ARTISTA-PLÁSTICA E POETISA GRAÇA FONTIS COMENTA O TEXTO /**VÉU DE MISTÉRIOS E ENIGMAS**/
Realmente eis aí um véu de mistérios e
enigmas...porém esse mesmo véu deixa claramente transparecer emoções,
sentimentos e sensações aparentemente camufladas, mas também com a nítida
intenção de revelar-se para que sejam compreendidas e aceitas mesmo com suas
imperfeições e inquietudes frente a indecisões inerentes a esse ser que faz da
solidão e do silêncio múltipla faceta dando vida a um outro quiçá o ajude a
desvendar mistérios e indagações impregnados na alma atormentada!...Todavia
segue em devaneios ao mais longínquo...a eternitude onde por fim só Deus que o
brindou divinamente com intelecto perspicaz, sensível e sábio responda-lhe a
mais...quem sabe um último questionamento:...Até onde irá a dimensão desses
dilemas quanto à existência do ser humano ou da sua própria
existência?..Prbns.Poeta por mais um magnífico texto!
Graça Fontis
Questionamento que não quer se calar, jamais irá se
calar: Até onde irá a dimensão dos dilemas quanto à existência do ser humano?
Eis o cerne do texto, o seu "eidos". O tempo dirá até onde, contanto
que emoções, sentimentos e sensações revelem os mistérios e enigmas dos
dilemas, mesmo com as imperfeições e inquietudes sejam compreendidos.
**VÉU DE MISTÉRIOS E ENIGMAS**
Porque venho com freqüência mergulhando no
silêncio, conversando com alguém, dizendo de minhas emoções e sentimentos e
sensações mais ardentes, a eternidade se faz com a fé e a esperança, enquanto
cofio o bigode, amarelado pela nicotina, não me refiro aos muitos cabelos
brancos por isto não ser do início da velhice, da senilidade, mas o que mais
importa se a calvície e os cabelos brancos foram-me legados devido a tantas
inquietudes e indecisões.
Ergo os olhos para mim com uma sabedoria
compadecida. Posso sentir obscuramente uma presença, uma “pessoa”. Quando
distingue os meus passos, alvoroça-se, murmura palavras com a voz rouca.
Aproximando-me, ergue-se, levanta a cabeça, acaba por se deitar com os braços
em cima do travesseiro, a cabeça enfiada neles, a respiração comedida.
Ampliando as emoções, olhos umedecidos tornam-se
difusos, adquirindo nítidos sintomas de opúsculo, findadas as preces e os
tributos, as odes e homenagens, renuncio às cátedras, aos cargos, às funções, e
parto à procura de novos horizontes. Pretendo evitar constrangimentos maiores,
preferindo ir desacompanhado à estação, porém todos apelos se tornam inúteis,
querem acompanhar-me até a imagem do trem desaparecer no horizonte. A única
nota destoante deste episódio é ver quem gosta de mim exibir semblante abatido,
demonstrando aparência de saudades, quando é que estarei de volta, quando venho
dizer do silêncio. Todavia, respeito os desígnios divinos, Deus na sua infinita
sabedoria permitiu-me a graça, entregou-me em mãos os dons e os talentos, faço
jus de incorporar-lhes, o silêncio se mostra inteligível e uma sabedoria.
Não tenho coragem de entender a morte ser o vazio,
se antes não me sentir excitado a completar, a dizer que o vazio é a calma
eterna. Tanta vez, inúmeras, em verdade, desde toda a eternidade, ouço alguém
se referir a alguém íntimo, saudoso, que descanse em paz. Descansar com júbilo
e esplendor é só possível com a calma eterna. São palavras que arranco de mim,
enfio a mão no interior, encontrava-se em seu canto. A distância das palavras e
dos sentimentos. Compreendo.
Por medo de enlaçar uma figura fugidia, acompanho o
travo da ausência. Quem nasce é ainda nada. Mas quem morre é a infinitesimal
aparição, é a plenitude, a pura necessidade de ser. Um só é perfeição, só se
realiza até aos tímidos abanos de mãos mútuos, aparentando ares decepcionados
com a distância, registram constrangimentos.Prouvesse as fontes ressoassem,
acredito deixar-me-ia mergulhar em suas águas. Num evidente contraste com o
ideal da limpidez, da translucidez, da trans-parência das formas desenhadas em
nitidez e equilíbrio sobre o fundo da luminosa profundidade onde se desenvolvem
os mais puros sentimentos, emoções. Ò ousadia simples de um mortal que se
atreve a prosseguir viagem. Varro dos olhos o profundo sono e ponho-me de pé, o
trem começa a partir... Que a férula se me não sustente nas mãos frágeis e
singelas!...
Acredito, agora inteirado destas aflições pessoais,
tenha aquilatado a dimensão do dilema. O certo é, o inconsciente não consegue
libertar de suas teias sinuosas, libertar-se da insana idéia fixa de desejar a
sua libertação, de se revelar em sua pureza, sem estratégias, sem atalhos,
supunha, caso incorresse na ousadia de dizer alguma coisa muita íntima,
verdadeira, seria obrigado a traduzi-lo ou mesmo elaborar as devidas
digníssimas senhoras dúvidas, as devidas correções, relevações. Sendo assim,
espero, tenha compreendido a razão de atitudes intempestivas.
Deveras arrependido, abjurando a estupidez
cometida, repriso os apelos de escusas. Se é que se possa dizer tais palavras
sejam de todo verdadeiras, se o toque sutil nelas não as tenha tornado mais
luminosas às raízes da espiritualidade, além do cinismo nelas existentes, tenha
aquilatado a dimensão do dilema. Homens se eternizam numa rotatividade de vida
perfeita, nascem, crescem, renascem, e há reprises dos apelos de escusas,
diante de uma ação ininteligível, tendo-se de se explicar, de se esclarecer, às
vezes, tendo de reconhecerem não haver argumentos, o dilema continua em direção
a todos os ventos rápidos e suaves, suficientes apenas para suprirem as
necessidades básicas da natureza. O sol brilha todos os dias. As chuvas
acontecem esparsas. Todas as árvores produzem frutos e folhas, as flores do ipê
amarelo tapetando a rua de solo árido e poeira.
Qualquer demônio diferente, qualquer demônio
fracassado numa missão específica só consegue se libertar da severa e
verdadeira punição a lhe ser imposta, se porventura compense o fracasso
multiplicando sua tarefa por inúmeras vezes. Difícil isto de não se compreender
a presença de instantes de cinismos, ironias, galhofas, de não se entender que
de imediato surge algo vindo de muito profundo, atabalhoa as idéias, os
pensamentos, é quase necessário ir à busca de reuni-las a todas, correndo o
risco de as ter perdido.
Tenha aquilatado a dimensão do dilema sugere um
destes instantes, alguém muito íntimo a indagar se já experimentei os dilemas
comigo próprio, e a petulância de colocar em mãos de quem se digne a isto,
viver os próprios dilemas, a escolherem as letras com que irá tecer os seus
valores, a sua capacidade de idealizar coisas e lhes dar proporções morais.
Contudo, toque de sutilezas e perspicácias, quase não perceptível a olhos nus.
Como um sibilo de vento para além de entre as
montanhas, as emoções vão alegres e felizes. O caminho passa fora da grade do
portão. Antes de me tornar um homem esclarecido, as margens do rio já não eram
margens do rio e as luzes que iluminavam as ruas e avenidas já não eram luzes
que iluminavam as ruas e avenidas. Palavras um poucochinho agressivas, se não
as entender como uma mensagem, algo a ser tornado uma verdade, mesmo que as
controvérsias existam, se revelem fortes, dominadoras, opiniões em contrário,
um sonho de multiplicar os desejos de uma expressão verdadeira, um estilo de
vida, algo que revele orgulho: “... qualquer demônio fracassado numa missão
específica só consegue se libertar da severa e verdadeira punição a lhe ser
imposta, se porventura compense o fracasso multiplicando sua tarefa por
inúmeras vezes”.
O olhar de esguelha ao cinismo, ironia, sarcasmo,
mexendo e remexendo dentro, a necessidade é que revelem o véu de mistérios e
enigmas, algo seja capaz de livrar das teias irônicas, sarcásticas, não há
possibilidade de compreensão dos limites de suas nobrezas e de suas
vulgaridades, de suas burguesias e viperinidades.
O canto considerado perfeito parecem ser vozes
uníssonas nascidas de uma única garganta. Com efeito, o sublime coro de vozes
se destaca como fonte sonora inesgotável, a atravessar paredes, frestas de
janelas fechadas, de portas fechadas, a ascenderem, e de repente são os homens
que o ouvem, buscam inspirações, como fonte sonora inesgotável, dotada de
afinação admirável.
As súbitas pretensões, não sinto quaisquer
impedimentos, recusas, renúncias de as incluir nos itinerários das estradas a
serem cruzadas, se não andar, não sou é nada, surgem sob um certo nervosismo,
originadas da visão da deliciosa amostra grátis das impossibilidades de as
realizar, é-se necessário dons e talentos para qualquer empresa; originadas,
repito com malícia e perspicácia, originadas da visão da deliciosa amostra,
cujos trejeitos indicam a facilidade de atingirem a perfeição, nesta matéria de
interpretações divinas. Indubitavelmente é a esperança que perpassa as
dimensões humanas, esta que é o passaporte para a arte de viver, arte e vida se
confundem, interessante é quando criam raízes. Diria até para enfatizar bem o
que porventura esteja a revelar. Tem de as regar cotidianamente, tem que ser
como a vida, dia a dia.
Os sentimentos vêem do fundo do coração, e só
tenho, como guia, como mentora, a consciência.
Manoel Ferreira Neto.
(31 de agosto de 2016)
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