#VÁRZEAS DE VENTOS VÃOS💧# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA E DESENHO
Quem me
dera a "anima" de inspirações leves, suaves, tranquilas, serenas de
sensações e intuições que inscrevem no tabernáculo do templo a vida do
espírito, a face da alma, ad-versa à do corpo, face de semblante e fisionomia
sob a luz das contingências, qual as mulheres quando acariciam o ventre onde
trazem a vida a ser dada a luz, sentem o além, o infinito, o uni-verso,
horizonte sil-esiado de muitos sonhos...
***
Várzeas
vãs de ventos,
Várzeas
de ventos vãos,
Voejam
volúpias,
Volitam
vertentes,
Vociferam
perspectivas
Comprometo-me
ao extremo,
Combino
encontros a que nunca comparecerei,
Pronuncio
palavras vãs, falta-me o vernáculo
cujos
sons despertam o signo da alma,
e dos
vãos das palavras,
Minto
dizendo: "Até de repente...",
Pois não
há "de repente"...
A boca
distingue, escolhe, julga, absorve,
Passa um
arrepio de violino ou vento. Não é a morte...
No
espelho, as ondas de som do silêncio desfilam,
Tocando-o,
nas paredes deslizam,
Instante
final, antes e depois de hoje,
Contínua
vida incansável,
Onde não
há pausas,
Síncopes,
sonos,
Tão macio
na noite é o sono,
Em cujos
interstícios, sem mistificação, voo...
Acima do
nível do mar uns dois mil e trezentos metros,
Sem olhar
a terra abaixo, voo simplesmente...
***
Há
momentos em que,
mesmo aos
olhos serenos da razão, insolentes do intelecto, o mundo de nossa triste
Humanidade pode assumir a imagem de Inferno, mas a imaginação do homem não é
Carathis para explorar impunemente todas as suas cavernas.
***
Deter-me,
por átimos de instante que sejam, em qualquer concessão a essa idéia é estar
inevitavelmente perdido, sem chão de por baixo dos pés, a reflexão ordena que
fuja sem demora e, portanto, digo-o, é isto mesmo que não posso fazer, com
súbito esforço recuar da beira do abismo.Não há na natureza paixão mais
diabolicamente impaciente como a daquele que, tremendo à beira dum precipício,
pensa dessa forma em nele se lançar. Dia tenso, ensimesmado e mudo de outono,
em que nuvens baixas amontoam-se opressivamente no céu, percorro trecho de bosque
singularmente triste, e finalmente me encontro, quando as sombras da noite se
avizinham, à vista da melancólica Casa de Chamone. A imagem do universo. A casa
significa o ser interior, seus cômodos, seus andares, seu porão e sótão
simbolizam diversos estados de alma. O porão corresponde ao inconsciente, o
sótão à elevação espiritual. A casa é também um símbolo feminino, com o sentido
de refúgio, de mãe, de proteção, de seio maternal. A vida dentro da casa está
protegida, segura, inabalável. Dentro da casa nada de ruim pode entrar e
afugentar quem nela se encontra e se abriga. A casa é uma espécie de
cavalheiro, de mãe zelosa e acolhedora.
***
Coração
de ouro e diamante, o vazio esvaiu-se, esvaece-se de por trás das constelações
do universo! Eu me lembro... eu me lembro... Portões abertos dessa
inteligência, indiferentes aos corais ardilosos, pueris, a lógica quanto às
variantes perspectivas d'um horizonte luminoso, recortada bizarramente de
arvoredos...
***
O sol
raiava, era inverno, no inverno o raiar do sol é sempre diferente. Tudo era
festa em volta de minha casa. Cantava o galo “crista” – nome que lhe dei por
sua crista enorme cair-lhe no olho esquerdo – alegre no terreiro, o mugido das
vacas misturava-se ao relincho das éguas no pasto que corriam de crinas soltas
pelo campo aberto da fazenda, aspirando o frescor da manhã, a cadela Turka
parindo no celeiro, sentimento quase agradável na sua poesia, com o qual a
mente ordinariamente acolhe mesmo as imagens... Imagens também despertam aperto
no coração: corredores escuros e intrincados; excessiva antiguidade;
descoloração; sombrias tapeçarias nas paredes; negrura de ébano dos assoalhos;
fantasmagóricos troféus; mobiliário incômodo.
***
O que
passou não retornará. Sombras no âmago.
***
Passarinhos
do céu, brisas da mata, patativas saudosas dos coqueiros, fontes do deserto,
ventos da várzea!...
#RIO DE
JANEIRO(RJ), 04 DE MAIO DE 2020, 12:21 a.m.#
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