#SERPENTE DO CONHECIMENTO# - Graça Fontis: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
A dilação por prazo ilimitado, indeterminado ocasiona, con-duz para o
acusado certos infortúnios inconcebíveis cuja importância não pode ser
negligenciada. Não é intenção falar da questão de jamais se encontrar livre, já
que, para falar com propriedade, também não o seria com a absolvição aparente.
Mister pensar com acuidade, esmero, deixando a mente livre de quaisquer
pensamentos a priori.
Trata-se de outra cosita bem diferente. A diferença faz a diferença. A
instrução não pode ser suspensa sem que haja ao menos motivo, razão aparente.
Assim, em nível eminentemente teórico, deve seguir, prosseguir. E, de tempos em
tempos, medidas são necessárias, organizar interrogatórios, ordenar
perquirições, elencar in-vestigações. Apenas com uma palavra: é preciso que o
processo não pare de girar, qual catavento no alto da colina, no pequeno
círculo a que, inda que de modo artificial, se limitou a sua ação. Para o
acusado - ele é a nossa personagem convidada - isto, queira ou não, comporta
incômodos agônicos, que, todavia, também não se deve levar ao paradoxo, ao
exagero. Fica tudo na aparência; os interrogatórios, se se pensar com os botões
da casaca, são em demasia curtos; se não se tem tempo ou disposição, vontade de
comparecer, há como se desculpar algumas vezes, apresentando as devidas
justificativas.
Aí vem os juízes, como não poderia deixar de faltar. Acusado e juízes
andam de braços dados, até que a absolvição ou condenação os separe. Com certos
juízes, tomando em conta ser ele flexível, estar de bom humor, pode-se até
combinar com antecipação o emprego do tempo por um longo período; no fundo,
trata-se apenas de se apresentar de quando em vez ao magistrado, para cumprir o
dever de acusado.
Neste ponto, não há como refutar o pensamento dominante e a alma sagaz,
o sol de ouro e a serpente do conhecimento.
(**RIO DE JANEIRO**, 14 DE ABRIL DE 2017)☪️
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