CRÍTICA LITERÁRIA POETISA E ESCRITORA Ana Júlia Machado ANALISA E INTERPRETA A ERUDIÇÃO POR INTERMÉDIO DO AFORISMO #HORAS CHEIAS DE IMPERFEIÇÕES VAZIAS# ***
No texto
de Manoel Ferreira Neto #HORAS CHEIAS DE IMPERFEIÇÕES VAZIAS#, afigura-se, digo
eu, o questionar tudo na vida e o modo como se expressar...a crítica quiçá mais
uma vez à escrita sem sentimento e sensibilidade.
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Quem
transita um caminho não possui, em geral, o cuidado de entender a história
geológica dos rebos que dispõem a ladeira que a assoalha; acontece que provimos
da mesma feição para o trilho dos verbos, vigilantes apenas à sua utilidade,
isto é, aos sentidos que significam. Mas quem tem a conveniência activa e uma
audição aprimorada consegue algumas vezes capturar, por detrás dos formatos e
da importância significativa contemporâneas, outros instantes remotos, mais ou
menos recônditos, que concedem um raciocínio àquele aspecto e àquela valia. O
indício fonético que hoje ocorre indestrutivelmente aliado ao seu sentido pela
oportuna indispensabilidade do método de que faz parte, possui nas suas
estirpes mais perspicazes um instante inventivo que é muitas ocasiões instantes
de versos. Desse instante brotou a carência íntima, não congénita, mas
indulgente e propositada que ainda liga indicativo e interpretação. Cada
indício é detentor da erudição e este conhecimento tem sensivelmente o cunho de
uma suposição que continuamente se inova, abonando-se numa prova dada pela
anuência ecuménica. Por isso mesmo tal ocorrência encontra-se arrolada com o
aperfeiçoamento da perceção da coletividade que materializa as convenientes
tentativas naquele agregado de erudições. Em resultado disso, a linguagem, até
na sua construção presente, não é mais que uma urdidura de renovações, de
feitos inventivos, extrínsecos ao nosso cuidado, porque o processo é completo
em si e razoável para completar os intuitos da manifestação. Mas quem volta a
deslindar um desses instantes de invenção, que instituíram aquela organização,
faz assomar da penumbra do tempo um factor da obra imaginária, sobre a qual a
gente jornadeia. O corisco que de vez em quando se desengata de um pedaço de
parcas sílabas é uma linha de luminosidade que se propaga entre nós e a
pré-história. No homem de erudição superior, igualmente a sua acção elucidativa
jamais é integralmente isenta, porque sempre através dela se executa um
intento, indirecto ou instantâneo, de procedimento sobre a conduta dos seus
análogos. Mas, neste, o intento elucidativo não somente pode acercar a imperar
por uma forma definida, sobre o procedimento social, mas pode avocar igualmente
um porte que possui idoneidade sem confronto mais largo — numa dissertação de
Erudição, de Filosofia, de História —, que uma elementar intercurso do
dia-a-dia sobre a circunstância do tempo ou a cursa de um ajuste. Finalmente
quanto à manifestação, além da básica e pronta manifestação — básico desafogo —
de sensibilidades essenciais—, que muitas vezes se exteriorizam através de
jeitos extralinguísticos (o riso, o grito, o gesto) —, igualmente o homem
sugerido incultivável é apto de executar instantes de enunciação impressionável
súpera e até mesmo de compor do feito filológico, quer o assimile, quer o
execute, um feito fecundante inspirador, manifestação de um gozo axiomático dos
assuntos, quer dizer, causada num saber harmonioso, e não versado ou
intelectivo, dos mesmos.
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Contudo,
se este dinamismo eloquente, especialmente estesia, invulgarmente prevalece no
procedimento oral do sujeito de vulgar saber, igualmente o mundo de existências
que através dela pode expressar, ou meramente assimilar, é infalivelmente
exíguo e pedinte. Pelo contrário, quanto mais eminente for a sua grandeza de
saber, tanto mais largas e penetrantes serão as suas práticas inspiradoras, e
mais constantes os instantes em que lhes facultará manifestação — enunciação
harmoniosa, não inteiramente autónoma, mas em variada dimensão considerável
sobre os intuitos tão-somente expansivos, rotinas, esclarecedoras, do feito de
discurso. Um homem será pois tanto mais erudito, quanto mais abastada for a
forma estilística da sua locução, quanto mais delicadas forem as progressões
estilísticas que ele é competente de autenticar e usar. E é desde logo visível
que a sua absorção, o seu tirocínio deverá ser extenso e exaustivo. Instruir o
idioma denotará, por outra parte, nada menos do que facultar ao sujeito a
faculdade de conceber e ampliar as extremidades do Mundo; de edificar um
planeta de erudição — intelectivo e belo; de operar com eficiência sobre os
seus análogos numa área cada vez mais ampla; enfim: de se executar inteiramente
como individualidade incorpórea, em face de si próprio, dos diferentes — de se
asseverar como Criatura.
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Por esse
intuito a diligência ao sumo para perceber a erudição, bem como a alienação e a
imprudência; contudo, é o que dá a entender o autor, de facto, é que isso
tal-qualmente ser célere atrás do vendaval. Afinal, quanto maior o
conhecimento, maior o padecimento; e quanto maior o sentido maior a mágoa.
Por isso,
o autor finaliza com o seguinte: Não é o muito conhecimento que extingue e
consola, mas sim o considerar e o deleitar-se intimamente os verbos.
Ana Júlia
Machado
@@@
#HORAS
CHEIAS DE IMPERFEIÇÕES VAZIAS#
GRAÇA
FONTIS: PINTURA/ARTE ILUSTRATIVA
Manoel
Ferreira Neto: AFORISMO
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"O
silêncio que nos retrate somos nós, mas o silêncio in-fin-itivo é que é o
silêncio vivo de nós." (Manoel Ferreira Neto)
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Se as
vozes tudo perguntam, se as vozes a tudo res-pondem, se as vozes a tudo
perquirem - a Esperança do Verbo de Ser é o Amor Pleno à Vida? A Esperança é a
Luz de todos os caminhos da Vida? A Esperança é o Olimpo das conquistas? -, as
quimeras nada indagam, questionam o vazio, só oferecem respostas, são músicas
que fluem, permitindo que os sons se mostrem livremente, con-sentindo que
ritmos e melodias ressoem livres e re-presentem o cântico do Ser atrás da Vida,
longínquos nos pretéritos dos tempos, a verdadeira música se faz ouvir menos
porque os homens dela são merecedores e mais, porque necessitam dela.
***
Resta-nos
apenas encontrar o tom com que abordar os sentimentos, com que artificiar a
sensibilidade e subjetividade dos sonhos, desejando a cada passo, seja no
deserto ou na floresta íngreme, no inferno ou no Beco do Mota, meretrizes,
homens de bons princípios dando voltinhas escusas, cachaceiros, jagunços, de
frente a Catedral Metropolitana, revelar o íntimo: "Eis o Ser de mim!...
sob as
nuvens e sob os ventos,
sob as
pontes e sob os túneis,
sob as
labaredas e sob os sarcasmos,
sob o
cárcere e sob o esquecido
sob os
espetáculos e sob a morte
sob a
lâmina de vento no pescoço,
sob o
perigo atmosférico e risco fatal viral,
sob o som
da melodia de serenata,
executando
canção com falsos acentos
e
violações da métrica...
apresentando
a Vesperata da Meia-Noite
com
reversos ritmos, perversas melodias,
quebra da
sonoridade...
***
Achado o
tom para as abordagens à busca de revelações, esperamos que se abram vários
eixos e que eles cubram o mundo por cima, um sudário, o calor do aconchego, o
estar amparado e seguro dos acontecimentos quotidianos do medo e do desespero,
signo da fé, são as características que lhe residem.
***
Aumentando
o calor, a sombra também se aquece, sentimos o sol na pedra acima de nós, ele,
bate, bate, como um martelo sobre todas as pedras, e é a música, a vasta música
de meio-dia, vibração de ar e de pedras sobre centenas de quilômetros, ah, como
antigamente, ouvimos o silêncio.
Silêncio...
A
verdadeira música,
Fragmento
de destino,
De lei
originária...
"Como
é radiante
o
silêncio no róseo
fulgor da
aurora!..."
***
Sim, não
é o mesmo silêncio que nos acolhera há anos, quando nos encontrávamos sem rumo
e destino, mente vazia, desesperançados e angustiados, necessitando ouvir vozes
que nos dissessem algo sublime sobre a vida, mesmo que quimeras, algo
percuciente sobre o que é isto - a eternidade. Disse-nos o silêncio mais que
isto, mostrara-nos o sublime e a possibilidade de atingir a sublimidade desde
que estivéssemos dis-postos a abrir-nos, deixando as coisas entrarem, deixando
a vida espiritualizar-se de verbos e sujeitos da verdade, a boca vem de longe,
sozinha, experiente, vem sorrir, aurora, para todos, a língua vem de dentro,
acompanhada, fissurada pela algazarra, muvuca das críticas, náuseas...
***
Desde
então, o silêncio acompanha-nos, ouvimos-lhe as vozes todas.
O prazer
faz com que toque a tristeza da felicidade. É extremo. Conhecemos a
voluptuosidade do voo e do pairar do pássaro neste lugar nenhum, macio e claro,
para onde o prazer nos arremessa antes de esmagar-nos no chão. Conhecemos a
voluptuosidade de imobilizar o tempo num átimo de segundo e de prender por meio
do corpo o corpo mesmo do tempo, antes que se esvaeça, tendo apenas aflorado.
Conhecemos o penar e calar do silêncio, tão fino e tão atento, que, fazendo
disfarce do tormento, mostramos que o não padecemos e sabemos que o sentimos.
Conhecemos o êxtase e o logro do êxtase. Numa palavra, experimentamos agora a
falsa eternidade da união e não reconhecemos nisso o nosso presente, não
desconhecemos as futurais perspectivas do sol numinando os campos de algodão,
sine qua non a ênfase.
***
Tantos
séculos de silêncios
armazenados
atrás das cabeças
conferem
à solidão uma densidade de chumbo,
e os
minutos entre as palavras e as imagens
que vamos
dizendo a nós próprios
passam
como horas,
entre as
utopias que vamos tecendo
perpassam-nos
tão insustentáveis, leves, suaves, serenas.
***
Até o
momento em que os lábios, ou melhor, os maxilares se descerram, e são agora as
palavras que parecem violar uma proibição, tabu, como uma rachadura fendendo um
muro sagrado.
***
Vivemos
horas cheias de uma imperfeição vazia e tão perfeitas, por isso mesmo, tão
diagonais à certeza "retângula" da vida. São horas caídas nesse mundo
de outro mundo mais cheio de orgulho de ter mais desmanteladas angústias.
***
Se
pudéssemos ser sarcásticos a ponto de nos imaginar rindo, riríamos, sem dúvida,
de nos imaginarmos vivos, felizes, rindo em plena madrugada, até a barriga
doer. Se pudéssemos ser satírico à moda e estilo de nos concebermos vertendo
lágrimas pujantes naquele instante-já do gozo e do climax, creio aí não ser a
violação da proibição..., mas o deflorar aquele segredo mais recôndito da alma.
Vivemos horas impossíveis, cheias de sermos nós... e isto porque sabemos, com
toda a carne de nossa carne, que não somos uma realidade.
***
Que
horas, ó companheiro de nossa "solidão",
que horas
de desassossego feliz,
horas de
cinza de espírito,
dias de
saudade espacial,
minutos
de jogos mentais,
antes do
Apocalipse que está bem longe inda,
séculos
interiores de paisagem externa.
Nada vale
a pena, ó nosso amor longínquo,
senão o
saber como é suave saber que nada vale a pena,
que as
vozes simuladas em quimeras
merecem o
olhar aberto,
os
ouvidos atentos às coisas que existem,
as
línguas em riste tecendo e crocheteando autenticidades
são
portadoras de venenos fatídicos, fatais,
merecem o
coração livre para auscultar-lhes os silêncios,
Não é o
muito saber que sacia e satisfaz,
mas sim o
sentir e o saborear-lhes internamente as vozes.
#RIO DE
JANEIRO(RJ), 05 DE MAIO DE 2020, 07:45 a.m.#
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