#SEDUÇÃO LÚDICA DE RAIOS E BRILHOS# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
A partir de hoje cessam o curso das estrelas, do sol, do canto do galo,
do trinar dos pássaros, ladrar dos cães, do evoluir das sombras, toda a
natureza silenciar-se-á para mim diante dos traques-traques das achas de lenha
que se queimam, tornam-se cinzas à mercê das chamas de fogo. Cessam o vozerio
das virtudes, valores, princípios, a algazarra do poder e das importâncias, #a
arte instrui-se na quietude#, tudo o que é profundo deve subir - à sua altura.
E uma pergunta que se não quer calar presente em mim: "Quando é que alguma
vez se conseguiu liquidar a natureza na imagem?"
A minha ínfima parcela do mundo é infinita! In-finitas as metafísicas do
belo e da beleza, da imagem que os brilhos da lua pintaram, desenharam na
superfície das águas que correm ao longo do rio. In-finitas as metafísicas do
vento que sopra a poeira das estradas e ela invisibiliza a visão adiante.
In-finitas as metafísicas do pastor que pastoreia as ovelhas no crepúsculo,
con-templando furtivamente o panorama do vale que se estende a perder de vista.
In-finitas as metafísicas dos raios numinosos do sol que rompem os espaços das
árvores e performam de cores os espaços florestais, e os animais, répteis
movimentam-se, a onça descansa tranquila na sombra de um arbusto após degustar
a carne de sua presa, a cascavel ritma o seu chocalho, os cisnes banham-se nas
águas da lagoa, o lobo uiva no pico da colina. In-finitas as metafísicas do
encontro da lua com o sol, a sedução lúdica de raios e brilhos, o convite do
sol para a lua visitar o lugar sereno atrás dele, piquenique na margem do rio
do cócito. In-finitas as metafísicas do in-finito comungando universos e
horizontes no seu seio pleno de in-finitivos verbos do pleno.
Plen-itudes silvestres per-vagando oníricos rios sem margens, às
sorrelfas do tempo no per-curso sereno das águas, desde a fonte imaginária de
límpidas e voluptuosas imagens na superfície artificiadas pelo brilho místico e
mítico da lua, em que as perspectivas das nuvens brancas e cinéreas re-fletem a
solidão dos astros, por instantes fugazes o vento sarapalha gotículas das
águas, e as imagens se performam desfaceladas... As águas não deveriam levar
estas imagens consigo ao longo da jornada percorrendo os espaços? Mas não. Não
seria que passassem de por baixo delas, deixando-as no lugar onde foram
desenhadas pelo brilho místico e mítico da lua?
Plen-itudes silvestres... Plen-itudes silvestres... Sendas e veredas
sarapalhadas...
(**RIO DE JANEIRO**, 24 DE ABRIL DE 2017)✍️
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