#INTINTOS DA DESOVA PSÍQUICA NAS MOVEDIÇAS FRONTEIRAS DA LEMBRANÇA E DO ESQUECIMENTO GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: SÁTIRA ***
O sol
deita-se e as nuvens azuis colorem os terraços brancos, as águas fedorentas do
Rio Grande, em direção à favela da Palha, o jardim do Seminário São Judas
Tadeu, a calçada da Cúria Metropolitana. Afigura-se-me haver distendido uma
mola no interior, soltaram-se algumas ruelas e parafusos dos princípios
eruditos satíricos. Parece-me, em princípio, haver sentido uma eclosão, por
haver dito com o mais profundo ser EU zero obtuso à esquerda, sei que os
instintos da desova psíquica ficaram excitados, manifestado-me bem para além do
inteligível, das “movediças fronteiras da lembrança e do esquecimento”. Ouço à
superfície das águas a eclosão dos sons, os sons do silêncio, das luzes.
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O mundo
vil e vulgar termina à porta – daqui para dentro é o infinito, um mundo eterno,
superior, esplendoroso, nosso, da preocupação e de mim, das moléstias
macunaímicas, paulicéias instintivas, carioquéias das malandragens
egocêntricas, sem regras, sem cardápios, sem figurinos, sem etiquetas, sem leis
– um só mundo, uma só vida, uma só vontade, uma só afeição – a unidade sensível
de todos os desejos e vontades pela exclusão das que me são adversas e
controversas. Sentir um estímulo forte de querer ou não querer é assunto do
intelecto interpretativo, que naturalmente trabalha em mim de forma
inconsciente, digamos nestes termos, seguindo certos cânones súperos, embora
para mim o seu estilo de ação e atitude é uma adesão dos instintos e razão
in-versa. Sonhei esta madrugada que havia visto em carne e osso São Nunca, a
sua batina era ornamentada com diamantes puros, encontrados no rio de
Lavrinhas, batendo um papinho bem excitante com a Esfinge da mitologia grega,
enquanto eu estava pescando peixinhos para o aquário particular com uma peneira
adquirida na Loja Leandro Costa, especialista no gênero.
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Deixo-me
ser algo sem nome, uma sensibilidade no âmago. Comigo mesmo, penso ter sido a
despedida mais original a que jamais me outorguei. Coloco em palavras os
sentimentos, a intimidade do ato, da atitude, da ação, do sonho, da utopia. Deixo-as
irem consigo mesmas em toda a viagem, uma viagem de carruagem guiada por
cavalos de pura raça, três, e um jegue iniciante na labuta é sempre agradável,
proporciona os prazeres mais indecentes e indecorosos, no balanço tweedle dee,
tweedle dum das estradas do vale. Fecho-me sobre águas calmas. Por onde passei,
a minha busca, as ondas voluteiam imensas e suaves. Procuro um original no
âmago e essência.
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Irá haver
um abismo entre a subjetividade e as palavras, um caminho da roça entre a
caverna e a ponte movediça da metafísica e exegese, da metalinguagem lacaniana
e teoria do conhecimento à la Habermas. O rosto fica na sombra sob o ouro do
diadema brilhante.
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A
distância vai-se efemerizando lentamente. Aos saltos, realizo-me. O declive do
vale favorece as enormes passadas. As enormes passadas são favorecidas pelo
prado do declive.
Alcanço a
água do rio sem margens, sem pressa, resfolegando. Teço um longo discurso,
laureando a sublimidade do mundo e da terra, mas não há palavras, só alguns
sons sussurrados, quando do sarcasmo, ritmos cochichados, quando do ácido
cínico destilado. Mergulho com grandes gargalhadas.
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Há, como
nas obras célebres, o passo da simulação e da reconciliação. Nas obras
vulgares, o cata-cavaco da hipocrisia e da interação social. Só ao longo da
grande planície é-se possível um encontro com as origens, essências, com o sol
da meia-noite fantasmagórico, telúrico, psicodélico.
#RIO DE
JANEIRO(RJ), 25 DE MAIO DE 2020, 13:35 p.m.#
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