**PRELÚDIO DE VERBOS E METAFÍSICAS** = Manoel Ferreira
Não comporei canção para mim. Sou nada diante da melodia, ritmo, acorde,
musicalidade. Não criarei versos e estrofes para mim. Quem sou para a poesia,
estesia, linguística, poética, metáforas, belo e beleza. Não é bom que me cale
tanto assim, mas de senso permanecer-me em silêncio. Vasta é a humanidade - há
muito para se lhe revelar, identificar-se-lhe, dizer em prosa e verso. É vasto
o amor - mister buscar-lhe a profundidade, saber-lhe as verdades, conhecer-lhe
o espírito, sentir-lhe a alma... O desejo de seu encontro é perpétuo, a
continuidade dos sentimentos de amor é também o amor, as letras poéticas
orientam as sendas e veredas a serem trilhadas. Vasta é a dor que devasta as
carências, a fome, a sede, as frustrações e decepções, as angústias e tristezas.
Quero escrever, beber o néctar das flores que des-abrocham no alvorecer,
o mel de fábulas, morar numa ilha de corujas, morrer num canteiro de hortências
azuis. Não me peçam o nome, sou inominável. Vim como o nada e vou voltar vazio
de tudo. Vim como a saudade e vou voltar tão lírico, tão lírico que o lirismo
há-de se surpreender. Minh´alma atingirá o universo, o sideral, brincará na
margem do cócito, e lá, bem lá, além, bem além, mais lá que o horizonte, mais
lá que o inaudito, ela falará aos homens da beleza e plen-itude da esperança e
sonho da verdade.
Em mim, sei, habita um céu sem nuvens, um jardim sem flores, longas
sendas e veredas que se estendem ao longo do meu silêncio. O alvorecer se
anunciará sem mistérios, revelar-se-á sem enigmas, e sem mistérios, sem
rituais, sem mitos e miticismos, misticismo, seguirá o sol para o pálido
crepúsculo, e a doce magia que segue a noite à luz do ser-só me habitara em
forma de silêncio, e o silêncio far-se-á jornada para acalentar meus passos,
para amenizar os questionamentos.
Ah, essa vontade imensa do ser, ser a verdade de quem sou, ser a palavra
plena que pronuncia, ser o verso divino que crio, ser o amor que sonho...
Vontade imensa de cantar o cântico do sublime re-fletido no espelho do tempo
sem quais dimensões, de morrer de tão velho que os ossos até tremeliquem, vara
de babum verde à mercê do incognoscível. Desejo incólume e simples como as
nuvens brancas que deslizam no azul celeste.
Deixai-me com meus lírios e interlúdios, deixai-me com meus lírios e
prosas poéticas. Hei-de encontrar-me insone e desvariado no meio dos trigais da
subconsciência, declamando os versos que Einstein não escreveu. Busco a
linguagem da folha abandonando a árvore, busco a verdade de estar comigo mesmo.
Em momento algum compreendo-me: se estou alheio não me enxergo, se estou
disperso, não me visualizo, se estou em mim, não me trans-cendo, se sou o verbo
de mim, não me trans-elevo. Sou Deus diante do espelho, preparando-me para
criar o absoluto da verdade. Sou Mefistófeles frente ao atrás da imagem
re-fletida no espelho, urubuservando as maledicências do efêmero. Que farei,
eu, sem deuses, sem juízes quem serei réu, juiz e deuses? Dançarei o desespero,
ópera muda, seresta demoníaca de estar nu ante mim mesmo.
Vejo rostos que me amam, dedicam-me carinho e amizade, tentando saber
quem fui, querendo traduzir as vozes de meu silêncio - sou um retrato, miragem
que o tempo dilui. Orquestra e prelúdio. Luzes da ribalta e avant prémier.
Metafísica transcendendo em mim.
Manoel Ferreira Neto.
(10 de junho de 2016)
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