NASCE UM SILÊNCIO SEM ÓPERAS# GRAÇA FONTIS: PINTURA/ARTE ILUSTRATIVA Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Letras
velhas, sons milenares, e as migalhas de pão seco, por caírem todas juntas no
solo, antes que as pudesse segurar por um minuto mais, cairiam nas águas,
fazendo o barulho que não consigo expressar em palavras, mesmo recorrendo a
todas as intuições de poemas; ouço o cair de todas juntas no chão, disse antes
“solo”, e isto não tem qualquer importância, imaginariamente que seja,
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quando
os pingos de lágrimas
enegrecem
os caminhos de pedras,
enternecem
a
areia
da praia...
e
onde a velhice que vem para mostrar
as
energias não serão as mesmas?
e
onde a velhice de letras
a
tornar-me palavras
eivadas,
sentidos inestimáveis?
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por
vezes, o sinônimo de um vernáculo constitui ênfase a enaltecer as idéias do
re-verso,
quando
o lenço já in totum molhado
denigre
a terra íngreme, árida,
seduz
a volúpia da
beira
de um rio, pós alguns mergulhos,
deitado
na areia,
o
crepúsculo é convite de sentimentos eivados
das
vivências, experiências...
bolina
o retrato da tristeza
para
não dizer a dor intensa,
o
quanto pena e sofre,
sabe-o
com distinção.
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Seria
isto, em verdade, o que estou buscando expressar desde a eternidade e até este
minuto em que me vieram à mente idéias e sentimentos por os ter intuído,
percebido, sentido? (Fundamental para a compreensão o que é este mero vínculo
de sentimentos que me afloram espontaneamente, por mais incrível que possa
parecer, e todos os argumentos nada mais têm a dizer senão que é a verdade,
incrível que, se me revelam o único mistério, este que sei lá o que é, rio-lhe
nas faces, perguntando se é o único, que outro então lhe legaria este poder, de
ser o único...), cheguei à firme convicção de que a vaidade é a base de tudo, e
de que finalmente o que chamamos de #CONSCIÊNCIA# é apenas a #VAIDADE
INTERIOR#. Sossego do profundo sono, a anestesia, é para os doentes o bem
supremo, o valor por excelência, o mais positivo. Hodiernamente, a Vaidade
Interior é a estética-ética das utopias, sonhos e verbos.
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Os
poetas dizem as estrelas brilham para velar o ossuário da terra... Digo, quem
sabe até plagiando, encontrando outras palavras que conservem a idéia, o mero
vínculo de sentimentos, dado ao sossego das folhas de árvore qualquer nas
serras, brilha ao sol de minhas alegrias, embora um pouco contidas, por
esperarem outras noites que virão, envolvendo-me como a visão nítida de letras
quaisquer numa folha de papel molhado, que fosse misteriosamente minha. O
estilo está sob as palavras como no interior delas. É igualmente a alma e a
carne de uma obra.
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Neste
instante de mero vínculo de sentimentos com as coisas, sinto necessidade de
poder tirar das coisas uma espécie de proveito próprio, e repelir como inútil
tudo aquilo que não contribuísse para a alegria imediata do coração, alegria
sensaborona, porque tenho um temperamento mais sentimental que artístico,
procurando emoções e não paisagens, prazeres e não panoramas, ademais a
cardiopatia que influencia nos comportamentos, cerceio o extremo das emoções,
causar-me-ia o fenecimento.
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Não
desejo versos no céu. Seria esquisito ler palavras nas alturas, dentro de
formas diversas, escritas a gosto e estilo dos poetas, de rimas ou não. Diriam
até que a árvore das letras estava dando às pencas palavra. Com certeza, não
levantaria mais os olhos à noite, fora de casa, não me seria possível ler uma
palavra sequer. Ademais, sentir-me-ia perdido e confuso com a ausência das
estrelas todas, a lua a iluminarem os cantos inúmeros do mundo, a velarem o
ossuário da terra. Das estrelas sabemos com certeza que tem cinco pontas, e
seria possível contar a quantidade de metáforas num único verso?
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Não
sigo à risca o silêncio que faz gritar as não-palavras da perdida sensatez, da
vaidosa dignidade, da pernóstica honradez. Não sigo à risca, para explicar a
dosagem conveniente, o desejo do sentimento de embaraçar os entremeios de uma
ilusão, quimera, o mero vínculo de sentimentos. Medidas faltam para encontrar
os extremos.Tenho procurado por mim, sem ousadia alguma em tecer quimeras, em
ignorar que só saberei do dominó que vesti, noutros tempos diferentes a este em
que me encontro agora, ouvindo o riso do vento diante de mim.
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Gênio,
nem pensar... Feliz demais para sê-lo. Nem é preciso que a História
“capracheie” o registro de mim. Não julgo palavras inúteis estas que estou a
falar comigo, enquanto sentado a uma mesa de barzinho, tomando uma cerveja e
uma “branquinha” num restaurante beira-mar, Praia do Popeye, Iguaba Grande, e
todos dizem que insano fiquei, estas seriam o destino que os céus escolheram
para mim, não houve como me furtar a esta triste condição. Não julgo inúteis
nem as que digo nem as que me inspiraram o espelho e o raio de luz incidindo
nele.
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Escuto
o riso da ampulheta, diante do tempo – o vento invade-me a voz que é sonho,
desejo da mente que é imensidão. O espelho procura por mim, buscando aprimorar
sem ousadia a imagem de mim – desço pela janela do que se tornou inevitável,
como a taça que se estiola no chão e eu não quero ajuntar os pedaços, do que se
tornou inefável, como a pluma esvoaça incentivada pelo vento, livre. Não posso
me escusar do que fiz de mim, noutros tempos a lucidez que preparava a
consciência.
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Conjugo
no tempo o verbo no infinito da primeira pessoa, no in-finitivo das outras
pessoas desde o "tu" segunda pessoa do singular ao "eles",
terceira pessoa do plural. O espelho mostra o contorno de saudades, o bocejo de
ansiedades que fizeram o retrato da noite. Driblo o tremor que avassala o sono
engomado.
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Qual
a licitude dessas palavras? – não disse antes que eram letras velhas. Eu no
amor que carrega o vento, na alegria que brinca de esconde-esconde no céu que
mesmo perto fica tão longe... Eu subalterno do meu eu, às vezes inteligível,
por vezes incompreensível. Sou também cobiça que busca inquietação no desajuste
entre a metafísica que não angustia, apesar da dor, e cada sorriso matinal. O
encanto da novidade, este é a utopia dos sonhos, caindo pouco a pouco com uma
peça de roupa, punha a nu a eterna monotonia da paixão, que tem sempre as mesmas
formas e a mesma linguagem.
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Qualquer
mero vínculo de sentimentos
é
pedaço do vazio que o tempo
sela
na eternidade,
inebriando
um ponto vivo diante da imensidão,
des-cobrindo
que o efêmero
é
também do eterno,
des-velando-lhe
o mistério
que
é a luz da verdade,
excepto
as quimeras e devaneios,
a
canção da glória.
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Sentimentos
puros que não embaraçam a marcha da vida, que se conservam porque são raros,
cuja perda ocasionaria dor maior que o regojizo da posse. Tudo será intervalo
necessário a menos que os relógios interrompam os segundos acocorados no tempo,
ignorados em sonhos, pasmados dos risos incondicionais que nas esculturas
choram o amor eximido de enxergar a felicidade ingênua.
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É
a montagem da vida no papel que consome o verbo, ficando sempre a incógnita da
intuição que vai completar a presença imponente que faz as voltas do tempo. No
outono, antes de primavera outra, o olhar não intimidava nem retorcia no tempo
conjugado do verbo, preenchendo o vazio das respostas às perguntas que
perpassam o espelhar os projetos superpostos na indagação; no verão, antes de
outonos outros, o sentir seduz e entrega na passagem dos segundos do verso,
tentando conquistar a liberdade do nada,
a
sabedoria e o saber da continuidade do tempo, as suas faces e caras.
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Verbalizo
a verdade por traduzir presença.
O
rumor do silêncio
começara
a invadir
o
limitado ínterim
do
tiquetaque.
Estava
ocupando os espaços
intercalados
entre
o
tique e o taque.
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Nasce
um silêncio sem ópera, preenchendo, dominando, ocupando o espaço que é por
direito do rumor dos desejos e vontades atravancados no peito. Não adianta
tapar os ouvidos. São os pingos da tempestade que caem nas telhas.
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Qual
seria a infelicidade para quem julga compreender estas palavras velhas,
auferir-lhes os sabores da virtude e valores? Não sei. Algumas pessoas se
afogam em rios de águas brancas?
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Estou
tentando chegar à superfície de mergulho intenso.
#riodejaneiro,
30 de janeiro de 2020#
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