#HORAS CHEIAS DE IMPERFEIÇÕES VAZIAS# GRAÇA FONTIS: PINTURA/ARTE ILUSTRATIVA Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
"O
silêncio que nos retrate somos nós, mas o silêncio in-fin-itivo é que é o
silêncio vivo de nós." (Manoel Ferreira Neto)
***
Se as
vozes tudo perguntam, se as vozes a tudo res-pondem, se as vozes a tudo
perquirem - a Esperança do Verbo de Ser é o Amor Pleno à Vida? A Esperança é a
Luz de todos os caminhos da Vida? A Esperança é o Olimpo das conquistas? -, as
quimeras nada indagam, questionam o vazio, só oferecem respostas, são músicas
que fluem, permitindo que os sons se mostrem livremente, con-sentindo que
ritmos e melodias ressoem livres e re-presentem o cântico do Ser atrás da Vida,
longínquos nos pretéritos dos tempos, a verdadeira música se faz ouvir menos
porque os homens dela são merecedores e mais, porque necessitam dela.
***
Resta-nos
apenas encontrar o tom com que abordar os sentimentos, com que artificiar a
sensibilidade e subjetividade dos sonhos, desejando a cada passo, seja no deserto
ou na floresta íngreme, no inferno ou no Beco do Mota, meretrizes, homens de
bons princípios dando voltinhas escusas, cachaceiros, jagunços, de frente a
Catedral Metropolitana, revelar o íntimo: "Eis o Ser de mim!...
sob as
nuvens e sob os ventos,
sob as
pontes e sob os túneis,
sob as
labaredas e sob os sarcasmos,
sob o
cárcere e sob o esquecido
sob os
espetáculos e sob a morte
sob a
lâmina de vento no pescoço,
sob o
perigo atmosférico e risco fatal viral,
sob o som
da melodia de serenata,
executando
canção com falsos acentos
e
violações da métrica...
apresentando
a Vesperata da Meia-Noite
com
reversos ritmos, perversas melodias,
quebra da
sonoridade...
***
Achado o
tom para as abordagens à busca de revelações, esperamos que se abram vários
eixos e que eles cubram o mundo por cima, um sudário, o calor do aconchego, o
estar amparado e seguro dos acontecimentos quotidianos do medo e do desespero,
signo da fé, são as características que lhe residem.
***
Aumentando
o calor, a sombra também se aquece, sentimos o sol na pedra acima de nós, ele,
bate, bate, como um martelo sobre todas as pedras, e é a música, a vasta música
de meio-dia, vibração de ar e de pedras sobre centenas de quilômetros, ah, como
antigamente, ouvimos o silêncio.
Silêncio...
A
verdadeira música,
Fragmento
de destino,
De lei
originária...
"Como
é radiante
o
silêncio no róseo
fulgor da
aurora!..."
***
Sim, não
é o mesmo silêncio que nos acolhera há anos, quando nos encontrávamos sem rumo
e destino, mente vazia, desesperançados e angustiados, necessitando ouvir vozes
que nos dissessem algo sublime sobre a vida, mesmo que quimeras, algo
percuciente sobre o que é isto - a eternidade. Disse-nos o silêncio mais que
isto, mostrara-nos o sublime e a possibilidade de atingir a sublimidade desde
que estivéssemos dis-postos a abrir-nos, deixando as coisas entrarem, deixando
a vida espiritualizar-se de verbos e sujeitos da verdade, a boca vem de longe,
sozinha, experiente, vem sorrir, aurora, para todos, a língua vem de dentro,
acompanhada, fissurada pela algazarra, muvuca das críticas, náuseas...
***
Desde
então, o silêncio acompanha-nos, ouvimos-lhe as vozes todas.
O prazer
faz com que toque a tristeza da felicidade. É extremo. Conhecemos a
voluptuosidade do voo e do pairar do pássaro neste lugar nenhum, macio e claro,
para onde o prazer nos arremessa antes de esmagar-nos no chão. Conhecemos a
voluptuosidade de imobilizar o tempo num átimo de segundo e de prender por meio
do corpo o corpo mesmo do tempo, antes que se esvaeça, tendo apenas aflorado.
Conhecemos o penar e calar do silêncio, tão fino e tão atento, que, fazendo
disfarce do tormento, mostramos que o não padecemos e sabemos que o sentimos.
Conhecemos o êxtase e o logro do êxtase. Numa palavra, experimentamos agora a
falsa eternidade da união e não reconhecemos nisso o nosso presente, não
desconhecemos as futurais perspectivas do sol numinando os campos de algodão,
sine qua non a ênfase.
***
Tantos
séculos de silêncios
armazenados
atrás das cabeças
conferem
à solidão uma densidade de chumbo,
e os
minutos entre as palavras e as imagens
que vamos
dizendo a nós próprios
passam
como horas,
entre as
utopias que vamos tecendo
perpassam-nos
tão insustentáveis, leves, suaves, serenas.
***
Até o
momento em que os lábios, ou melhor, os maxilares se descerram, e são agora as
palavras que parecem violar uma proibição, tabu, como uma rachadura fendendo um
muro sagrado.
***
Vivemos
horas cheias de uma imperfeição vazia e tão perfeitas, por isso mesmo, tão
diagonais à certeza "retângula" da vida. São horas caídas nesse mundo
de outro mundo mais cheio de orgulho de ter mais desmanteladas angústias.
***
Se
pudéssemos ser sarcásticos a ponto de nos imaginar rindo, riríamos, sem dúvida,
de nos imaginarmos vivos, felizes, rindo em plena madrugada, até a barriga
doer. Se pudéssemos ser satírico à moda e estilo de nos concebermos vertendo
lágrimas pujantes naquele instante-já do gozo e do climax, creio aí não ser a
violação da proibição..., mas o deflorar aquele segredo mais recôndito da alma.
Vivemos horas impossíveis, cheias de sermos nós... e isto porque sabemos, com
toda a carne de nossa carne, que não somos uma realidade.
***
Que
horas, ó companheiro de nossa "solidão",
que horas
de desassossego feliz,
horas de
cinza de espírito,
dias de
saudade espacial,
minutos
de jogos mentais,
antes do
Apocalipse que está bem longe inda,
séculos
interiores de paisagem externa.
Nada vale
a pena, ó nosso amor longínquo,
senão o
saber como é suave saber que nada vale a pena,
que as
vozes simuladas em quimeras
merecem o
olhar aberto,
os
ouvidos atentos às coisas que existem,
as
línguas em riste tecendo e crocheteando autenticidades
são
portadoras de venenos fatídicos, fatais,
merecem o
coração livre para auscultar-lhes os silêncios,
Não é o
muito saber que sacia e satisfaz,
mas sim o
sentir e o saborear-lhes internamente as vozes.
#RIO DE
JANEIRO(RJ), 05 DE MAIO DE 2020, 07:45 a.m.#
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