CARTA AO VULGO: PONTEIO DA PARTIDA# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA
Epígrafe:
"Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer" (Geraldo Vandré)
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Quem me dera agora houvesse já partido para as
terras do bem-virá e não compondo a nota derradeira desta carta ao vulgo!!!
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Amanhã será outro dia...
Pontear derradeiras letras inter-virtuais no ápode
deste instante-limite, no calor do ato criativo que perscruta noutras
ad-jacências da con-tingência outros sons que possam compor a lírica do que me
fez cantador. Ponteei de vernáculos as letras de sentimentos do sublime, por
vezes sublimes e puros, por vezes obtusos e ambíguos, esgotei-lhes a fonte, na tentativa
agonizante de os meus "ii" serem pingados de excelência, longe dos
"ii", sem mesmo a imaginação dos pingos, que são características
deste vulgo presente, é preciso partir para atingir, alcançar outras orlas do
mar de aspirações, outras sendas do vale, não planto em tempo que é de
queimada, não semeio sementes em lotes vagos, terrenos baldios, não componho
sons no vácuo... Pontear ainda algumas letras com os seus devidos acentos
ortográficos, para serem bem pronunciadas, emitindo-lhes a música do inter-dito,
enquanto reúno as que foram ponteadas, colocando-as na mala, noutras
ad-jacências virão outros vernáculos, outros sons, outras letras.
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Amanhã será outro dia...
Pontear de baldios do absoluto, no frontispício da
página de dimensões do vir-a-ser, outras pers, retros de pectivas do silêncio
que concebe o som místico do in-audito que pre-nuncia, a-nuncia constelações
que a-lumiam as soleiras de cavernas e grutas, inspirando a sentir o que lhes
habita o interior.
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Amanhã será outro dia...
De ponta cabeça o efêmero sacia sua sede paráclita
do destino que, de travessias em travessias, inscreve nas tábuas de veredas do
perene as á-gonias da liberdade, sursis da alma-com as sinas badalando no domus
de sinos das igrejas heréticas, proscritas, templos demoníacos, marginais, que,
de nonadas em nonadas, do verbo de morrer a vida da morte, epitafia os
mistérios místicos, míticos, legendários, lendários das sendas do inolvidável
lúdico e sensual sibilo da efemeridade que suprassume a poética do espaço através
e por inter-médio da estesia das brás-cubianas memórias das páginas fenecidas
de linhas e margens, o aquém da trans-cendência nutrindo e alimentando o
além-nada das nadificações do ser, estratificações do não-ser, sub-stratos do
verbo, in-stratos dos verbos à luz pálida do crepúsculo de ocasos, o nada é
miríade da vida, a miríade do nada são os espectros-luz que são as palavras à
sensibilidade do não-ser atrás dos ossos que, destrinçados, mostrarão a carne
do tempo, tempo do filet mignon que só reconhece o gosto quem no paladar sonha
sentir o prazer da vida.
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Aleluia... Tese...
Pontear de estrofes da verdade, no atrás do convexo
do espelho, a imagem do efêmero sed-uzindo a carência da etern-itude com o
veneno paradisíaco da árvore dos prazeres as miríades do tempo de esperanças do
volo eidos da vida plena de éresis da leveza do ser.
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Pontear de versos da contingência de sartreanas
náuseas, camuseanas do deserto inaudito, gideanas concupiscências do imortal,
belo da estética do sensível, os sonhos oníricos da vigília, genesis dos três
pilares ou das três estalactites da gruta do verbo que pingam de água
cristalina o inaudito da inspiração.
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É preciso partir para con-templar outras passagens
do vento, outras paragens da caravana para o porto solitário, outras paisagens
com a presença do arco-íris, outros panoramas do caminho que é também do
caminhar, estar sempre à altura do poder de transcender o vulgo, ir além do
tempo sem chuva, sem vento, sem neblina, sem neve, sem orvalho, tempo seco de tudo,
de nada, sentar na praia do grande mar e visualizar ao longe a gaivota
sobrevoando as águas.
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Aleluia... Antítese...
Sons de raízes dedilhados nas cordas frágeis dos
sentimentos manifestos e latentes, raízes de árvores frondosas, folhas tocadas
de brilhos numinosos, no peito sensações de leveza nos sonhos de amanhã, nas
esperanças futurais, e vou tocando as ovelhas de palavras, ovelhas-palavras, de
letras, ovelhas-letras, com o cajado das utopias de ritmos e melodias,
linguísticas e semânticas, das dialécticas de in-auditos e silêncios, coisas
que não faço cá, coisas que não componho cá, canto a vida porque sou forte e tenho
razão, boêmio de volta ao lar, cabisbaixo, trilhando os caminhos com passos
comedidos, lentos, na vagareza do tempo, pensamentos ao longe, sentindo na
intimidade do íntimo os recônditos das andanças de sonhos dentro de outros
sonhos, dentro de outros sonhos. sabendo nada saber de sabedorias, sempre o
sentimento do longínquo criar-se, conceber-se a presença da verdade do
ec-sistir à luz de compor a história, cítara e harpa em uníssono de notas e
ressonâncias de ritmos re-compondo de fantasias e ilusões a cor-agem e ousadia
de pro-jectar a liberdade para pulsar desejos e vontades do Verbo, nonadências
de sensações e inspirações, pontes partidas de intuições, mister a leveza do
olhar os horizontes e universos, íris e linces em con-sonância com o re-velar-se,
en-velar-se, des-velar-se da natureza, da perfecção da chuva, do vento, da
maresia do mar, em cujos interstícios do Ser e do Tempo residem os orvalhos e
neblinas do pleno.
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Aleluia... Síntese...
Os primeiros raios de sol do alvorecer brilham
atrás da nonada de espectros fosforescentes, no horizonte distante a neblina
esvaece-se, ponteio o lince do olhar e vou fundo no abismo do universo buscar o
som da cítara que ritma os acordes de sentimentos inda a-nunciados nos
interstícios da alma que, quiça à revelia do nada, serpenteiam o vazio da
inspiração, tomam a vida no cálice de vinho da morte, serão a luz a bordar de
miríades do sublime as notas do volo desejo do perpétuo, a eternidade além da
consumação dos tempos.
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Amanhã será outro dia...
É preciso partir...
É preciso o adeus acenar...
Amanhã será outro dia...
É preciso partir...
É preciso cortar caminho...
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Amanhã será outro dia...
Esta carta o vento saberá entregar aos
destinatários...
#riodejaneiro#, 14 de novembro de 2019#
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