#FINA TEIA DE SEDA: PALAVRAS, IMAGENS, INTELECTO👁🗨:# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA SATÍRICA
EPÍGRAFE:
#Fina teia
de seda... crepúsculo à luz do vir-a-ser de verbos que numinem o alvorecer do
Ser e da Liberdade.#(Manoel Ferreira Neto)
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Onde as
éresis do espírito - luzes incidem no eidos do tempo, águas re-fletem na
plen-itude a graça do brilho de moléculas, seguem solitárias os caminhos. Vou
desenhando as formas do infinito de minhas finas teias n´alma.
***
Não
quero, acima de quaisquer verdades, abaixo de quaisquer quimeras, desilusões
das esperanças e sonhos, incomodar, aborrecer, insatisfazer os deuses e os gênios
serviçais, empu-tecer doutores e cientistas, professores e comerciantes, mister
deixá-los em paz, saboreando seus habitats, rodeado de suas ninfas, degustando
delicioso assado de ovelha e bebendo bom vinho, e alegrar-me, satisfazer-me,
aprazerar-me com a suposição - não seria melhor dizer "insinuação"? -
de que a minha singular agilidade e perspicácia prática e teórica na
in-vestigação, avaliação, inter-pretação das utopias da consciência e liberdade
chegaram ao seu ponto culminante. Longos e inestimáveis anos levaram-me para
artificiar a METÁFORA DO ESTILO E DA LINGUAGEM.
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Também
não é intenção sine qua non imaginar que a sutileza de minha sabedoria seja tão
elevada, o que digo às minhas discípulas, vocês é que pensam nesta sabedoria
que habita em mim, longe inda de lá chegar, quando ao mesmo tempo, vapt-vupt,
ad-mira-me, surpreende-me tanto a esplendorosa harmonia, esplêndida sintonia
que surgem aquando toco o instrumento de meus idílios e devaneios, uma harmonia
tão estilosa, uma sincronia tão melodiosa que mal ouso atribuí-la a mim mesmo,
fora a habilidade dos dedos com as cordas e notas da subjetividade e
sensibilidade; aqui e ali, lá e acolá, frente aos instantes-limites, ao lado
dos absurdos e paradoxos circunstanciais, alguém toca comigo, acredito seja
algum "ser do espaço" a inspirar-me a balada dos sonhos e verbos que
me habitam os interstícios da alma, é o meu preferido acaso, sem ele tudo seria
mera fantasia; eventualmente conduz a minha mão - com que acuidade!, com que
ternura e finesse! -, surge-me estar ele ensinando-me a desenhar os sons, como
se artificia as letras na palavra sendo registrada, a lírica dos ritmos, e a
mais percuciente, erudita, sábia providência não poderia imaginar e conceber,
gerar e dar a luz à mais sonora e bela, à balada mais suave aos ouvidos do que
esta a mim doada livremente tocar com a minha mão insensata, insolente, rebelde
e irreverente.
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Talvez
resida no mais inconsciente - este é criativo e possui a sua lógica, da
desordem vai tecendo uma ordem surpreendente -, indizível, invisível e inaudito
de mim, algo do eminente Demóstenes: a implacável seriedade e sinceridade com
que dirijo a minha missão, não apenas para superar-me a mim próprio, mas
estabelecer virtudes e valores, e a força do golpe com o qual a cada passo e
traço, a cada vez me aproprio dela; envolvo-a em minhas mãos e, ao mesmo tempo,
apreendo-a como se fosse de bronze; minha arte adquiri-a nas situações e
vivências, numa entrega sobrenatural, além de todas as capacidades, de todos os
dons e talentos, dores, angústias e náuseas, minha arte age como natureza
restaurada, reencontrada, não traz nada de discurso demonstrativo,
exemplificativo como todos os baladeiros, seresteiros, boêmios naquela
temperatura de eloquência que a língua sente o sabor do ser e do nada, do tempo
e do vazio, dos ventos e das esperanças, que oportunamente jogavam com a arte a
fim de dar mostras de maestria, ser não é mostrar-se e mostrar-se não é ser.
Jamais poderei avaliar o rigor e a uniformidade da vontade, do desejo, a superação
que me fora necessária ao longo de minha formação, educação, tempos
inestimáveis, lembrando-me do que os sábios antigos diziam: "Habent sua
falta libelli", os livros possuem seu destino misterioso, o escritor, suas
sendas e veredas a trilhar, a compor os seus caminhos de luz nas trevas, para
poder, alfim, na maturidade, preâmbulo do crepúsculo, com alegre liberdade,
fazer o necessário em cada instante da criação. Minhalma ardente dessa arte
sempre ansiou vaguear sem freios na liberdade, na natureza selvagem, na
meiguice insolente do inferno, ser o "Tentáculo que parcas ocasiões
cedeu/O punhado que numerosas vezes/O bocal que não se emudeceu.", assim
me dissera uma de minhas discípulas, num jantar à beira-mar em Niterói, estava
passeando aqui nas terras brasileiras, de origem lusitana.
***
Fina teia
de seda, imagens conciliadas às contingências do finito e as esperanças
trans-cendentes do Infinito, do Verbo de Ser.
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Dentro em
breve retornarei a casa, tomarei uma xícara de Capuccino, quentinho, sentir-lhe
o sabor, à mesa da sala de jantar, lembrando-me de que saí para perambular na
praia sem quaisquer intenções, apenas divagar com a companheira do amor, das
coisas do mundo, das esperanças e sonhos. No momento, desejo viver com o mínimo
de dispêndio, economizar os gestos, as palavras, os pensamentos, simplesmente
boiar.
***
Con-templ-orando
divos verbos, in-finit-ivando esperanças do há-de vir que re-velem de
horizontes o espírito da alma, o ser de desejos, alvorece a fé que se esplende
pelos vales, abismos, essência-eidos da vida... Silêncio... Solidão... Luz de
estrelas, marulhar doce das águas, melodia constante do vento, onde os
paráclitos da felicidade - na lareira as chamas ardentes aquecem os volos da
alma, pensamentos longínquos, nas asas da águia a perspectivar o infinito, o
tempo já não mais existe.
***
Sinto que
os segundos me fogem por entre os dedos. Respiro a plenos pulmões, porque o ar
do mar revigora, a maresia aguça as intuições dos mistérios e enigmas: apenas a
respiração regular, profunda, como a de quem dorme, sente a presença do
companheiro no toque dos corpos, sente amparado, em segurança, pode sonhar à
vontade, confirma que estou vivo, e que inicializo a compor um sonho de longos
anos, a metáfora da linguagem e do estilo.
***
Tudo na
vida são sentimentos, emoções, pers da sensibilidade, retros da subjetividade.
Olhos de águias, linces do porvir, límpida, cristalina visão do pleno,
peren-itude do ser que, na continuidade das buscas das éresis da estética e do
amor à beleza, dimensão espiritual única que trans-eleva a contingência aos
auspícios da luz que ressurrecta o espírito do absoluto, refaz-lhe,
re-nova-lhe, re-cria-lhe, re-inventa-lhe, não sendo apenas a senda de
aproximação, mas veredas da vivência.
***
Fina teia
de seda... crepúsculo à luz do vir-a-ser de verbos que numinem o alvorecer do
Ser e da Liberdade.
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Quê lindo
olhar de dentro a vida do espírito, sentir-lhe nos seus interstícios, nos seus
âmagos plenos, carícias, toques. Gostoso o amor de dentro visualizando o éden
das primícias dos jardins, cujas flores exalam o perfume do eterno
pré-figurado, pós-figurado de sinestesias do belo, da estesia.
***
Mais
lindo ainda quando a visão é plena, visualizo a manhã alvorecendo, um
passarinho pousado na amurada, saudando a manhã, os raios de sol, o brilho do
dia, os rostos das pessoas no trânsito das alamedas, ruas, avenidas, o bêbado
deitado na calça dormindo, o mendigo na porta da igreja com o seu pratinho
esperando a esmola que lhe garantirá o pão e o café, um marmitex no botequim,
olhar-me no espelho, saber se estou bonito, se estou feio, se os cabelos estão
embranquecendo. Visão de dentro, visão de fora. Absoluto do olhar. Quem sente,
em verdade, estes olhos, sente profundo a vida, o olhar no ser de olhar.
***
O mar
agora está cor de ardósia, sobe lentamente. Esta noite atingirá a maré
cheia(assim o diz a meteorologia). "Insisto em abstrair, sorver o húmus da
noite
Noites
insones, sonhos dispersos
De
sorrisos passageiros
...
Jogar-me as perscrutacões... porquê?
Do lá
além das montanhas
Prados e
vales com densa vegetação
Os
delírios poéticos são mais iluminados", assim disse-mo outra discípula na
praia de Iguaba Grande, tomando uma caipirinha e comendo um torresmo delicioso.
***
Olhar a
vida na sua éresis da beleza, da natureza, das montanhas, a vida enfim. O
resultado é o sentimento de elevação, de crescimento interior. As palavras, as
imagens, o intelecto e o mundo entrelaçados, a terra e o conhecimento de mãos
dadas, a Existência e o Mundo em sintonia, embora as suas situações e
circunstâncias, apesar das dialécticas e nonsenses, contradições e hipocrisias,
e os sons da vida na continuidade de suas aspirações e desejos da Koinonia do
Existir e da Arte, aquelas lembrancinhas e recordações das noites de circo, rindo,
gargalhando, de onde recolhi os risos, gargalhadas, lá inocentes, aqui, ácidos
críticos, contudo a gargalhada continua... "Até para falar de mim",
como Frejat, o gênio do sentimento e das indagações da vida e d´alma, canta,
sentir-me à vontade...
***
Fina teia
de seda...
#RIO DE
JANEIRO, 02 DE MAIO DE 2020, 09:26 a.m.#
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