AFORISMO DO SONHO GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA AFORÍSTICA ***
Quando
sonho com a água não sei com que água sonho. Sei que sonho. É de ouro e de riso
que ela se veste... É DE OLHAR EFUSIVO E DIAMANTE QUE ELA SE RE-VESTE.
***
No meu
jardim havia flores de todas as belezas... Rosas de contornos enrolados, lírios
de um branco amarelecendo-se, papoulas que seriam ocultas, se o seu rubro não
lhes não espreitasse presença, violetas poucas na margem tufada dos canteiros
miosótis mínimos, camélias estéreis de perfume... E, pasmados por cima de ervas
altas, olhos, os girassóis isolados fitavam-me grandemente. À janela de meu
quintal, havia pés de jabuticaba, abacate, de café, de figo, mamão, de um lado,
do outro, mangabeiras, pitanga, taioba, abacaxi, e o que mais apreciava
observar com olhos tergi-versados, a goiabeira, as goiabas não caíam demais,
pois que não lhes consentia mais delonga, amareliçadas, tempo de ser
degustadas... residia numa floresta, numa casa no centro da cidade, num bosque.
Era imensa a área, no centro a casa, estilo tradicional, onze cômodos
interiores, duas varandas. Houve quem me visitasse pela vez primeva,
dizendo-me: "Esclareça-me, por gentileza!... Tem certeza de que sua
residência localiza-se no centro da cidade? Parece mais que você mora numa
floresta..."
***
Quando
sonho com as etern-itudes in-versas do sonho, sei que é sonho dentro de outro
sonho. É de efêmeros e de nada que eles alçam voo. É de vazios e abismos que
eles sibilam mensagens e segredos da inconsciência.
***
Série de
sonhos, busca de esperanças, querências do ser, abismos de silêncio, grutas de
solidão, quiçá os horizontes de além entre-lacem as estrelas cintilantes,
brilho da lua, re-vel-ando o esplendor estético das éresis do tempo, quiça os
uni-versos do vazio des-velem os mistérios inauditos da alma, enigmas
indevassáveis do não-ser, éter do nada, éter de nonadas, travessias, passagens,
ocasos de luzes res-plandecendo o crepúsculo, de raios numinando o anoitecer,
anoitecer de idílios, anoitecer de esperanças, anoitecer de perquirições -
"onde a resposta?", precedendo "que resposta há?", nada
isto pode importar ou despertar curiosidade -, pretéritos subjuntivos acendendo
na lareira de defectivos gerúndios a memória do genesis, ascedendo nas asas do
vento particípios e genitivos dos lapsos de memória, olvidamento das indagações
almáticas das moléstias psíquicas.
***
Quando
sonho com os verbos, regencio os seus tempos e concordo as contingências
quotidianas, as acepções outras que adquirem, as gerências nominais de in-verso
e re-verso, há-de sensibilizarem os prazeres trancafiados a sete chaves, onde a
cor-agem de identificá-los, a sede e saber e desvelar os pretéritos
inesquecíveis? Gerencio em mim e fora de mim os espectros itinerantes, colhendo
as flores que rezam alguns senhores, contemplando espaços, sítios, lugares
outros, as diferenças de sentimentos e emoções, de pensamentos, e efetivamente
o pensamento pensa pensar aléias além porteiras, cancelas e fronteira e pensa
pensando o pensamento de pensar a ausência, o lapso branco das condutas e
posturas a virem, apresentarem-se nas situações e circunstâncias.
***
Quiçá os
versos sejam ininteligíveis, nada apresentem de significações, letras escritas
a esmo, enfim a inspiração refestela-se na rede da varanda na tranquilidade,
serenidade, suavidade da noite; plenifiquem-se de estrelas, boêmios seresteiros
deixaram a viola no canto do quarto, encostada à parede, são andarilhos do
tempo-nada, são sendeiros do tempo-vazio, são vagabundos do tempo-melancolia,
são peregrinos do tempo-deserto, do tempo-silêncio, arrabisco palavritas na
página sem linhas, sentado à poltrona, sou o vazio-de nada, e hei-de preencher
o nada do vazio de ser, e isto são devaneios e desvairos da alma sedenta de
outras ondas e marés...
***
O meu
sonho de viver ia adiante de mim, alado, e eu tinha para ele um sorriso igual e
alheio, combinado nas almas sem me olhar. A minha vida era toda a vida... O meu
amor era o perfume do amor... Vivia horas impossíveis, cheias de ser eu... E
isto porque sabia, com toda a carne da minha carne, que não era uma
realidade..., quisesse reconhecer-lhe alguma virtude plausível de ser
con-sentida, diria era uma quimera, alfim o sêmen da quimera dera origem ao
saber, ao conhecimento, idéias e ideais sensibilizaram as querenças do Ser e da
Liberdade.
****
Quando
sonho passos comedidos na orla marítima, observando o amareliçado da luz solar,
não perquiro ou intento investigar o que lhe habita os recônditos do
inconsciente, não avalio a introspecção e circunspecção do momento, o mundo
gira à beira-mar, conquistas e experiências se fazem na orla e no bosque dos
gritos e uivos de res-postas à liberdade das origens, con-sentir assimilar
outros horizontes e universos da existência, nada importaria, pois que sinto a liberdade
de desenvolver passos comedidos, se prefiro a orla marítima, o crepúsculo
identifica as trilhas palmilhadas, o que o presente hoje traz em sua algibeira
e alforje senão a presença do longínquo que só as águas do mar podem trazer à
praia, esparramar nas areias, as ondas... E me vejo perder na distância da
orla...
***
Palavras
retrógradas configurando metáforas, zagaias de outrora, zagaias do inolvidável,
zagaias do preterizado, zagaias do de-composto, sombras presentes em todos os
cantos e recantos - sentidos do nada que me perpassam o âmago recôndito, pleno
interstício do ser, abóboda do perene símbolo do que efemeriza as esperanças do
sonho no sono noctívago das angústias, tristezas.
***
Quando
sonho com os verbos do sono, infinitivo ou gerúndio as orações ad-verbiais, as
ad-verbiais causais não me passam na garganta, sei que no sonho deste dia senti
presente e forte a cor-agem de construir o imperfeito perfeito, aplicar-lhe o
veneno da serpente, as res e ins do verso, com toda categoria e empáfia, alfim
começar é imprescindível, dele depende o verbo-de ser, devaneios, desvarios...
mister e sine qua non, ipsis litteris e verbis o verso primevo que origina o
tempo, o agora da alma no de-curso e per-curso da vida, e ele delinear os
passos e traços da jornada sem limites do Verbo-de Ser Liberdade, e isto custe
a trajetória da existência até o instante derradeiro, contudo passos e traços
foram deixados.
***
A chuva
cessaria, passadas algumas horas ou mesmo poucos dias, o sol voltaria, seus
raios secariam as plantas, as rosas murchariam, cairiam suas pétalas secas.
***
Quando de
sonhado nada me lembra, embora saber o ser humano sonha continuamente, há
sonhos de que não se lembra por alguma razão ou jogos da inconsciência não são
verbalizados, nada sonhei as origens longínquas esvoaçam, as ondas marítimas
veem-me a-nunciar o mundo, veem-me começar a existência, sinas e sagas
evolaram-se, houve de ser imprescindível o começo do mundo no crepúsculo,
alguma coisa que começa e não houve tempo de terminar, assim é o eterno sob a
imagem de meu pincenez, visto a lince de perquirição e surpresa, neste re-verso
e in-verso de nada lembrar sonhado, quero o vento que espalha as palavras, o
som musical que as faz dançar. O que sei de nada haver sonhado, o mundo é
exatamente o que o coração pede.
***
Nada
dizem estes versos, nada expressam estas estrofes, nada significa este poema, o
nada de um poema é o não-ser da poesia, poema são estesias da poesia, poema são
êxtases da poiética do ser do espírito que sonha a contingência
do
vir-a-ser, a melancolia do efêmero, poema são clímaces das dores, sofrimentos
ec-sistenciais à luz da tristeza do ser que sobrevoa a floresta das memórias
pretéritas do caos, na dialética do efêmero, habita solene o absoluto vazio do
não-ser, na dialética do eterno habita pomposo e insolente o divino sentimento
dos horizontes des-vencilhados, des-cartados, des-velados no deserto do
silêncio, no mar sombrio da solidão habita o espírito da felicidade re-versa às
trans-cendências da morte, à alma in-versa às contingências do ser-sublime,
a-nunciação, re-des-velação do ec-sistir.
***
Com
poesia, Vertente são águas, seguindo a trajetória da vida em busca do Amor e da
Verdade; com poesia, vertente é fonte de emoções serenas, sensibilizando casais
enamorados da orla, inspirando cônjuges nos arrabiscos de obras futuras,
agendas abertas; com poesia, vertente sacia o amor de verbos, sonhando a
plen-itude do espírito; com poesia, vertente são mãos tecendo a beleza do
verso, engendrando estrofes no soneto do Eterno; com poesia Vertente são almas
comungadas, o instante íntimo do prazer e do êxtase no sonho do verbo, no sonho
da liberdade, no sonho do eterno, é produzi-la, criá-la, re-criá-la,
inventá-la, sentir disperso, anterior a fronteiras, cancelas, porteiras, a
entrega in totum do "nós"; com poesia, Vertente é...
***
Quando
sonho a Vertente do sonho, sei a vertente de meus idílios e devaneios, conheço
vertentes de meus projectos e razões, sei a vertente de minha consciência...
#RIO DE
JANEIRO(RJ), 29 DE MAIO DE 2020, 23:16 p.m.#
Comentários
Postar um comentário