**NALGUMA REENCARNAÇÃO O HOMEM POSSA RETORNAR ASNO**- GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: SÁTIRA
Não pude deixar à humanidade o solene pensamento e idéia trago dentro em
mim, instintos e outras dimensões os homens ainda estão muito longe de
descobrir, quem sabe uns cinqüenta mil anos, tomando em consideração a
mentalidade que vivemos no presente, frente às situações e circunstâncias da
vida, da existência, em todos os níveis que se possa imaginar... Não pude, com
efeito.
Não acredito que nalguma encarnação o homem possa retornar asno,
vice-versa. Quem teria a ousadia de discutir com alguém num encontro de
personalidades da vida intelectual sobre a encarnação de asno? Ninguém até hoje
não tratou da questão. Por que? Como tratar de algo que não existe nem na
imaginação dos cientistas loucos. Mas os instintos são os testemunhos de tempos
idos e não retornados, mas que na cauda e nas orelhas trazemos sempre a
sensação de vento sombrio e efêmero habita a alma, o que é isto, Meu Deus!...
Disse-o espontaneamente, tão logo se revelou nos instintos, relinchei a fim de
sentir o gosto de prazer e felicidade com algo que jamais poderia entender,
poderia gastar o resto de minha vida neste mundo para compreender isto de “os
instintos são os testemunhos de tempos idos e não retornados, mas que na cauda
e nas orelhas trazemos sempre a sensação de vento sombrio e efêmero habita a
alma...”. Não entendi bulhufas.
Quem há de negar não ser despropósito chinfrim, quem sabe até não esteja
deprimido e não esteja consciente, pois desde que me senti pensando, e por
longas primaveras fui buscando adquirir conhecimentos profundos sobre os
instintos ásnicos dos equus asinus, dos homens, a sociedade em que vivem –
embora eu não concorde em absoluto com isto de chamar sociedade a porão,
subterrâneo, galpão cheio de gente -, venho percebendo e me conscientizando da
inutilidade de tudo isto, pois que ninguém há que possa mergulhar nos meus
instintos, conhecendo com percuciência o que sou, o que os pensamentos, idéias,
intuições, percepções, consciência, inconsciência, etc., etc., significam de
valores para a humanidade refletir nos caminhos do campo. Isto é inútil;
pensar, pensar, para que serviu? Não pude deixar escrito. Mesmo que deixasse,
seria objeto de investigação continua, entram e saem milênios. Teria eu certa
pressa em conhecer a polêmica ardente e picante que abro com a raça humana.
Pude escoicear em seqüência todas as respostas, deixando outras interrogações
mais percucientes.
Contudo, os humanos têm suas razões específicas para assim a conceituar.
Bem, refiro-me a haver chegado a hora de reflexão – os humanos normalmente
refletem sobre os mistérios da vida e da morte, quando chegam na segunda metade
dos cinqüenta, assim ouvira muitos dizerem, mas creio que isto depende muito de
cada um. Não suponho que tenha havido horas irrefletidas, estou persuadido de
que sim. Pensava? Pensava, mas e daí? Tinha de puxar a carroça ruas acima e
abaixo, era a minha função. Corri dos pensamentos, imaginei que pudessem ficar
para trás, mas chegara o instante da reflexão. Tanto melhor. Já tinha
requisitos para uma investigação rigorosa.
Quem em sã consciência irá dizer que em suas investigações rigorosas e
sistemáticas está convicto de que a problemática que me habita neste choque
ásnico entre a razão e o instinto se fundamenta no profundo amor que tenho pela
vida, essa sede de conhecê-la intimamente, sabendo que irei morrer!? O que
chamo de pensar não passa de evasiva para esconder esta insatisfação e tristeza
por ser irremediável a morte. Se pudesse retornar, gostaria de estar nascendo
agora... A mensagem destas asnices de Incitatus é a reflexão autêntica dos
mistérios da vida e morte, tudo fundamentando nas experiências, dores,
sofrimentos, felicidades, prazeres... Ninguém iria dizer tamanha idiotice,
seria tachado de louco ou encarnou sutilmente a minha personalidade, caráter.
De qualquer modo, a loucura.
(**RIO DE JANEIRO**, 19 DE ABRIL DE 2017)
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