#SENDEIRO DA LUZ ETERNA🌬# GRAÇA FONTIS: PINTURA/ARTE ILUSTRATIVA Manoel Ferreira Neto: AFORISMO ***
Vós me
ouvis, Senhor?
Sofro de
modo atroz,
Encarcerado
em mim mesmo,
Prisioneiro
de mim mesmo,
Só ouço a
minha voz,
Só
enxergo a mim próprio,
Só penso
em minhas dores e angústias
Só
con-templo o ser de minha liberdade
Só
consigo enxergar miríades de lembranças
Que não
se encaixam, e fico pensando que são criações ridículas.
Não é
ridículo, Senhor,
Outrora
pensar e sentir estranho
Os
indivíduos que só sabem olhar para o próprio umbigo
Chegar a
criticar os homens de letras
Que não
incentivavam as manifestações artísticas
Dos novos
e inéditos,
E, hoje,
estar sentindo justamente isto
Olho o
meu próprio umbigo.
Sofrimentos
e amarguras
São as
sinfonias das tristezas e desolações
Operas
dos medos e hesitações
E, por
detrás de mim, só o sofrimento existe,
À frente,
vislumbro céu branco de etéreas nuvens.
***
Vós me
ouvis, Senhor?
O que
fazer se me não reconheço a mim?
Não sou
cristão, judeu ou budista
Não sou
espírita, fundamentalista, evangélico
Se já não
sou do sertão ou do vale;
Não sou
das minas, da terra ou do céu
Não sou
corvellano, cordisburguense ou gouveiano.
Não sou
do paraíso ou deste mundo,
Não sou
de Adão e Eva, nem do Hades.
O meu
lugar é sempre o não lugar,
Sou de
Pitibiriba, terra dos sensíveis e criativos,
Terra dos
românticos e sonhadores.
Nas
terras de Pitibiriba caminha um mortal,
Que não é
religioso nem desleal, não é rico nem pobre.
Não Vos
venera nem acata as leis;
Não
acredita na verdade, nunca afirma qualquer coisa...
Nas
terras de Pitibiriba, quem é esse homem intrépido e triste?
***
Vós me
escutais, Senhor?
Lençóis
subterrâneos de água cristalina,
Cascatas
e lagos surgiram,
Surgiram
para, enfim, a seiva de vida se escoasse
Então
A fim de
fortalecer o solo árido e trincado pela luz
Forte e
presente do sol
Para a
criatura se sentir possuidora das matas e dos vales,
E a
natureza ali o amor repassasse.
***
Libertai-me
de meu corpo; ele é pura fome, pura sede, e tudo o que ele toca com seus
grandes olhos incontáveis, com suas mil mãos estendidas, crispadas, é sempre
para se apossar e tentar acalmar seu apetite insaciável.
***
Vós me
ouvis, Senhor?
***
Libertai-me
do meu espírito: está cheio de si mesmo, de suas idéias, de seus julgamentos,
da saudade de minha querida e amada Sofia – nem sabe dialogar, pois nenhuma
outra palavra o atinge senão suas próprias palavras.
***
Se o
amanhã não vier, Senhor, vou com certeza arrepender-me pelo resto de minha vida
de não ter gasto tempo extra num sorriso, num abraço, num beijo. Se o amanhã
jamais chegar, Senhor, não terei que me arrepender pelo dia de hoje. O passado
não volta, e o futuro talvez não chegue.
***
Livrai-me
do medo de passos à frente, de olhares ao horizonte longínquo e próximo, de
desejos de nas sendas da eternidade contemplar as esperanças de jardins
floridos, de caminhos do campo. Livrai-me, Senhor, dos temores de amanhã, de
nada vislumbrar senão as trevas, as alamedas sem luz.
***
Vós
prestais atenção nestas palavras, Senhor?
Sermões,
discursos, homilias e lógicas não me convencem,
O peso da
noite silencia-se bem mais
Fundo em
minha alma...
...
encontro Suas missivas, Senhor, caídas pela rua
E todas
assinadas com o Vosso nome,
Deixou-as
onde estão.
Cada
instante de luz ou de treva
De
caminhos de treva na luz
De
caminhos de luz nas trevas
É para
mim um milagre
- quem
sabe devesse dizer “magia”?,
Milagre
cada polegada cúbica de espaço
Magia
cada centímetro de terra,
Cada
metro quadrado da superfície da terra.
***
Teria
enorme felicidade, alegria, prazer, e uma exultante satisfação, se Vós, Senhor,
me concedêsseis nestes últimos anos que me restam para viver sobre a terra, o
direito de poder escolher fatos que me comovessem, que viessem me acontecer e
atender os meus desejos, sobretudo aqueles que ultimamente dominam a minha
mente, e que faz surgir grande voluptuosidade no meu coração.
***
Caminhei
por muitas estradas desconhecidas, de terra e poeira, de pedras e buracos, em
busca da verdade, mas em tudo via a hipocrisia; sentia que jamais poderia
existir a perfeição. Todavia é através da imperfeição que se contempla,
vislumbra-se a perfeição.
***
Deixo que
a luz brilhe em meu rosto, deixo que a vida seja a luz dos meus olhos, mas
esteja sempre sonhando que exista: a paz, alegria, amor, compreensão e muito
carinho para a humanidade. Aí está o mistério do sol. Ninguém pode brilhar
tanto e receber tanta luz, já nos basta a luz da vida que é tanta, em sua
essência.
***
Vós me
compreendeis, Senhor?
Dizem as
palavras da Bíblia
Que o
Espírito de Deus pairava sobre as águas.
Na gênese
da criação.
Se
acredito nisso, Senhor?
Não tenho
o direito de ter qualquer dúvida
Contudo,
pergunto-me se o Espírito de Deus
Pairava
sobre as águas cristalinas.
Se sobre
elas, acredito, que era uma fonte de vida que jorrava,
Que o
Senhor gerava em profusão
E o Amor
Divino, em suas fráguas
-
Desculpe-me, Senhor, esta rima ridícula
Águas com
fráguas; só um espírito medíocre
Assim seria
capaz de proceder nas letras.
***
Quem
sabe?!... Ir mais longe ainda,
Naquele
passo de bicho-preguiça,
Tendo
acabado de encher a pança,
Dizer que
só mesmo a angústia pode
Ocasionar
estes efeitos,
Enfim é
preciso correr léguas dela,
E só a
imaginação fértil
Poderia
explicar
Isto de
rimar “águas com fráguas”.
***
Sozinho,
me aborreço, Senhor
Canso-me,
Detesto-me,
Enojo-me
a mim mesmo.
***
Há um
vestígio musical
Na sua
ausência, Sofia:
Algo que
é sigilo e ressonância,
Sintonia
de cristais
Sílabas
de sim no
Silêncio
do som e do aqui.
***
Há quanto
tempo me reviro em minha mísera pele como num leito de doente do qual quisera
escapar,
Tudo se
me afigura mesquinho e feio, sem luz,
É que
nada posso ver que não seja através de mim próprio.
Tudo à
minha volta está deserto,
Incerto,
É que não
posso dar um passo sem pensar
Não
chegarei a lugar algum.
***
Não sei
admitir como e quando me sentirei ausente deste estado mórbido de desalento,
que vem progredindo com intensidade, agravando de maneira veemente o meu
sentimento espiritual. Vem caminhando a passos largos em direção a uma
austeridade que a todo momento me esforço e sinto urgência de conter essa
situação que continua a assustar-me: a ambigüidade, a múltipla significação de
advertência atentando-me para que eu veja pela frente a autenticidade do
ocorrido e não a contemplar uma semelhança que estou refletindo ser a
verdadeira.
***
Sinto-me
prestes a odiar os homens e o mundo inteiro, por despeito, já que os não posso
acusar. Onde quer que se encontre o grito da caridade e do amor, deve existir o
grito do amor ao próximo, porque só então existirão menos miséria e menos
miseráveis seres humanos.
***
Poetisa
dissera-me entre sorriso, olhar brilhante:
Morrei,
morrei, aos pés do Senhor;
Assim
sereis feliz e nobre
Assim
sereis alegre e saltitante!
Morrei,
morrei, deixai a triste névoa,
A
melancólica chuva
A
nostálgica tarde de inverno,
Tomai o
resplendor da lua cheia,
O
esplendor das estrelas em noite de lua nova!
O
silêncio é sussurro de morte
E esta
vida é uma cítara silente.
***
Quisera
sair,
Quisera
andar sem rumo, sem destino, sem eiras e beiras
Correr
para um outro lugar diferente desse.
Sei que
existe a ALEGRIA: vi-a cantar em alguns rostos.
Sei que
rebrilha a LUZ: vi-a iluminar certos olhares,
Certos
caminhos por onde passavam os homens.
Sei que
encanta a FELICIDADE: senti-a no olhar
De uma
pobre menina que cantava “lá-lá”
Para a
bonequinha adormecer
Num dia
de Natal chuvoso e ensimesmado.
Seu peito
era todo emoção e sentimentos puros
A futura
mamãe se re-velava nos toques carinhosos
De suas
mãos pequenas.
Mas,
Senhor, não consigo libertar-me, gosto de minha prisão, ao mesmo tempo que a
odeio.
***
Pois sou
eu, minha prisão.
***
E me amo,
Amo-me,
Senhor, e tenho náuseas de mim
Ojeriza
de minhas palavras,
Asco de
meus sentimentos de sim e de não,
Nojo de
meus pensamentos e idéias
Que nunca
encontram porto em que descansar
O
não-dito que o dito se incumbiu de en-velar.
***
Nem
encontro, Senhor, a porta de mim mesmo.
Arrasto-me
às apalpadelas, às cegas,
Esbarro
em minhas próprias paredes, em meus próprios limites,
Medos,
temores, ilusões e quimeras.
Firo-me,
Sinto
dores,
Sinto
dores demais – e ninguém sabe,
Porque
ninguém jamais entrou dentro de mim.
Estou só.
Sozinho.
***
Senhor,
Senhor, Vós me escutais?
Senhor,
mostrai-me a minha porta; tomai-me a mão,
Abri,
Apontai-me
o Caminho.
A estrada
da ALEGRIA, o sendeiro da LUZ ETERNA
...
Mas...
Mas,
Senhor, Vós me escutais?
#RIO DE
JANEIRO(RJ), 11 DE MAIO DE 2020, 12:52 p.m.#
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