**VERSO IN-FIN-ITIVO DA BOÊMIA** - Manoel Ferreira
Ideologia! Quero uma para sarapalhar as melancolias e nostalgias
defectivas e imperfeitas, enquanto nos elísios olimpos das furtivas e fúteis
contingência os orgulhos e vaidades sarapateiam os sonhos e pós perdidos na
mina funda do tempo, insistem, persistem nas esperanças do vir-a-ser as luzes
da ribalta
Ideologia! Quero uma para me perder nos interstícios da lareira, cujas
chamas aquecem o friozinho da noite que custa a passar, pensando no amor que
enovela as sorrelfas do verbo, morrer de amor, de amor me perder, fazer-me um
sonhador, saltitar nos canteiros das alamedas, cabeça vazia de idéias, peito
isento de quaisquer ilusões, os instintos em estado natural, o corpo livre das
ardências da carne, às vezes recitar um verso que nasce espontâneo na alma, vida
que se ilumina, coração que pulsa para continuamente alimentar sua essência que
é existir profundo, professando a lírica das palavras que aquecem a solidão.
Ideologia! Quero uma para lastimar as in-verdades que nalgum canto ou
recanto do tempo ficaram, não seriam pedras de toque para as imperfeições do
absoluto, perfeições do efêmero que des-emboca na mesmidade da etern-idade,
agora posso dizer adeus às quimeras e sorrelfas, pois tenho em mim, trago em
mim dentro a querência, desejância da ideologia livre do friozinho da solidão,
a luz do sol no amanhecer, não me sentirei mais na poeira da estrada andando
sem destino, sinto-me dormindo nos braços de outros desejos, podendo a
ideologia esvaecer-se nas sinuosidades do vento, mas sei que em mim viverá
plenamente, o amor não será mais sofrer, o mistério não será mais as trevas do
ser, os enigmas da luz serão a mística do eterno.
Ideologia! Quero uma para ser sátira das náuseas e forclusions do Verbo
Ser que só declama esperanças e sonhos, ser comédia da felicidade que se
realiza no éden, ser crônica dos valores eternos que preenchem os lapsos da
memória, os nonsesenses da razão, as asnadas, solilóquios do silêncio da
solidão.
Ideologia! Quero uma para ser a razão in-versa que começa no in-verso
para atir o re-verso do verso in-finitivo da boêmia.
Manoel Ferreira Neto.
(16 de junho de 2016)
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