#A VAGAROSA CAMINHADA# Graça Fontis: PINTURA Manoel Ferreira Neto: POEMA
Por que a felicidade
Aparece sob a forma de
estupefacção,
de sonho
de repouso,
de paz,
de sábado,
de "footing" na praça pública,
de mergulho no mar,
de churrasco e cerveja
no botequim com amigos
de descanso do espírito,
de estender os ossos?
da libertinagem dos instintos
de nada nos campos distantes
sentir ter sentido...
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Eu me lembro... eu me lembro... Ironia, cinismo?
Revolta, agonia? Rebeldia, náusea? Tristeza, desconsolo? Ódio, ojeriza? Nada
disso se me afigura ser, apenas uma lembrança de idos tempos ou de algum modo a
memória a delineou noutro estilo, fora uma musa para algumas visões e luzes,
mas fora um presságio a sátira da alma humana havia sido concebida, em noite
clarinha, as humilhações, vergonhas, mangofas seriam lições no destino que
traçara(traça), e esta lembrança/consciência é(são) realidades, vivi, o
inesperado se patentearia, deixe acontecer, nela não pensa, nunca andei devagar
para chegar primeiro, nunca andei às pressas para chegar antes, ser o primeiro
da fila, andar, andei, e não darei sossego enquanto não houver a consciência
disto.
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Mito, lenda, história,
causos do monsenhor,
porteira aberta
o vento passando
levando a poeira da estrada.
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Dizem por aí
que um Anjo tresloucado
conseguira de mim
a vida de poeiras,
por ele fora condenado.
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O sol raiava, era inverno, no inverno o raiar do
sol é sempre diferente, diria ser cortinado de seda invisível, aconchega o sol
do inverno no peito. Tudo era festa em volta de minha casa. Cantava o galo
“crista”, ama sentar-se no centro do galinheiro, os galináceos ao redor, as
galinácias distantes dele, comportadas, de quando em vez, para espairecer o sol
na crina, corria(corre) atrás de alguma galinha, ora esta, era sua vida, – nome
que lhe dei por sua crista enorme cair-lhe no olho esquerdo – alegre no terreiro,
o mugido das vacas misturava-se ao relincho das éguas no pasto que corriam de
crinas soltas pelo campo aberto de nossa residência/sítio, aspirando o frescor
da manhã. Pretéritos, passados, lembranças, recordações... mistérios e enigmas,
por que não? Quê memória revelá-la virgem, pura?
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Passarinhos do céu,
brisas da mata,
maresias do mar,
patativas saudosas dos coqueiros,
ventos da várzea,
fontes do deserto!...
micos pulando nas árvores, nas cercas,
nos fios de alta tensão!...
Cães por todos os cantos,
Paloma é do "fogão encerado"
Apronta todas!
Kadu deitado na cama, debaixo dela,
ao pé de minha cadeira de executivo,
enquanto trabalho
a companheira cadela,
frágil e dissimula fragilidade
para chamar a atenção,
mais amor
Paloma é independente, faz
o que quer;
Onde quer que na vida dos homens
e dos povos
há solenidade, gravidade, mistério
e cores sombrias,
fica um vestígio de espanto,
resquício de surpresa,
tiquinho de estupidificação,
que noutro tempo presidiam
às transações,
aos contractos,
às promessas:
o passado,
o longínquo,
obscuro e cruel passado
ferve em nós
quando nos pomos "graves".
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São estas as lembranças que se me a-nunciam, são
estes sentimentos, são estes os pensamentos que se me patenteiam, sinto-me até
rejubilado, sinto-me livre do instante presente, olhei-me de soslaio a imagem
refletida no espelho, havia um brilho diferente no olhar, deixasse-o livre, por
que pers-crutá-lo?, sinto-me alçando vôo, desejo sobrevoar rios, mares,
florestas, campos, montanhas, o destino é o infinito de todos os horizontes, de
todos os uni-versos, quiçá canções que se ouvem por todos os lugares,
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"...o que é de muito longe é que sempre
vem..."
pra ficar, para a sabedoria,
de ser-com,
que sempre ausculto, ao lado de Vida.
#riodejaneiro#, 26 de novembro de 2019#
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