CRÍTICA LITERÁRIA POETISA E ESCRITORA Ana Júlia Machado COMENTA O POEMA/**ABAIXO AS TESSITURAS DE LINHO**/
Abaixo as Tessituras de Linho… ora bem, tessituras
de linho, termo utilizado por muitos para explicar as tramas da vida, ou seja,
a composição, contextura, organismo, organização, de algo que se faça ou tenha
intenção de fazer…ou demonstrar o quão oco é muito dos seres…já li textos de
docentes em que utilizavam este termo, para explicar em que consiste a tarefa
dos mesmos…como tal frase “Ligar os pontos, unir as linhas, enredar a teia,
construir novas alternativas... Tecer e refletir... Assim é a construção da
identidade docente” Na ficção instrutiva — empregar como um laboratório para a
invenção de planetas assombrosos e horrendos — jamais foi tão bem espelhada nas
Mídias populares. Hodiernamente, somos todos criativos, enredando seres segundo
nossas aptas individuações. Nós cicatrizamos, plagiamos, delineamos nós
atuamos, compomos a ação de se trajar como os personagens fingidos de
ilustração animosa, debochas, películas ou séries televisivas, geralmente em
festas ou convénios com esse intento e conferimos extraterrestres em ludos de
tiro, com a calma de divindades cujas criaturas ainda não se amotinaram.
Como dizia um poeta, “um galo sozinho não tece uma
manhã, carece sempre de outros galos que agarre esse berro e o lance a
distintos..."
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Somos o aranhiço enredando a sua teia, o urdidor
trançando os fios no tear, a estilista na execução do croché, do tricô, do
debruado. Todas essas rotinas nos endereçam à afabilidade, tolerância, afeição
na execução de uma empreitada que, ao final, culmina com a estranheza, o
sentimento de incumbência realizada e, em muitos factos, com o abarrotar das
vistas e do coração. Por termo, a exultação de erudição que colaborámos para
que a perfeição ou algo vantajoso fosse inventado.
Tramas para experimentar com as garras, o físico,
para lobrigar com os olhos, para escutar e ler com os sentidos. União de
talentos. Artes do verbo, artes da visualidade. Artes do tirocínio
Reconhecimento do ser é tecedura…tem trama,
tessitura, contextura. A formação do ser tece-se com linhas dos verbos já
verbalizados e não pronunciados. O seu urdido salpica-se de cores diferentes,
de grandezas Os soslaios são muitos e o leilo, passageiro…
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E como afirma o grande escritor Manoel Ferreira
Neto , cada oposição, e obstáculo na vereda, um calhau valiosíssimo que se
esculpe…
A ninharia que nos acarreta a constrição. Pois, o
nentes é a perfaz refutação da plenitude do indivíduo. As tessituras de linho
são a inacabada, contraditória, fragilidade do abismo à luminosidade do
sobrenatural sem astros, sem satélite.
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Não ambiciona chama para acender o cigarro: intenta
o cigarro no esconso da boca findo, tal como o abaixo das tessituras do linho,
que tanto andam pela boca do mundo. Muitas tão ocas de verdade e ser…
E agora apetece-me terminar com este poema de
Fernando Pessoa que pendo que assenta que nem uma luva neste tema…
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Gato que brincas na rua
Como se fosse na cama,
Invejo a sorte que é tua
Porque nem sorte se chama.
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Bom servo das leis fatais
Que regem pedras e gentes,
Que tens instintos gerais
E sentes só o que sentes.
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És feliz porque és assim,
Todo o nada que és é teu.
Eu vejo-me e estou sem mim,
Conheço-me e não sou eu.
Ana Júlia Machado
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ABAIXO AS TESSITURAS DE LINHO**
GRAÇA FONTIS: PINTURA
Manoel Ferreira Neto: POEMA
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Abaixo as Tessituras de Linho
Alinhando o in-finito perdido nas teias
No tempo que não temporaliza a liberdade
Da Maria-Fumaça que segue os trilhos
De lado e outro, abismos,
Que se contorce e pende nas curvas.
Abaixo as Tessituras de Linho
Que contextualizam os vazios do Ser,
Do Não-ser, da Náusea,
Trazendo de longe a morte do sonho,
As cinzas do eterno, do imortal, do perene
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Mestria das conexões, sinais, verbos,
Execuções descobre-se na naturalidade,
Impulsividade da fictícia incorrecção do ser…
Procure o sentido da incorrecção do ser
À claridade da mestria que a escora e protege…
Conhecerei que a todo o instante habito,
Sofro, avisto,
Considero o instante que careço… que é divino,
exemplar, Elementar…
Que me desloca, dispõe,
Impulsiona na rédea da autenticação
De quem sou e o que concebo aqui…
Que se conheça a assentar, resfolegar
visceralmente…
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Que se instrua a acalmar
E hospedar este regularizado intelecto…
Que se instrua a acreditar…
Que se instrua a estacar…
Que se aprenda a observar…
Que se instrua a enlaçar…
Que se instrua a aguardar…
Que se instrua a narrar…
Que se instrua a venerar…
Que se instrua a alvorecer....
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Que se aprenda a admirar a pulcritude do trilho…
Com toda a mágoa, angústia,
Tristeza, temor e anelo de se avistar livre,
ditoso…
São essas as energias que me impelem…
Tenho erudição para aceitar
A luminosidade deveras, se conheço a escuridade…
Tenho vernáculo para con-sentir
Os deslizes, equívocos, enganos
Da visão e das idéias que delas nasceram,
Os brilhos resplandecentes das trevas,
Escuridade só é verídica na inexistência da
claridade…
De nada antecipa pretender alumiar a escuridão
Com luzinhas de materialismo ideado
Com chamazinhas de achas respingadas de orvalho…
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Sou episódios para a perspectiva, para o infindável
desperdiçar-se.
Hoje, sou a anamnese olvidada, sou a idade que já
partiu
Sou como os tracejados no pojo que as lágrimas já
safaram
Sou como as iras que a imensidão já transportou.
Sou esse vazio que te atesta, sou a quimera da tua
imaginação
E teu mutismo. Sou tua reflexão em fútil.
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Abaixo as Tessituras de Linho!...
Quem vai contextualizar os fios
Que com-puseram o linho ?
Quem vai verbalizar a entrada,
Saída da agulha,
Na confecção da colcha,
Quem vai alinhavar as bordas?
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Não quero rir de felicidade:
Quero a felicidade rindo de tanto
Sentir o prazer de ser feliz,
Emocionar com a alegria da felicidade,
Sensibilizar com a verdade quotidiana da busca
Com o sonho nas mãos.
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Não quero debulhar as contas do terço,
Rogando a redenção e ressurreição:
Quero todos os pecados lucilando nos recônditos da
alma.
Não quero alvorecer com os pássaros trinando no ipê
amarelo:
Quero uma tempestade daquelas anunciando o novo
dia.
Tenho muita coisa a fazer
Para ficar alinhavando as tessituras das angústias
da felicidade,
Das tristezas melancólicas, nostálgicas, saudosas
Do amor que se foi esquecendo a si próprio nas
marolas das ondas marítimas,
Não quero o despetalar de "bem me quer/mal me
quer":
Quero a rosa no jardim, respingada de orvalho.
Não quero a poesia poetizando a poiésis do poema:
Quero simplesmente palavras sem semânticas e
linguísticas.
Não quero cartas dizendo o meu destino:
Quero o destino jogando as cartas aos naipes do
eterno
Ou seria:
Aos naipes do eterno, jogando as cartas do destino
que quero?
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De nada apressa imaginar eu sou ditoso, eu sou
querença, eu sou pacificação, eu sou independente, surripiando a plangência penetrante
que me ocupa, ou a mágoa que somente é o resultado instintivo do bem-querer que
eu sou…
Como poderei identificar uma realidade pretendendo
a todo o instante azular, surripiar, anular a distinta? Não tem sentido
racional…
Preciso identificar a natureza elementar onde me
abranjo e que se acha além de físico, intelecto, sensações, sensibilidades…
Poderei transitar os dias da minha existência
focalizado em “aperfeiçoar” a minha notabilidade, paridade, corpo, sensações,
sensibilidades, ligações, enclausurado à alucinação de que isso será a entrada
de investida para a minha independência, sentido de quem sou… mas estaremos
unicamente representando vagamente...
Careço ir mais além… compreender que eu não sou a
minha índole, paridade, físico, comoções, sensibilidades, ligações… que isso
somente é uma minúscula constituição daquilo que sou…
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Obtusas pectivas de hereges ex-tases
Do espírito que ornamenta e arrebica
As cogitans res do pórtico cócito das sorrelfas do
pleno
Com a incólume e insofismável vacuidade
Dos eternos pretéritos
Subjuntivando os gerúndios de declinações
Do in-fin-itivo no jogo lúdico das defecções
florando as incongruências efeméricas do nada
Em cujos in-fin-itivos interstícios residem
A ab-solut-idade obtusa
De sentimentos e emoções da náusea vazia
De cânticos cancioneiros da magia misteriosa
Do perpétuo evangelizado e biblicizado
De nonsenses e vulgos do in-finito.
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Lá no alto da colina passam ventos,
Caem orvalhos,
Sarapalham neblinas,
O catavento dos im-pretéritos gira
Às in-versas da verdade,
Em cujas bordas os solstícios do crepúsculo
Pre-figuram e con-figuram
De efígies o sacrário das ilusões
Da redenção e ressurreição.
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Assim conseguirei admirar cada uma dessas matérias,
especuláveis em mim e acarretá-las, orientá-las, sustê-las, enlaçá-las,
querê-las, independente da iludida valia que lhes faculto comparativamente à
dita que sou, aqui e hoje.
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A execução será enriquecida de porte, naturalidade,
autenticidade, encargo…
Cada impedimento, estorvo no trilho, um rebo
precioso que se cinzela…
O nada que nos transporta a angústia. Pois, o nada
é a completa contestação da totalidade do ente. As tessituras de linho são a
in-completa, in-congruente, in-consistência do abismo à luz do celeste sem
estrelas, sem lua. O nada se patenteia na angústia, mas não enquanto ente. O
nada nos fiscaliza simultaneamente com a evasão do ente em sua plenitude. Na
angústia se patenteia um recuar, esse recuar arrecada seu ímpeto inicial do
nada. A nadificação não é nem uma aniquilação do ente, nem se ocasiona de uma
desmentida. O inerente nada nadifica. É a prática do nada, não mental, mas
emotiva, que concebe o sentimento de angústia - anuência da inerente finitude.
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A anuência da inerente finitude é relevante para
todos nós.
A vida se fosse perfeita era uma apatia total….e a
imperfeição é pura ilusão…ela não existe.
Apenas existe para quem não sabe o que é a vida.
Abaixo as Tessituras de Linho.
#riodejaneiro, 20 de novembro de 2019#
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