ANA JÚLIA MACHADO POETISA E ESCRITORA COMENTA O TEXTO /**VIVER AS CONTINGÊNCIAS É A LUZ**/
A vida é feita de contingências e temos que aprender a lidar com elas e
a ultrapassá-las. Sem contingências na vida viveríamos eternamente na
escuridão...elas fazem falta para irmos ao encontro dos pontinhos de luz que
farão pensar e saber qual o melhor caminho a seguir...mas, antes, passamos por
muitas derrotas e obscuridades e com trabalho e erudição... ao novo tempo
havemos de chegar...sempre a aprendermos a dar oportunidade a outro tempo a
iniciar....Este texto é o que o grande escritor Manoel Ferreira Neto, tem
encontrado nos seus sessenta anos de vida...penso que encontrou o momento de
reconciliação com ele, com a vida e com as artes. Uma nova era na sua
vida....coisinhas ou não...pouco lhe importa. Mas, isto só foi uma pincelada
muito rápida ao texto do grande Mestre Manoel, Sinto que tenho que refletir
mais e ler muito melhor, para uma análise que mais agrade a mim e logicamente e
essencialmente, ao amigo escritor e Mestre Manoel Ferreira Neto.
Ana Júlia Machado.
*VIVER AS CONTINGÊNCIAS É A LUZ**
Não importa a dimensão contingencial de um momento; importa sim o que se
é possível realizar com ela. Momento assim revolucionou as ciências, as artes;
momento assim deu origem a obras-primas na Literatura, na Poesia; momento assim
espiritualizou alguns homens. Assim, esse momento, qual seja, de medo,
angústia, tristeza, depressão, desconsolo, solidão, é necessário, faz a
diferença, são pedras de toque do novo, da re-novação, da in-ovação. Todos os
homens vivemos à busca da felicidade, entregamo-nos plenos e inteiros a este
desejo, vontade, e a felicidade não concebe fruto algum, não dá origem à
revolução nas ciências, nas artes, obras primas não vem à luz... Viver as
contingências é a luz, é o arco-íris, são os raios numinosos do sol.
Quão difíceis são estes estados de alma, medo, angústia, tristeza,
depressão, desconsolo, solidão. Há quem não consiga conviver com eles,
suportá-los, aproveitá-los como húmus de outros tempos, entregam-se, sucumbem.
E todos estamos sujeitos a este momento contingencial. Jamais pensara
fosse acontecer comigo, nó górdio na garganta, o coração pulsando
descompassado, o olhar perdido na distância, irritação, nervosismo.
Mais do que acostumado com a inspiração presente sempre, até a
iluminação pres-ent-ificada, criando, criando, criando, compulsivamente, por
vezes acordando com textos ou poemas na cabeça por serem realizados... Vem o
momento inesperado de nada estar produzindo, criando. Antes, se projetava algo
a ser escrito, não era possível única letra, era sentar e escrever, improvisadamente.
E, neste momento, para amenizar as dores e sofrências, experimentando projetar
algum poema ou texto, mas o que surge de idéia, de inspiração é acompanhado:
"Não vou dar conta do recado. Prefiro a pena sob a mesa do que porcaria
numa ou algumas páginas".
Talvez o momento tenha origem: não estar satisfeito com as criações,
desejando outros voos, outras luzes - mas nenhum indício de re-novação se
revela, o resultado sendo "empacar", e no lugar do que não agradava,
não satisfazia, dava náusea, a presença de um vazio sem limites e fronteiras.
Outras explicações, outras razões para não estar produzindo coisa alguma. Num
momento assim nada adianta ficar escarafunchando as coisas à busca de motivos,
razões. Não se lhes encontra, o criar torna-se ainda mais complicado.
Notoriamente situação de Sísifo: jamais resposta será encontrada, a fertilidade
da imaginação criando coisas. Só uma solução: deixar as pedras rolarem montanha
a baixo. Nalgum instante o retorno à produção, à criação, e até de modo diferente,
satisfazendo e felicitando mais. Aquelas razões desejadas para superar o
momento não importam mais, não possuem mais qualquer validades. Infantilidade
procurar razões para as coisas que acontecem, no movimento das contingências é
que são superadas suprassumidas.
Sentei-me à mesinha de trabalho determinado a escrever, mesmo que
tivesse de queimar todos os neurônios, espremer os miolos, arrancar tufos de
cabelos na calvície, mas um texto escrito. Engraçado, muito engraçado: não
parei um segundo para pensar, refletir, meditar, à mercê do fluxo de idéias,
pensamentos, sentimentos e emoções.
Agora pouco me importa se este texto seja renovação, inovação, aprofunda
as minhas coisinhas, é novo tempo que começa, é obra-prima, está revolucionando
tudo o que antes fora escrito. Isto é ninharia para mim.
O importante é que o texto está escrito.
Manoel Ferreira Neto.
(21 de agosto de 2016)
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