
miolíssimos para a res-ponder, morrido de tanta loucura e desvario, se o nada
habita o vácuo, está dentro dele. O vácuo é vácuo, conforme informação do “pai
dos burros”, zona atmosférica afetada por correntes descentes, nada nele habita
ou existe na sua essência.
Se algo houvesse nele, deixaria de ser vácuo, seria
o algo nele existente, ou seria um vácuo diferente, vácuo e o algo, e se o
retirasse, deixaria de ser um, deixaria de ser o outro, nada mais existiria.
Contudo, discordo em absoluto o vácuo ser puro, se o nada não habitasse o
vácuo, não seria ele, a idéia dele seria um disparate sem limites e contornos.
Não discordo apenas porque hoje levantei com um espírito diferente, bem
diferente do comum que vivencio no meu quotidiano; discordo mesmo de o vácuo
ser puro, nada é puro neste mundo. Para mim, provido e dotado de genialidade
inconteste, isto é que se chama pernosticidade deslavada, o vácuo jamais foi
puro, o nada habitando-lhe é que mostrou ao homem a sua existência, tornou-lhe
eterno e imortal, objeto de todas as elucubrações científicas, os cientistas
puderam pro-jetar suas importâncias e orgulhos, conheceram o sucesso em vida,
imortalizaram-se no vácuo, eternizaram-se no nada do vácuo – quer imortalidade,
eternidade mais esplêndida e magnífica do que esta? Particularmente, eu conheço
outras bem mais interessantes, mas os cientistas discordam de mim in totum.
Digo isto porque não sou cientista, não conheço as glórias que a ciência
proporciona aos homens. A imortalidade que conheço é outro, desfruto as suas
glórias e dádivas, não me imortalizaria no vácuo das letras ou no nada das
letras vácuas, isto é impossível.
Para avacalhar ainda mais, vou mais nesta pergunta
que, com efeito, vai re-volucionar a nossa modernidade, fato é que anda com um
pé na cova e outro no mundo, está caindo os pedaços, não tem coragem suficiente
para a viagem eterna, creio que o medo do juízo final é a razão de não morrer,
ouvir dizer que não poderá desfrutar a paz do céu porque no mundo só causou
estragos, prejuízos, deverá ir para o inferno.
No nada habita o vácuo? Nem com todas as
brincadeiras de linguagem, habilidades e flexibilidades de estilo, enfiando
neles o desvario de minha mente, é pergunta que se res-ponda com facilidade,
isto porque nenhum miolo espremido será capaz de abarcar a sua profundidade –
da pergunta, vale ressaltar, porque o nada jamais foi profundo, na minha
cachola de desvairado e gênio é bem superficial -, só se o tirar da cabeça,
desmiolá-la, no seu lugar colocar o nada e o vácuo que lhe habita – se for num
discurso verbal, a argumentação que no nada o vácuo está presente, a língua
quedada de tanto cansaço, enfim as palavras saem aos borbotões, os raciocínios
seguem a velocidade da luz, deixando muito a ser dito, explicado, elucidado; se
for por escrito, a mão ficará dormente de tanto desenhar as letras no papel,
cargas e mais cargas de tinta serão insuficiente, o vácuo no nada é pano para
manga. Isto se tanto o nada e o vácuo não se escafederem da cabeça, deixando-a
vazia, um espaço sem nada no interior dela, o que seria em demasia
interessante, digno de admiração, se é o cérebro que responde pelas idéias,
pensamentos do homem, ele é que comanda a razão, o intelecto, o homem
desprovido deles, quem sabe não haveria tantos despautérios, a felicidade seria
conseguida por todos, cabeça vazia não seria tenda do diabo, mas templo de
Deus.
No nada, o vácuo não está presente. O vácuo no nada
eliminaria a idéia, conceito e definição do nada. E como ninguém é capaz de
pensar, sentir, elucubrar algo sem conceito e definição, ele necessário que
existam para que sejam considerados reais, caso contrário, é fruto de
imaginação fértil. Não é imaginação fértil o nada? O vácuo já não é imaginação,
ele existe mesmo, bem dizem que não existem nuvens, isto é ilusão de ótica,
tudo no espaço é um vácuo sem limites e contornos; particularmente, não saberia
informar com percuciência, jamais subi no espaço para isto comprovar, senão
nalguns instantes, isto porque sou homem disperso, não tenho mesmo os pés no
chão, não sei se dissesse são os ócios do ofício ou ossos do ofício, o primeiro
é improvável pois as letras dão muito trabalho, não é coisa fácil desenhá-las
na folha branca de papel.
O nó cego se faz presente em mim todo. Não é que o
nada me tenha tomado, não é que o vácuo me tenha possuído.
(**RIO DE JANEIRO**, 17 DE MARÇO DE 2017)
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