**EQUINÓFORAS IDÉIAS DE NADA** - PINTURA: Graça Fontis/SÁTIRA: Manoel Ferreira Neto
Epígrafe:
"O gesto de escrever, de olharmos nossa
própria imagem refletida nas palavras, não deve admitir qualquer concessão à
facilidade, mesmo correndo o risco de nos tornarmos in-compreendidos,
ininteligíveis, tornarmo-nos herméticos" (Manoel Ferreira Neto)
De um só fôlego difícil iniciar, algum tempo para
armazenar o ar, se é a idéia estou desejando sim realizar, algo que deixará os
seus traços e passos, sem dúvida, e não apenas lindas e floridas imagens que
por minuto, quem sabe menos, alguns milésimos menos, pode-se intuir e de
imediato se esvaecem deixando os olhos vagarem por aqui e ali à busca do
esplendor e da glória, nada disso sendo o que está sendo desejado realizar, a
partir de uma criação, criação de segundos, contemplando os dedos no teclado, a
leveza e a destreza de imprimir as palavras, ouvindo o som do computador
ligado, nesta madrugada, quatro horas e dezessete minutos, tentando esta
estranha façanha de não estar um poucochinho sequer interessado em saber as
idéias, os pensamentos, as emoções, sentimentos, e tudo o mais com o que se
desejar completar, agradecendo de antemãos e in-versos tão gentil educação para
comigo, quem às vezes se põe a imaginar algo de uma estupidez tão grande que se
torna um diamante, uma pedra de diamante límpido, uma maravilha, sentindo
algumas hesitações ao longo da jornada noite adentro, podem dizer que esta
imagem não é minha, sim de outro autor, de cujo nome ora não me lembro, tendo
sim a licença de pensar mesmo o soubesse não iria faze-lo, esta sinceridade e
seriedade é plausível de in-vestigações outras que mostrarão ou identificarão a
imagem nítida, aquela que refletirá na fonte originária de águas límpidas a
esperança dentro em mim trago, sendo outra imagem muitíssimo usada, perdendo a
sua inocência, ingenuidade, tornando uma pedra qualquer deixada ou largada,
quem sabe jamais tenha sido movida dali, mesmo que no terreno baldio, onde
alguns passam e podem muito bem mover, descalços ou de sapatos, botas, sei mais
lá o quê, podem movê-la, e, movendo assim a ideia disto de imagens a refletir,
ou melhor, encantar, aliás, referindo-me ao título, a ideia que desejo mostrar,
os liames das dimensões artísticas que sem dúvida são as responsáveis pela
habilidade, destreza de imprimir na folha de papel, num fôlego só, devo ressaltar
e relevar isto, pois não é algo que aprecio fazer, faço-o, surgindo alguma
oportunidade, sei ser enormemente difícil de compreensão e entendimento, mas
não recuso a faze-lo, devo estar aberto para as manifestações e revelações do
espírito, buscando lenta e paulatinamente o instante em que me sinta perdido,
inteirona magia das letras, esta que me proporciona até mesmo acelerar o
processo de digitação, tornando os dedos mais rápidos, enquanto, claro, estou
seguindo na folha branca, ou melhor, na página, sem qualquer intenções de
retornar, de reler um pouco a fim mesmo de alcançar, atingir um nível de
espiritualidade a mais divina e maravilhosa que se possa mostrar, contudo, se
retorno à questão do título, ao instante em que o olhar toca nelas palavras a sensação
é de algo esplendido, maravilhoso, embora a primeira palavra seja de um péssimo
mal gosto, para alguns, relembrar os equinos, estes animais que desde tempos
imemoriais são usados para tração e carga, o som não soar bem no ouvido, mas o
que é esta palavra, o que ela significa, e se eu disser que a imagem
construída, referindo-se ao equus asinus, não se realiza de modo algum, sendo o
seu sentido dicionarizado “aquilo que tem espinhos”, por exemplo, o cactus, ele
é equinóforo, e só assim poderia dizer dessas idéias que me habitam o espírito,
estas de alcançar um nível de espiritualidade nas palavras, embora nada
dizendo, não tendo a mínima vontade ou dis-ponibilidade de tecer algo de
esplendoroso com toda uma verborreia que, aliás, não me esqueço de algo
transcorrido comigo num instante em que estive a ler algo escrito por um amigo,
alguém a quem respeito e considero por seu esforço e luta por identidade de seu
povo, a sua sinceridade com os fatos e acontecimentos, as idéias e ideologias
existentes aqui e ali, por toda parte, não sendo mais possível interromper este
processo, neste instante senti algo esquisito, estranho, por segundos perdera a
memória do que estava a ler, nada me lembrava do que havia lido, sendo
inclusive difícil de continuar, até recuperar, portanto, creio serem estas
idéias, misturadas com imaginações, intuições, habilidade de lidar com a
palavra, este ser maravilhoso, esplendido, mas os seus caminhos são realmente
espinhosos, a partir da escolha não se torna mais possível reverter, é seguir,
consciente ou inconsciente, o que isto vai importar, importa é saber que a
missão foi tomada em mãos, oportunidade de tornar a vida algo, não apenas uma
coisa viscosa, nauseabunda, sei lá mais o que iria definir um corpo vivo que se
projeta à morte, o quanto antes “bater com as dez”, às vezes, podendo até ser
assim o dito popular, adágio, expressão, ao menos estaria pensando nos dedos,
referindo-me às letras, e isto me relembra um encontro com um amigo, destes que
qualquer um pode observar alguns traços de personalidade de ambos, dizendo-me
ele sobre um título na internet, “à sorrelfa de idílios compactos”, estava
desejando realizar o nada, se assim posso dizer, pois que não se é possível
imaginar a idéia, sendo apenas engenhosidade e arte de criação, o que é
inevitável para quem escreve, para quem busca realizar algo que complete o
mundo, a existência, que lhe mostre os caminhos a serem seguidos, podendo virar
as costas, dar atenção, isto dependendo dos apetites e dos prazeres a que está
dis-posto desfrutar mesmo que por poucos segundos, estes que se esvaecem por
entre os dedos, enquanto velozes estão imprimindo as imagens de quem estou a
sentir agora, não diria de modo algum melancólico, nostálgico, quem sabe
anestesiado pelos picos dos espinhos em todo o corpo, até ficar anestesiado vez
por todas, quem dera fosse ao menos isto, estaria satisfeito em saber que ainda
posso pensar na realidade, enquanto palpável, nada disso tem a ver com estas
palavras, aliás, se me permitem os leitores, estes que se deleitam com
histórias as mais vulgares possíveis, mistérios de crimes, adultérios, amores
impossíveis, outros, leituras inteligentes e cultas, um arsenal de idéias e
pensamentos revolucionários, isto e aquilo transformar com as chaves que
acabara por descobrir lendo os mais importantes e interessantes autores da
literatura universal, filosofia, artes, imbuídos de desejos e vontades de
transformação da realidade, lapidar o diamante, torna-lo uma esplendor, nalguns
momentos a realidade nua e crua, nada está sendo realizado, continuam sendo
idéias, pensamentos, mas impraticáveis na vida e nas experiências, embora não
acredita exista experiência sem a vida, sem dúvida, é a responsável pela
esperança, felicidade, paz, sentimentos por que somos vocacionados, e a busca é
eterna, não havendo um único descanso para tomar o fôlego e seguir viagem,
seguir a jornada a que se destinou, aí realmente bato com os dez dedos,
lembrando da imagem, não sabendo se “bater com as dez”, “bater com os dez”, ou
ambos são plausíveis de serem utilizados por aqueles que desejam dominar todos
os segredos e mistérios existentes nas palavras, por mim já me conscientizei de
que só Deus sabe, isto porque Ele sabe o que faz, os segredos e mistérios
existentes nas palavras, e por isso se agora consegui esboçar as idéias de
nada, os seus equinóforos, não mais dizem qualquer coisa, e se não alcancei
ainda o nível espiritual desejado e tão buscado, a sublimidade, a arte de
tornar a arte sublime, os espinhos são necessários para o desenvolvimento, crescimento,
e tudo o mais que se queira completar, tendo desde já o consentimento de o
fazer, seguindo a jornada, quem sabe dizendo também os títulos são desejos de
glória e resplendor, o que isto importa...
(**RIO DE JANEIRO**, 20 DE MARÇO DE 2017)
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