CAMINHO DE LUZ NAS TREVAS - Manoel Ferreira
POST-SCRIPTUM: Em 1997, Ex-Secretário de Cultura, de cujo nome
esquece-me no momento, de Diamantina, Minas Gerais - Patrimônio Histórico e
Artístico da Humanidade - registrou em Cartório o Evento Cultural VESPERATA,
evento musical, hoje sendo "Objeto de Turismo", como sendo de sua
autoria. Antônio Carlos Fernandes - falecido há seis anos -, professor de
História na Faculdade de História de Diamantina, Gerente do INSS, juntamente
com seu amigo, historiador leigo, Wander Conceição, se uniram e escreveram o Livro
LA MEZZA NOTE, provando que a VESPERATA era manifestação cultural desde os
primórdios da História de Diamantina. Além da verdade histórica, que era a
intenção dos historiadores revelar, o Ex-secretário de Cultura estava
usufruindo todos os direitos de sua autoria da VESPERATA.
Antônio Carlos Fernandes e Wander Conceição convidaram-me para ser o
Mestre-Cerimônia do Lançamento da Obra, no Mercado Municipal Velho, Centro de
Diamantina, aos 25 de janeiro de 2003. Escrevi este texto CAMINHO DE LUZ NAS
TREVAS que seria o objeto de meu Discurso.
Abri a Cerimônia do Lançamento lendo este texto. A Praça do Mercado
Velho estava cheia. Após a leitura, Antônio Carlos Fernandes me chamou em
particular, dizendo: "Se houverem 500 pessoas neste lançamento, Manoel
Ferreira, tenha a certeza de que 480 pessoas estão querendo linchar você. Não
dê atenção. Fique à vontade. Meus parabéns! De excelência o seu discurso".
Algumas semanas depois, o Presidente da Associação Comercial e Industrial de
Diamantina, Juscelino Braziliano Roque, enviou para a UNESCO o meu texto de
Discurso do Lançamento da Obra.
* * * * *
CAMINHO DE LUZ NAS TREVAS
(Texto enviado para a UNESCO através da Associação Comercial e
Industrial de Diamantina)
De início, primeira linha, correspondendo à Apresentação, surge num
instantâneo, após o título, a dedicatória... Encontramos uma imagem, que é a
bússola de leitura, inspirando-nos este Caminho de Luz nas Trevas, desta obra
que então se torna outro capítulo de nosso acervo. Encontramos esta imagem “na
movediça fronteira da lembrança e do esquecimento”.
É-se observados nitidamente pormenores de quem está iniciando a ler,
esperando, no percurso da escrita, intuitivamente, descobrir o sentido de os
autores e nós havermos encetado com esta imagem, pensando que à falta de um título
para esta lembrança de egrégio lançamento, escolhemos este. O título talvez
estranhe alguns, pois que fora lançado no programa da Rádio Cidade, Páginas de
um Sonho, patrocinado pela Associação Comercial e Industrial de Diamantina,
Roque Car, sempre incentivando a Cultura e as Artes em Diamantina.
A intenção é de revelar a idéia de Responsabilidade do historiador. A
faca própria e particular de descarnar um osso de pescoço, muitíssimo afiada,
pontiaguda, por se tornar necessária a habilidade de contornar cada agulha do
osso, desejando que não recorte a carne, não a pique, o osso saía branquinho e
a carne uma manta. Não é tarefa fácil descarnar um osso.
Com a imagem da “faca”, podemos, com engenhosidade e arte, compreender o
que é isto, a responsabilidade do historiador. Súbito, sente-se viva e forte a
sensação de se estar nas trevas, aquela necessidade de detalhes e pormenores,
às vezes perdidos, tornando inda mais necessário investigar, buscar a luz nas
trevas, os contornos e estratégias, as perspicácias de intuição e observação,
as destrezas de compreensão e entendimento. A responsabilidade de tecer a rede,
deixando os vazios, que são os objetivos do peixe. O “tecimento” com espírito
de busca da verdade, de seriedade e consciência. Nesta trama de informações e
dados estão a proximidade e o encontro dos homens, da humanidade; estão a
resposta e a indagação de uma dificuldade, de uma esperança, de um sonho, da
busca do verbo amar. Empreendimento difícil, não apenas no colher de
informações, dados, pormenores e detalhes, mas escrever, tecer as idéias com
coerência, harmonia, o encontro da obra e o processo histórico. Neste sentido,
para nós, que não somos historiador, não há diferença de dificuldades.
Heidegger, filósofo alemão, diz que o Ser foi sendo perdido na história
do pensamento filosófico, desde Sócrates, e que é tarefa da filosofia o resgate
do Ser. Interesses, ideologias, irresponsabilidades trabalharam, e quase mui
perfeitamente, para que a História dos Homens e da Humanidade fosse sendo perdida
no decurso do processo histórico. O que não sabemos ainda de nossa História é
imenso!...
A Idéia de uma informação, um ínfimo detalhe haverem sido perdidos!
Pensamos nestes interesses e ideologias ilegítimos, que fizeram perdê-los,
nestes “salauds” que, por mazelas e pitis de burgueses, representam o
esquecimento. O que dizer a estes insignes senhores a respeito de suas
atitudes, ações, que lhes faça ouvir com todas as letras e lhes faça entender,
compreender o Homem sem História nada significar, tornar-se idiota, imbecil,
tolo, o nada, em verdade? Infelizmente, esta palavra ninguém a disse. Haverá
quem o faça!
Imaginem os senhores o que fora andar daqui para ali, ouvindo, colhendo
dados, havendo quem não fora sincero, havendo quem se recusara a contribuir.
Imaginaram. Pensem haver dados a suscitarem investigação, questões
desconhecidas, outras que necessitam de reconhecimento. Há o que fora perdido.
Desejo pensarem que os interesses e ideologias ilícitas, mazelas e achaques
singulares trabalharam para se perderem. Fácil pensar a humanidade sem
História.
A imagem, que escolhemos como tema e temática, é mui interessante, pois
que revela estarmos na fronteira da lembrança e do esquecimento, de imediato
surge a idéia da Dialética da “lembrança e do esquecimento”, sendo a imagem da
História, o que suscita na leitura de investigação, de busca da verdade, só se
revelando na tensão de ambos, nas estratégias de consciência e inconsciência
coletiva, individual, universal, nos espirais em que cada espira identifica outro
caminho a ser seguido, no caminhar pensativo do lugar que se vai ocupar. Ah!...
Esta fronteira da lembrança e do esquecimento, este sonho de rompimento, entrar
em sintonia e harmonia com a construção, com a identidade histórica!...
Se esta tensão entre lembrança e esquecimento já é difícil, complexa de
mergulho, imaginem o que se torna esta dialética, após o choque instantâneo dos
interesses e ideologias injurídicos, que visam com todo o deleite que isto
possa significar, no fritar dos ovos, tão simplesmente as trevas, sendo a
responsabilidade dos historiadores romper o silêncio, mergulhando fundo nos
caminhos espiralados das trevas, tendo de arrancar de dentro com as duas mãos,
sujando-as de sangue, às vezes, a fim de revelar a Luz.
Pensamos numa consideração ainda mais séria, e pensamos fazê-la, rogando
obter dos senhores atenção possível acerca, um convite para levarem para casa,
juntamente com a obra, sendo esta a bússola do pensamento e a consciência.
Imaginem o nosso acervo cultural, artístico, histórico, que Diamantina
significa, sendo Patrimônio Histórico da Humanidade; pensem o que é isto de
informações, dados, detalhes, pormenores deste acervo sendo perdidos ao longo
do tempo e do processo histórico, o que significa a nossa responsabilidade e espírito
sério de mantê-lo intacto, abrindo possibilidades de mais importantes e
fundamentais conhecimentos se revelarem, identificando-nos com a História.
Não nos dirigimos a ninguém inconsciente desta responsabilidade, sabendo
de antemão e revezes que a conhecem e bem. Dizemos, senhores, haver cidade que
sonha com uma História como a nossa, tendo apenas uma local, gado e cavalos no
pasto, sem qualquer acervo cultural e artístico, e não terá jamais uma História
como a nossa diamantinense. Convidamos todos a serem responsáveis com nosso
Patrimônio, é o nosso Orgulho, é a nossa Verdade, é a nossa Esperança. Aconteça
o que acontecer, temos de articular as preocupações de nossa querida e amada
Diamantina como um todo e não nos afastar dela. Ninguém pode negar isto, mesmo
que alguns pensem estarmos a dizer que se sintam culpados - não precisaríamos
de o fazer, está bem dito por um filósofo da Escola de Frankfurt, Walter
Benjamin, “Somos culpados de nosso passado”.
Terminamos, cumprimentando os escritores-amigos, Antônio Carlos
Fernandes, Wander José da Conceição, por este empreendimento, por esta nobre
investigação, La Mezza Notte Lugar social do músico diamantinense e as origens
da Vesperata 1751 - 1895 – 1997.
Manoel Ferreira.
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