ANA JÚLIA MACHADO ESCRITORA PINTORA E CRÍTICA LITERÁRIA INTERPRETA E ANALISA O AFORISMO #O OUTRO DO OUTRO#
Mais um
aforismo complicado. Eu diria que este texto será baseado em Sartre, no
Existencialismo e, ao mesmo tempo, em Nietzsche, quando diz que já nasceu
póstumo…
***
O
Existencialismo é um movimento que abrangeu o seu auge na metade do século. Os
grandiosos mestres praticamente ausentaram-se. O problema é que as teses
aplicadas pelo pensamento existencialista dizem respeito à própria existência
humana em toda a sua dimensão. E a partir daí o Existencialismo insiste puxando
uma reverberação ideóloga e prática crescente. Existencialismo é a doutrina que
coloca as categorias elementares para se reflectir a realidade humana. O único
pensador que adopta a locução existencialismo para classificar a sua inerente
teoria é Sartre. Mas ele toma de Heidegger a frase que tornou famosa toda a
escola: “A existência precede a essência”. Não há essência alguma para Sartre.
Ele se objectaria a uma filosofia da natureza. A percepção está em
primeiríssimo lugar. Em segundo, está o antagonismo sujeito objeto e, na
privacidade do antagonismo sujeito-objeto, está estabelecido o Nada. Mas toda
verdade é ou sujeito ou coisa. Sujeito e objeto transferem tudo. Sartre é o
primeiro que assevera que sujeito e objeto são permutáveis. Sartre chega a
verbalizar que toda ligação que inclui gozo enfermo em ver e fazer amargar
outra pessoa, porque ou bem sou objeto do outro ou bem metamorfoseado o outro
em coisa minha. Não dá para abalar dessa diferença. O sadomasoquismo de facto
explica a condição da intersubjetividade. Sartre não aceita o involuntário. O
homem é momentaneamente conhecimento. Em segundo lugar, o pensamento essencial
é o propósito, que não é uma questão mental, é mais vasta, não agarra só a
intelecção. Pega igualmente as sensações, as sensibilidades, tudo é mais ou
menos premeditado. Essa ideia da intencionalidade é tornar algo, alguém ou a si
mesmo radical. Ele é tão inteiramente premeditado que se não existe o
propositado, ele não é nada, é nada de conhecimento. O motivo do homem é o
Nada. O Nada não é nenhum enigma, é a separação do sujeito. O ser decididamente
desligado de tudo que o cerca e de tudo que possua conhecimento. A consciência
barra -nos identificar com as coisas. Eu estou desunida e essa divisão é
precisamente o Nada. O que dele se poderia verbalizar? Que ele é o que ele é,
mais nada. Ele é perfeito, completo, irrepreensível, infindo, nada pode
perturbá-lo, pois ele não possui a menor percepção de si mesmo; ele é, genuíno
e tão-somente. O amor é uma alucinação. Não é que não permaneça, mas não tem
segurança, tem que ser avassalado a cada instante. Diligenciar consagrar o
amor, institucionalizar o amor no casamento, na família, isso tudo é adulterado.
Só o ato de responsabilidade plena nesse instante é elementar em todo o
existencialismo de Sartre. Sartre não reconhecia nenhuma forma de determinismo.
Ele topava que o homem engendra esse determinismo para se amparar contra a
independência, porque é difícil ser independente. O que há é dever pleno. Não é
uma coisa casual, tem-se que reinventar o dever em função de cada feito
praticado
Nietzsche
harmonizou-se mais que ninguém ao asseverar que "nasceu póstumo" e
que seus documentos só seriam compreendidos dali a um cento de anos.
Por isso,
quando o escritor ironiza com a frase
o seu
epitáfio,
"sou
a quem é
legado
espontaneamente
aceitar
ou rejeitar
majestosamente
se a
representação
replica ao
sou de
quem sou,
a ninguém
mais...", e aqui fez-me recordar Nietzsche com a frase acima citada,
Um
excelente texto em que ironiza bastante com o ser….
Ana Júlia
Machado
***
O OUTRO
DO OUTRO☃️#
GRAÇA
FONTIS: PINTURA
Manoel
Ferreira: AFORISMO
***
Epígrafe:
Ser é
cerimoniar o "o outro do outro", prestar-lhe uma ode, um tributo, um
epitáfio..."(Manoel Ferreira Neto)
***
Contra-luz
de utopias e visões do nada,
- luz de
quimeras da liberdade -,
con-versar
ausências e faltas do
ser, onde
a linguagem, onde o estilo?
onde a
vontade de Arte?
algazarras
presentes e fortes do
mesmo,
trivialidades incomuns,
triviais
inéditos,
onde a
ousadia?, onde a audácia,
onde o
desejo da face no espelho do tempo?
elencar
de pretéritos as sombras, baldios,
quiçá o
gesto perene e esplendoroso do orgulho
ornamente,
ilustre as justificativas dos equívocos
enforme
as teias de tripúdios para esconder o "eu",
performe
os trambiques do pôquer de hipocrisias, farsas,
arrebique
os complexos, manias, vícios, mazelas,
contudo,
a imagem permanece re-fletindo o mesmo,
mudar de
pers-pectivas e ângulos o espelho
de nada
adianta, resolve, amenize, anestesie
Ermas as
idéias de outros portos,
de onde
con-templar a visão do crepúsculo do mar à distância,
por onde
palmilhar as pedras e calçadinhas da rua,
memorizando
sentimentos, emoções, vistas disso ou daquilo
que me
surpreendem, deixam-me em suspenso,
deixam-me
em clima de erupção,
na
madrugada, que é a concepção da manhã,
desde a
concepção, à meia-noite,
seis
horas para a gestação
e a luz,
num rádio
portátil ouvir canções leves, suaves, clássicos
românticos,
nostálgicos, melancólicos, saudosos,
tomando
numa taça de cristal Campari,
tempos
passam, o que explica a solidão amar a
ausência,
falha, falta do "eu?
o que
esclarece o silêncio amar os
sons que
ele emite?
Nada.
Porém,
tempo de despedida, aceno de mão categórico,
há outros
caminhos,
há outros
portais,
há outras
trilhas,
aos
sendeiros, os seus passos,
as suas
estradas,
aos
peregrinos, as suas areias, sóis,
aos
viandantes, os lemas, rituais...
Re-colher
e a-colher vozes que emitem palavras sonorizadas
de
verdades íntimas, sem intenções de explicação, justificativa,
sem
pejos, sem vergonhas, sem medo da imagem no espelho,
quiçá
isto fundamente
as
pre-fundas de insolências e irreverências,
prepotências
e polêmicas,
venha com
todas as regências e concordâncias
e
inscreva em mármore branco
o seu
epitáfio,
"sou
a quem é
doado
livremente
con-sentir
ou recusar
solenemente
se a
imagem
res-ponde ao
sou de
quem sou,
a ninguém
mais..."
***
Infelizmente,
afianço que o
ESPÍRITO
MALIGNO não me abandonou
instante
único, aquele para o suspiro profundo, dizendo que o
outro do
inferno é o inferno do outro, ria, ria, ria, amenizei as
chamas do
fogo na lareira, talvez uma dádiva da humildade,
e se fora
ela a rir destas palavras eivadas de tanto sarcasmo,
ironia,
cinismo, a escolha deste testemunho de mão acenando
confere
às intenções da eminentíssima "humildade",
referindo-se
ao
ridículo da frase, a humildade do outro é o outro da
humildade,
muito simples, perfeitamente legível e inteligível, é
que inda
não atinaram com a verdade de haver sendo, desde
tempos
imemoriais, sátira, galhofa neste dizer
"...
a humildade do outro é o outro da humildade...",
razão de
rir e gargalhar a
todos os
ermos re-versos e in-versos;
fica o
recado para muita
sensibilidade
e senso antes de algo
dizer no
tangente a estas
palavras,
cinismos, hipocrisias, ironias,
sarcasmos,
sátiras
residem
nelas trafulhas,
trambiques,
tramóias
de linguagem e
estilo,
para todos
e para ninguém...
Meigas
palavras, finas-e-meigas palavras, elaboradas na
ausência
perfeita, fria, lunar, brilho aos serafins e cristais...
quem é
toda luz,
toda
branca,
que dita
nalgum tempo
seria
auto-escárnio,
mas
continua sendo motivo de
orgulho e
superioridade.
Quem tem
auréola?
Quem a
tem
cuida
logo de re-parti-la.
E, se
pensa, melhor faz?
Oh,
não!... quê despautério sem princípios e origens!
Embaralhar
as cartas, mudar-lhes os lugares, sarapalhar-lhes
os
naipes, seriam estas as intenções a trazerem-me de um
repouso à
beira do nada, sentindo-lhe os perfumes a amainarem-me
os animus
e anima, efetivamente as exaustões...
safar-me
às críticas,
aos
tributos às arrogâncias,
às odes
às insolencias,
aos
epitáfios às lisonjas
Nada...
Nada de entre-erros, imprevista verdade,
nada de
verso, consciência profunda,
erudição
de princípios, quimeras,
o nada
preenchendo o tudo de nadices...
***
Irre...
Dir-se-ia, então, ser este "dis-curso-de-nada"
o
sendo-de-ouro,
assim
curvado
aos dogmas e preceitos, preconceitos e lemas,
à
ausência das cores diversas elaboradas na perfeita alvura,
mister
criar de novo,
re-inventar
as mais severas inscrições,
ensinamentos
e modelos mais finos de
a grande
flor brotar da água - nenúfar,
a faminta
inquietação, articulando o mundo
com seu
espelho mágico, com seu mistério,
o poeta
sempre hermético e complicado,
agrilhoado
aos museus dos séculos e milênios,
liberta-se
da jaula e seu quadrado,
ser
humilde a valentia,
há veludo
nos ursos,
há velos
nas ovelhas,
há pelos
nas cadelas,
a
despedida com seu rosto sério,
elo, uma
afeição surda, um passado,
perfume
nativo das coisas e seu arpejo...
A
discreta forma verde, entre formas
imagine
ser pensado pela erva que pensa,
imagine o
passarinho com sua donzela,
imagine o
espelho mágico com a sua imagem
refletida
oblíqua, obtusa,
unindo e
separando os crepúsculos,
à sua luz
consumam as bodas
e o mundo
em que se esvaem.
***
De um
fluir de essências
as fontes
em si mesmas eram nostálgicas
emanações
de infância e futuro,
poesia
antes da luz e depois dela,
onde o
amor se completa,
despojado
da cinza dos contatos.
****
Se,
nestas instâncias e estâncias de palavras e idéias,
desejando
de-monstrar o testemunho deste aceno,
cerimônia
do efêmero, enquanto dure,
em nada
se fundamenta, nada há que se lhe conceitue,
nada-de-cerimônia,
nada-de-adeus,
nunca se
pode avaliar a
omnipresença
do espírito
e de seu
zelo,
melodia
cantada, melodia falada...
jamais é
con-sentindo in-vestigar a
omnisciência
das letras apagadas,
ciências
ocultas,
E se inda
não fora
capaz de entender, compreender a intenção
era nada
dizer, não acenar a mão, não dizer adeus,
nem a
passagem lenta e comedida, com as suas paragens,
até
consumar-se o que é inevitável,
paixão
que canta no conjunto sinfônico da música,
realizar
através de uma des-concertante pluralidade de pretensões
e desejos
uma vontade, dirigir a um fim ainda desconhecido e,
de
repente,
a
corrente precipitar-se em toda a sua amplitude
nas
profundezas, com um prazer demoníaco nos abismos
e na
quebra das ondas...
***
Ah...
tudo que falo,
minto ou
bebo
e o mais
que se oculta no hímen do tempo,
nas
pregas do sono, guimbas de cigarro,
lâminas
de luz perpassando os pingos de chuva,
confissões
exaustas, canção balbuciada,
náusea
matinal
De onde
se sente com eficácia
certa
porção de silêncio, traças e poeira
que de
longe em longe se remove... e insiste
certo
olhar, mais sério, não ardente,
que pousa
nas coisas e elas com-preendem,
do calmo,
da floresta partida vieram o silêncio, traças e poeiras,
que
conciliei, reuni e aderi,
montes de
música, valsas e murmúrios
do medo
imemorial de deflagar a própria morte, morte falsa
Em hora
espessa
de sono a
poeira profusa salta,
sarcástica,
irredutível, ignóbeis resignações,
olhar
surpreso e temeroso a forma escura,
sentir o
lamento do vento cessa
Um piano,
ante o poético sentido da palavra,
e tudo
que deixam mudanças,
tudo que
é morte de piano e o faz enigmático
resta à
esperança na insônia o lugar de sombra
onde
impera o amanhecer
Sozinho
esquece-me ser
palavras
ditas antes com voz firme
estas
partes secretas no tempo,
pensamentos
maduramente pensados,
atos que
atrás de si deixaram situações,
estou
escuro, estou incolumemente noturno,
estou
vazio, minhas medidas partiram-se
e a
sombra do sofá-cama
não me
enche de súplicas, rogos e lamentos.
#RIO DE
JANEIRO, 03 DE MAIO DE 2020, 02;27 a.m.#
Comentários
Postar um comentário