POESIA DA VIDA# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: AFORISMO À POÉTICA DO MUNDO E DO ENTENDIMENTO



Tenho forte e presente sentido na passagens nas estradinhas do bosque em direção à praia, à luz perpassando as ondas marítimas ao longe, sensações tão cálidas roçagando os íntimos d´almáticos dos sonhos, parece-me tão real a entrega aos mistérios e enigmas na andança pelas vias do bosque, e neste instante sinto essa passagem são aquando a sensibilidade se entrega aos devaneios, devarios, e aquando é-me dado a dádiva de senti-las, pensá-las, aprender o que doam para o prosseguimento da jonrada, poder inda mais vivenciar n´alma a finesse do saber, deixando as ondas tocarem os pés, a face voltada para uma perspectiva do mar, a montanha, por vezes sob os raios solares, por vezes coberto de neblina, o entendimento e o mundo aderidos são a bússola orientando o barco que se deixa ir...
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Tenho sentido à soleira da caverna em manhãs de neblina ensimesmando, nublando o tempo, sou ninguém, excetuando uma sombra, de um jeito que me assombra, por vezes me surpreendem as suas formas ad-versas, por vezes me extasiam de suas cores diferenciadas, entre o claro e o escuro, e em nada ec-sisto como a treva fria, gélida.
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Tenho "e--xis--tido" o que sinto faltar-me, uma angústia, uma tristeza, uma nostalgia, desconsolação da epiderme da alma, o ser de minha falha, que esterco metafísico os propósitos todos, que água de cisterna a aguar-lhes continuamente, ad-versamente ao sol-pôr do esforço e labuta, tornando-me dedicado ao fim para o sentido disto de "tenho "e-xis-tido", fim para o que isto me aproximou de si, vadio, sem andar, macunaíma acelerando o balanço da rede, olhos fechados em nada o que pensar, posto a um canto e ido sem que eu no "e--xis--tido" fosse, barco, nau sem mar.
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Tenho ouvido no alto da colina,
Em dias de chuvinha fina,
A poesia, sentada de por baixo de castanheira frondosa,
Clamando às nuvens cinzentas
A beleza do belo de versos compostos
Com a sensibilidade da alma, com a intuição da esperança,
Com a percepção dos sonhos,
Com o sexto sentido das utopias,
Com a felicidade de seda da liberdade
Versos compostos com a estesia da Vida,
Re-clamando às nuvens escuras
O mistério do sentimento de prazer da liberdade "ec-sis-tida",
A palavra cumprida a rigor e critério,
Coro de vozes, rindo e declamando:
"Esticar a conversa não soluciona a
"Palavra" "
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Tenho "ec-sistido" o vento e o sol à soleira da choupana, andando pelo caminho das Estações a seguir e a olhar, ruído de chocalhos para além da curva, os meus pensamentos sente o crepúsculo entrado, as nuvens passam a mão por cima dos raios de luz, corre um silêncio alma adentro, é o que deve ele estar nela, quando já pensa que "ec-siste", e as mãos colhem frutos sem a alma dar por isto. O "ec-sistido" que em mim passava, se "ec-sistisse" hoje, quiçá se lembrasse, talvez se re-cordasse de terem havido sentimentos que conheço melhor por dentro de que esse eu-mesmo que passa por aqui.
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Tenho verbalizado ócios e ofícios, ofícios dos ócios, dos ócios aos ofícios, macunaíma de controvérsias de des-ânimos de pensar, espairecer as dores contundentes das perquirições e ausências de respostas, continuamente sentido que fui outro, que senti outro, que pensei outro, que cogitei o ergo sum. O que assisto é um espetáculo com outro cenário. E aquilo a que assisto sou eu.
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Tenho presenciado nos terrenos baldios
Em noites de temperatura quente,
A poesia, contemplando a lua e as estrelas,
Rogando ao espaço, uni-verso, horizonte,
As metáforas sensíveis e abissais,
As metafísicas do nada e vazio
Eivadas de promessas do pleno, do sublime,
Que glorifiquem, jubilem desejos, vontades,
Volos, desejâncias, querências,
Do alvorecer plen-ificado de brilhos e cintilâncias
De tempos futurais, de tempos além, de tempos alhures.
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Tenho estado nos becos sem saída ao lado da poesia, ombro a ombro, a ouvir-lhe dedilhar no seu violino a música, a que transcende o som da musicalidade, declamando a sua carência, solidão, pedindo à eternidade sons, ritmos, melodias, acordes de estrofes que templem o tempo de ideais, utopias da verdade, de chaves de ouro que velem as instâncias das idéias, pensamentos,
que revelem o ser do in-audito com o espírito dos inter-ditos da felicidade e da alegria,
que mostrem a face presente das experiências
e das vontades explícitas de visão e sabedoria
das contradições, nonsenses, verborreias, falácias
do saber e a existência.
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Tenho estado nos botequins
Con-templando a poesia sentada no meio fio
Perscrutando os transeuntes, os carros passando,
Reclamando dos homens, dos poetas,
O coração pulsando de idílios, devaneios,
Fantasias, quimeras, sorrelfas,
Deixando lágrimas escorrerem livres
Na sua tecitura, tessitura,
Na sua estrutura, na sua forma,
De tristeza, desconsolo, abandono,
Levantando-se,
Seguindo o seu caminho de frontispício baixo,
Nalgum banco de pracinha pública
Estirará o seu corpo, dormirá o seu sono,
Sonhando o amanhecer
Quando será a Poesia da Vida.


#riodejaneiro#, 14 de novembro de 2019#

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